Espécie invasora japonesa é “impossível” de matar

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MdE / Wikimedia

Das 13 mil espécies exóticas que deram a volta ao mundo desde o início do colonialismo no século 15, a Fallopia japonica é amplamente considerada uma das mais intratáveis: sufoca jardins suburbanos, engole faixas inteiras de linhas de comboio e inunda canais e parques nacionais.

Se este arbusto invasor crescer à vontade, pode rapidamente dominar todo o Reino Unido, exceto as zonas sombreadas pelas árvores, diz Dan Eastwood, professor de Biociências da Universidade de Swansea, no Reino Unido. “Haveria uma dominação geral”, diz ele.

Mas remover completamente esta erva daninha é extremamente difícil e envolve essencialmente extrair a terra dela: cavar pelo menos cinco metros de profundidade e descartar todo o lote quase como se fosse radioativo.

Se sobrar algo, ela pode voltar várias vezes, regenerando-se dos menores fragmentos e prejudicando os jardineiros durante até 20 anos depois de aparentemente ter desaparecido. Um estudo descobriu que o arbusto pode crescer novamente a partir de um fragmento de raiz de apenas 0,3 gramas, aproximadamente o peso de uma pitada de sal.

Infelizmente, também não se pode colocar um pouco de herbicida nela. “Pode voltar a crescer mesmo que pareça morta”, diz Kevin Callaghan, diretor da Japanese Knotweed Specialists, uma empresa de erradicação com sede em Londres.

Além do facto de que uma monocultura de ervas daninhas de três metros de altura não é ideal para um jardim e nem para a vida selvagem. Uma infestação deste arbusto também pode ter consequências financeiras catastróficas.

No Reino Unido, a presença de uma única haste pode reduzir instantaneamente o valor de uma casa de 5% a 15% e fazer com que muitos bancos rejeitem uma hipoteca.

Então, como é que a erva daninha japonesa conseguiu tornar-se tão incrivelmente resistente? E será que vamos descobrir como vencê-la?

Um presente desagradável

Em 9 de agosto de 1850, o jardim botânico de Kew Gardens, em Londres, recebeu um pacote surpresa pelo correio.

O presente inesperado continha várias plantas incomuns e uma nota revelando a identidade do misterioso benfeitor: Philipp Franz Balthasar von Siebold, um médico e botânico alemão.

Von Siebold tinha voltado recentemente do território japonês de Dejima, na costa da cidade de Nagasaki. Foi o único ponto de contacto do país com o mundo exterior durante o período isolacionista Edo, quando o país fechou as fronteiras para estrangeiros por mais de dois séculos.

Como médico renomado, Von Siebold teve acesso a uma variedade sem precedentes de contactos no Japão e usou-os para saciar a sua paixão pelas plantas. Depois de uma rara visita ao continente e um infeliz incidente envolvendo um mapa proibido, finalmente foi convidado a sair.

Então Von Siebold empacotou cerca de 2 mil plantas e voltou para a Europa. Isso incluiu um arbusto magnífico encontrado na Ásia, incluindo no Japão, Taiwan e Coreia do Sul, onde foi valorizado por seus uso na medicina tradicional e como verdura.

Em pouco tempo, nasceu a Von Siebold & Company de Leiden, empresa especializada na venda de plantas do Extremo Oriente, com sede nos Países Baixos. E, desde o primeiro momento, Fallopia japonica foi uma das suas plantas-estrela.

A erva daninha japonesa foi um sucesso e, em apenas algumas décadas, estava enraizada profundamente na Oceânia, América do Norte e grande parte da Europa.

De acordo com Eastwood, essa popularidade inicial é a primeira pista dos seus formidáveis ​​poderes de invasão. “A realidade é que ela foi trazida para este país e plantada em massa desde a era vitoriana, por um período bastante considerável”, diz.

Repositório oculto

No entanto, os jardineiros não merecem todo o crédito. O arbusto é realmente excecional: um invasor alienígena verdadeiramente de outro mundo. De uma terra árida de lava e gases tóxicos. O habitat natural da planta são as encostas dos vulcões, onde foi um dos primeiros a estabelecer-se após uma erupção.

Pode afundar as suas raízes ​​em rochas vulcânicas frias e sólidas, e lá ficará à espreita por anos, agarrando-se mesmo que seus caules e folhas acima do solo estejam sepultados em magma incandescente.

A um mundo de distância deste ambiente hostil, no paraíso do jardim suburbano médio, essas adaptações naturais significam que a planta é praticamente impossível de vencer. E esta história é o segredo da sua expansão e sobrevivência impressionante.

Este sistema de duas partes, com pedaços do corpo acima e abaixo do solo, significa que é extremamente difícil de controlar com produtos químicos. O mais eficaz é o glifosato, que funciona inibindo uma enzima que as plantas precisam para produzir aminoácidos. Mas a melhor forma de usá-lo é contraditória.

Como muitos proprietários descobriram na sua busca para erradicá-la, o uso excessivo pode fazer com que a planta se espalhe acidentalmente.

A parte que se vê acima do solo é a coroa: esta é a parte dominante da planta que armazena ativamente energia. Mas ela tem apoio. “Em torno dessas coroas, há brotos dormentes, para que possam produzir um novo crescimento, mas não o fazem porque a coroa os suprime”, diz Eastwood.

Então, se inundar uma dessas ervas daninhas com herbicida, pode matar a coroa completamente e, de repente, todos os seus brotos satélite acordarão.

Um grande erro

Mal sabia Von Siebold quando enviou a primeira amostra para Londres que se tornaria um dos maiores vilões da história da botânica.

E a história está longe de terminar. Embora a era dos jardins expansivos do século 19 e as importações de plantas não regulamentadas tenham ficado para trás, acredita-se que muitas plantas presentes em milhões de quintais ao redor do mundo tenham potencial invasivo.

Eastwood está disposto a apostar que o próximo grande invasor será a anémona japonesa. Com flores cor-de-rosa, roxas ou brancas em forma de pires em caules finos, este membro da família do botão de ouro é popular por adicionar cor aos jardins no final do verão.

Mas, assim como a erva japonesa, ela pode espalhar-se facilmente no subsolo e rapidamente assumir o controlo. Talvez as pessoas não se importem tanto com uma invasora tão bonita; certamente é difícil imaginar a sua presença diminuir o valor de uma propriedade. Mas se acontecer… digamos que leu aqui primeiro.

ZAP // BBC

2 Comments

  1. Uma espécie vegetal fantástica a ser utilizada pelo PS para tapar todas as manchas negras existentes e espalhadas pelo país, resultantes dos incêndios.

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