António Cotrim / Lusa

O ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho
Apesar dos apelos internos à sua demissão, a imagem de João Gomes Cravinho no exterior continua de vento em popa.
As polémicas sobre o envolvimento do João Gomes Cravinho no caso da Operação Tempestade Perfeita, que se foca em suspeitas de corrupção e irregularid0ades financeiras durante a sua chefia do Ministério da Defesa, têm deixado o Ministro dos Negócios Estrangeiros sob fogo.
O diretor de serviços de gestão financeira da Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional Paulo Branco, que é um dos arguidos da operação, acusou Cravinho de estar implicado na contratação suspeita dos serviços de assessoria de Marco Capitão Ferreira, que ganhou 50 mil euros por cinco dias de trabalho. Capitão Ferreira tornou-se mais tarde Secretário de Estado da Defesa, mas demitiu-se recentemente após ter também sido constituído arguido no âmbito da investigação.
Cravinho repudiou “de forma veemente e inequívoca” as alegações de que estava envolvido no esquema, mas isso não travou a onda de críticas, com a oposição a exigir a sua demissão.
No entanto, lá fora, o Ministro dos Negócios Estrangeiros continua com a ficha limpa. “É uma das pastas mais importantes do Governo, é a ponte fundamental que se estabelece entre Portugal e o exterior. No plano das relações internacionais, é fundamental que haja um Ministério dos Negócios Estrangeiros que seja forte, que tenha uma imagem de credibilidade“, explica ao DN a investigadora de ciência política Paula do Espírito Santo.
A posição do Ministro “está comprometida, na medida em que há uma suspeição que o envolve num plano indireto, pelo menos em termos de responsabilidade política e que acaba por fragilizar a sua situação”, refere a perita.
Enquanto o debate político continua, Francisco Seixas da Costa, antigo embaixador na ONU, argumenta que a imagem internacional de Cravinho não parece estar em risco.
“É uma pessoa que tem um estatuto no plano internacional estabilizado há muitos anos. Desde logo no tempo em que era embaixador da União Europeia, quer na Índia quer no Brasil. Depois, já agora, convém lembrar, já tinha sido secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação. Depois, apareceu, para surpresa de muita gente, no quadro do Ministério da Defesa Nacional. E, depois, apareceu com total e completa naturalidade no quadro dos Negócios Estrangeiros”, explica.
Seixas da Costa acredita por isto que os seus homólogos estrangeiros não estão “preocupados com a notícia A ou a notícia B”. “Ainda por cima, não corresponde, até agora, a nenhuma concretização de qualquer tipo de ação de natureza judiciária que o possa tocar”, conclui.
O ministro mantém uma agenda ativa, com participações recentes em reuniões internacionais e eventos de alto nível, incluindo uma viagem à Ucrânia para mostrar solidariedade com o povo ucraniano.