Após a polémica com o caso Zmar e as condições dos trabalhadores agrícolas migrantes em Odemira, em Beja, no Alentejo, um dos sócios da maior produtora de mirtilos de Portugal revela que as suas “plantações foram inspeccionadas pela [cadeia de supermercados] Tesco com mais frequência do que pelas autoridades portuguesas”.
As declarações do empresário Lourenço Barral de Botton são citadas pela revista alemã Der Spiegel que fez uma reportagem sobre a produção de mirtilos no Alentejo, apontando que, em 2020, este negócio “fez 247 milhões de euros em vendas“.
A produção de mirtilos tem crescido muito em Portugal. E, actualmente, as exportações já são “três vezes maiores do que em 2015”, ainda segundo dados da Der Spiegel que vaticina que o consumo desta fruta “quadruplicará nos próximos anos”.
A revista fala da “fome dos europeus por mirtilos, morangos e framboesas” e nota que a produção destas frutas “transformou” o Alentejo numa “mina de ouro” para as grandes empresas.
A Alemanha é o principal cliente destes produtos, seguindo-se os Países Baixos, sendo que 90% da produção portuguesa é exportada.
Contudo, esta “mina de ouro” tem crescido, muitas vezes, à custa das más condições dos migrantes que trabalham nas plantações.
Em Maio deste ano, Odemira foi alvo de uma cerca sanitária, por causa da pandemia de covid-19, que levou o Governo a requisitar as instalações do empreendimento turístico Zmar para acolher migrantes que viviam em casas sem condições de habitabilidade.
A situação acabou por alertar o país para as más condições destes trabalhadores agrícolas, mas também para eventuais situações de exploração.
Padrões de qualidade são “mais perigosos” do que a lei
Mas o próprio empresário Lourenço Barral de Botton, um dos sócios da maior produtora de mirtilos de Portugal, assume que não há muitas fiscalizações nas suas plantações.
“No ano passado, as nossas plantações foram inspeccionadas pela Tesco com mais frequência do que pelas autoridades portuguesas”, conta o empresário à Der Spiegel.
Botton nota, assim, como “os padrões de qualidade dos supermercados britânicos parecem mais perigosos para ele do que a lei”, como nota a revista.
Botton é um dos sócios da Carsol Fruit Portugal, joint-venture com a família chilena Carrasco que detém a marca Logofruits que vende mirtilos para vários países europeus e muitas cadeias de supermercados, incluindo as alemãs Edeka, Lidl, Aldi, Rewe e Kaufland.
Em 2019, a Carsol Fruit Portugal investiu 54 milhões de euros na produção biológica de mirtilos em Alcácer do Sal, no distrito de Setúbal, e o objectivo é tornar-se na maior produtora da Europa.
“Vistos framboesa”
A Der Spiegel ainda nota que Portugal tem “um dos sistemas de imigração mais liberais da Europa”, o que justifica que atraia tantos migrantes.
“Quem tem contrato de trabalho há mais de seis meses recebe uma autorização de residência” e ao cabo de sete anos, pode tornar-se cidadão português, destaca ainda a publicação que até fala nos “vistos framboesa”.
Mas a pandemia, e possivelmente toda a confusão relacionada com o Zmar, levou muitos migrantes a “fugirem” de Odemira. “Em vez de 900 homens”, a plantação de Botton terá, actualmente, “um máximo de 300 nos campos”, como sublinha ainda a Der Spiegel com base em declarações dos gestores da empresa.
Uma cambada de licenciados encontrou a galinha dos ovos dourados.
Mas basta mostrar aos ‘europeus’ as notícias e documentários que deixaram os mirtilos em Portugal na prateleira dos supermercados.
Em resposta á Reforma Agrária mostraram aquilo que o Capitalismo Selvagem tem de melhor: Exploração do homem pelo homem. Parabéns aos infantes redundantes. No futuro podem até cultivar coca
Estão bem melhor os terrenos ao abandono e todos a passar fomeca. As palas ideológicas e o ódio de quem as tem deixar ver apenas a uma distância muito curta do nariz. O que vale é que essa forma de ver o mundo está condenada a desaparecer com a educação a tomar o lugar da ignorância facilmente manipulável.