Pode repetir-se o fim da ditadura dos “três grandes”? Os exemplos do “Boavistão” e dos “rapazes da Cruz de Cristo”

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Há mais de 20 anos, o Boavista sagrou-se campeão nacional. Foi a primeira equipa fora dos ‘três grandes’ a fazê-lo depois do Belenenses, nos anos 40. Poderemos assistir a um novo campeão num futuro próximo?

Desde os primórdios da sua existência, o campeonato português é indiscretamente dominado por três clubes: SL Benfica, FC Porto e Sporting CP. Ao longo da história, apenas dois emblemas conseguiram quebrar a ditadura dos chamados ‘três grandes’.

O Belenenses foi o primeiro a fazê-lo, em 1945/46, numa altura em que a vitória ainda só valia dois pontos e o campeonato português contava apenas com 12 equipas.

Os ‘rapazes da Cruz de Cristo’ conquistaram o campeonato com mais um ponto do que o Benfica, com o Sporting a ficar-se pelo terceiro lugar, a seis pontos. O FC Porto ficou num distante sexto lugar, atrás de Olhanense e Atlético CP.

A liderança da Liga foi alternando entre o Belenenses e o Benfica, mas uma derrota dos ‘encarnados’ nas Salésias entregou definitivamente a liderança ao Belenenses, na 19.ª jornada.

O emblema treinado por Augusto Silva venceria os restantes jogos até ao final da competição, tornando-se o primeiro clube fora do triunvirato Benfica-Porto-Sporting a vencer o campeonato.

Na baliza, o internacional português Manuel Capela mostrou-se decisivo, fazendo do Belenenses a defesa menos batido daquela temporada. Serafim Neves, Vasco Oliveira, António Feliciano, Mariano Amaro, Rafael Correia e José Pedro foram também nomes importantes na conquista do emblema de Belém.

Artur Quaresma e Manuel Andrade eram os goleadores de serviço e, entre si, arrecadaram um total de 33 golos marcados.

Nem os 39 golos apontados por Fernando Peyroteo, nessa temporada, foram suficientes para travar o ímpeto da equipa lisboeta.

Uma equipa jovem e 100% portuguesa, com vários atletas que viriam a tornar-se internacionais pela seleção nacional.

“Boavistão”

Foi preciso esperar mais de 50 anos até voltar a ver um campeão fora dos chamados ‘três grandes’. Na temporada 2000/01, o Boavista sagrou-se campeão nacional contra todas as probabilidades.

Até então, o Boavista só tinha conquistado dois segundos lugares. Na época anterior, as ‘panteras negras’ tinham-se ficado apenas pelo quarto lugar.

As contratações foram discretas. A mais emblemática foi a compra de Elpídio Silva, ao Braga, por 700 mil euros. Duda, que tinha passado pelo Benfica e FC Porto, também foi reforço. Chegaram ainda Bosingwa, dos juniores do Boavista; Frechaut, do Vitória de Setúbal; e Petit, do Gil Vicente, entre outros.

O Benfica começou mal a temporada e rapidamente se afastou da liderança. O FC Porto seguia isolado na frente, mas tanto o Sporting de Braga como o Salgueiros surpreendiam logo a seguir. O Sporting CP aparecia logo a seguir. O Boavista saltou para a frente no último jogo da primeira volta, após uma vitória frente aos ‘dragões’.

“Ganhamos porque éramos os melhores”, atirou o então treinador do Boavista, Jaime Pacheco, após a vitória do Boavista por 3-0 frente ao Desportivo das Aves.

Deste Boavista surgiram jogadores como o guarda-redes Ricardo, Rui Bento, Pedro Emanuel, Petit, entre outros.

Um novo campeão?

Depois do Boavista ser campeão, a história repetiu-se e Benfica, FC Porto e Sporting CP voltaram a revezar o título entre si. Teremos de esperar novamente quase meio século para voltar a ver um novo campeão?

O Sporting de Braga esteve próximo de o fafzer. Em 2009/10, os bracarenses terminaram o campeonato a apenas cinco pontos da liderança, no segundo posto. Ficaram à frente de FC Porto e Sporting CP. Além disso, na época seguinte, chegaram à final da Liga Europa, sendo derrotados pelo FC Porto numa final portuguesa.

Desde então, os minhotos têm sido praticamente a única equipa capaz de lutar pelos lugares cimeiros da liga portuguesa, à exceção dos ‘três grandes’. Em 2019/20, o Sp. Braga chegou mesmo a ficar à frente do Sporting, no terceiro posto, apesar da igualdade pontual e dos 22 pontos de distância para o primeiro classificado.

Equipas como o Vitória SC e até mesmo mais recentemente o Paços de Ferreira têm praticado um bom futebol e conseguido bons resultados. Ainda assim, continuam fora das aspirações do título. A diferença de investimento é uma das principais razões pela quais há um grande fosso entre Benfica, Porto e Sporting e o resto das equipas.

Daniel Costa, ZAP //

2 Comments

  1. Possivelmente muitas vitaminas entre outros truques tão badalados, mas jamais investigados a sério, farão a diferença! Agora foi no ciclismo e logo ditou uma equipa para fora da corrida, mas como é um parente pobre do desporto não hesitaram em decidir, o futebol esse continua atulhado de casos sem solução à vista!

  2. Não há interesse de ninguém que isso aconteça. E por isso, as arbitragens vão sempre beneficiar, ciclicamente, os 3 do costume. Como tem sido sempre. A centralização dos direitos televisivos, se vier, poderá ajudar…. mas pouco.

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