Podemos ter andado a estudar mal as placas tectónicas

USGS / Wikimedia

Placas tectonicas da Terra

Surpreendentemente, um novo estudo revelou que há um “argumento errado” no debate sobre a formação da tectónica de placas. Afinal, a primeira crosta terrestre era surpreendentemente parecida com a atual.

Um estudo publicado no início do mês na Nature revelou que a crosta terrestre atual tem uma composição surpreendentemente semelhante à da primeira camada exterior do planeta, ou “protocrosta”.

Este invólucro rochoso primitivo apresentava assinaturas químicas que se pensava ocorrerem apenas em crostas continentais criadas pelo processo de subducção, no qual uma placa tectónica desliza sob outra.

Só que, afinal, não. O novo estudo vem teorizar que a tectónica de placas não é realmente necessária para produzir estas assinaturas.

Como refere a Live Science, estas descobertas vêm aquecer (e confundir) o debate sobre quando começou a tectónica de placas no nosso planeta.

Ninguém sabe exatamente quando ou porque é que a superfície da Terra se dividiu em placas que chocam umas contra as outras, formando montanhas e vulcões e provocando terramotos.

Historicamente, o facto de as assinaturas químicas observadas nos processos modernos de tectónica de placas ocorrerem em protocrosta dos primeiros mil milhões de anos da Terra tem sido utilizado como prova para apoiar a teoria de que a tectónica de placas começou quase logo que a Terra passou a ter solo sólido – há cerca de 4 mil milhões de anos.

“Agora sabemos que, provavelmente, esse é um argumento errado”, disse à Live Science o autor principal do estudo, Craig O’Neill, geofísico da Universidade de Tecnologia de Queensland, na Austrália.

“Sim, essa assinatura forma-se hoje [através da tectónica de placas]. No entanto, o pressuposto de que a Terra sempre se comportou como agora, ao longo do tempo, é obviamente preocupante”, acrescentou o cientista.

“Assinaturas” falíveis

As assinaturas exatas em debate, neste estudo, são elementos vestigiais, como o titânio e o nióbio, que se combinam na estrutura cristalina das rochas à medida que estas se solidificam a partir do magma quente.

O que o novo estudo percebeu foi que a química da Terra primitiva fundida era bastante diferente da atual. À medida que a Terra se solidificava a partir da rocha fundida, as porções ricas em ferro desse magma afundavam-se e concentravam-se, transformando-se no atual núcleo metálico.

Isto significa que o manto se tornou menos rico em ferro ao longo do tempo.

Ou seja, o magma do manto encontrado em zonas de subducção modernas, como o “Anel de Fogo” do Pacífico, pode atuar de forma diferente ao magma encontrado na Terra primitiva.

Craig O’Neill explicou que o padrão que encontraram na investigação se assemelhava “notavelmente à assinatura da zona de subducção”, o que significa que as assinaturas químicas não podem ser usadas como prova de que a subducção estava a ocorrer na Terra primitiva.

Estas assinaturas podem também resultar diretamente da transição inicial de um planeta com uma superfície líquida para um com uma superfície sólida.

“Afinal, algumas das provas que as pessoas têm usado para argumentar a favor da tectónica de placas primitiva provavelmente não mostram nada da tectónica de placas”, concluiu O’Neill.

“Provavelmente estão a mostrar-nos uma crosta mais antiga“, acrescentou.

O estudo concluiu que o mais provável é que todo o planeta tenha passado para o sistema de placas tectónicas mais tarde, entre 3,2 mil milhões e 2,7 mil milhões de anos atrás.

ZAP //

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