Polémica com imagens racistas, nazis e pedófilas em universidade acaba arquivada pelo MP

Jeniffer Melo / Instagram

A aluna Jeniffer Melo, que denunciou as mensagens

Trocaram “stickers” num grupo de WhatsApp com conteúdo que chegou a ser de pornografia de menores. Aluna fez queixa, Universidade obrigou-os a pedir desculpa e o Ministério Público arquivou o caso.

Cristiano Ronaldo com braçadeira nazi, fotos de Hitler com legendas como “dá-lhe gás” e piadas como “eu adoro negros, até comprei um”.

Este conteúdo, e outro semelhante, foi partilhado num grupo de WhatsApp de alunos de uma residência da Universidade de Trás-os-Montes (UTAD).

Jennifer Melo, aluna brasileira do curso de Medicina Veterinária que tinha na altura 25 anos, mostrou o seu incómodo pelas mensagens de teor nazi e racista (a jovem é negra).

“É humor negro”, justificou um colega. Mas Jennifer decidiu reportar a situação à direção da residência universitária onde os alunos vivam. Só que as mensagens continuaram noutro grupo, só com alunos do curso.

As imagens continuaram a surgir no chat, cada vez mais explícitas, até chegarem a um ponto em que se trocava conteúdo de pornografia hardcore e pornografia infantil, com crianças em poses sexuais.

“Achando inadmissível o episódio ter voltado a acontecer, percebi que a situação era um pouco mais grave e generalizada”, disse ao Expresso a aluna.

Fez, então, uma exposição por escrito da situação à reitoria da Universidade. “Manifesto não só a minha enorme preocupação pelo sucedido como também a nossa determinação em responder de imediato e de forma adequada às atitudes e comportamentos que relata”, lê-se no documento a que o Expresso teve acesso.

A UTAD “não tolerará nem deixará de combater qualquer tipo de manifestação, pública ou privada, discriminação, xenofobia, racismo, sexismo ou afim que ocorra no seio da sua comunidade académica”, foi a resposta da Universidade, que obrigou os estudantes que enviaram os “stickers” a escrever um pedido de desculpas a Jennifer e outros alunos visados.

“É importante realçar que os conteúdos compartilhados não tinham um destinatário específico e foram enviados num contexto em que alguns participantes perceberam como humorístico a resposta aos eventos em curso. Gostaríamos também de destacar que as imagens ou elementos presentes nesse conteúdo não refletem, de forma alguma, as nossas ideologias ou valores. Este comportamento não foi motivado por más intenções”, escreveram, pedindo de seguida “sinceras desculpa”.

Mas Jennifer não se conformou com um pedido de desculpas, e foi ouvida numa reunião de 6 horas onde a Universidade chegou a sugerir-lhe que consultasse o psicólogo da Universidade e deixasse de fazer “mais dramas”.

“Sinto-me envergonhada com o comportamento dos alunos e, também, com o da universidade que tinha de ter atuado exemplarmente e não o fez”, comenta a professora da UTAD Mila Abreu.

O nome de Jennifer passou a ser referido diretamente no conteúdo das mensagens e a aluna acabou por regressar ao Brasil, onde concluiu o curso.Mas não sem apresentar uma queixa no Ministério Público.

O procurador, Miguel Alves, acabou por arquivar a queixa, justificando que o arguido (o jovem que enviou os “stickers” de teor pornográfico) o fez “num contexto de brincadeira” e porque “achou que eram engraçadas”.

A polémica acabou mesmo por levar a Universidade a cortar os protocolos com a Erasmus Student Network (ESN), organização de estudantes de Erasmus, devido a um clima de “instabilidade” e “desconfiança”.

ZAP //

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