Séculos de isolamento tornaram o Japão uma das sociedades mais sustentáveis do mundo

Durante séculos, a sociedade japonesa era auto-suficiente e vivia em harmonia com a natureza, com um estilo de vida guiado pelas estações do ano e assente nos princípios da reutilização e da reciclagem.

No início do século XVII, os líderes japoneses temiam que o Cristianismo — que tinha recentemente sido introduzido nas partes sul do país pelos missionários europeus — se espalhasse.

Como resposta, efetivamente fecharam a ilha do mundo exterior em 1603, com os japoneses a não poderem sair e os estrangeiros a não poderem entrar. Isto ficou conhecido como o período Edo do Japão e as fronteiras continuaram fechadas durante quase três séculos até 1868.

Isto permitiu que a cultura única do país, os seus custemos e estilo de vida florescessem no isolamento, e isso ficou registado na arte que anda podemos ver hoje, como a poesia haiku ou o teatro kabuki.

Também significou que os japoneses, que viviam num sistema de grandes restrições ao comércio, tinham de depender totalmente nos materiais já presentes no país, o que criou uma economia em expansão baseada na reutilização e na reciclagem. De facto, o Japão era auto-suficiente em recursos, energia e comida e sustentava uma população de até 30 milhões, tudo sem combustíveis fósseis ou fertilizantes químicos.

A população no período Edo viveu segundo aquilo que é conhecido como a “vida lenta”, uma lista de práticas sustentáveis baseadas em desperdiçar o mínimo possível. Até a luz não era desperdiçada — as atividades diárias começavam ao nascer do sol e terminavam ao pôr do sol.

As roupas eram remendadas e reutilizadas muitas vezes até acabarem por ser meros trapos. As cinzas humanas e os excrementos eram usados como fertilizantes, o que alimentou um negócio para comerciantes que andavam de porta em porta a recolher estas preciosas substâncias para venderem aos agricultores. Podemos chamar a isto o início da economia circular.

Outra característica da vida lente era o seu uso do tempo sazonal, ou seja, a forma de medir o tempo mudava ao longo das estações. Na China e no Japão pré-modernos, os 12 signos do zodíaco (conhecidos em japonês como juni-shiki) eram usados para dividir o dia em 12 secções com cerca de duas horas cada. O comprimento destas secções variava dependendo da mudança da hora do nascer e pôr do sol.

Durante o período Edo, um sistema semelhante foi usado para dividir o tempo entre o nascer e o pôr do sol em seis partes. Como resultado, uma hora variava muito dependendo se era medida durante o verão, o inverno, a noite ou o dia. A ideia de regular a vida com unidades de tempo imutáveis como minutos ou segundos simplesmente não existia.

Em vez disso, a população do Edo — que não tinha relógios — julgava o tempo pelo som dos sinos dos castelos e templos. Permitir que o mundo natural ditasse a vida desta forma criou uma maior sensibilidade às estações e às suas riquezas naturais abundantes, ajudando a desenvolver uma cultura assente em valores amigos do ambiente.

Trabalhar com a natureza

Desde meados do período Edo em frente, as indústrias rurais começaram a florescer. A população organizava festivais sazonais com imensas e diversas comidas locais, pedindo fertilidade durante a estação das flores de cerejeiras, pedindo fertilidade e comemorando as colheitas do outono.

Este sistema social único e amigo do ambiente surgiu em parte devido à necessidade, mas também devido à experiência cultural profunda da vida em harmonia com a natureza. Isto precisa de ser relembrado na era moderna para conseguirmos alcançar uma cultura mais sustentável — e algumas atividades modernas podem ajudar.

Por exemplo, zazen, ou “meditar sentado“, é uma prática do Budismo que pode ajudar as pessoas a criar espaço para paz e calma para se viver as sensações da natureza. Por estes dias, um número de templos urbanos oferece sessões de zazen.

O segundo exemplo é “banhar na floresta“, um termo criado pelo diretor geral da agência florestal do Japão em 1982. Há muitos tipos diferentes de banhos de floresta, mas o mais popular envolve passar tempo livre de ecrãs e imerso na paz de um ambiente florestal. Atividades como estas podem ajudar a desenvolver um gosto pelos ritmos da natureza e podem levar-nos a ter um estilo de vida mais sustentável.

Numa altura em que a necessidade de um estilo de vida mais sustentável se tornou um problema global, devemos respeitar a sabedoria da população Edo que viveu com um tempo em constante mudança com as estações, que apreciava os materiais e usava a sabedoria da reutilização e que pôs em prática um estilo de vida baseado na reciclagem durante vários anos. Aprender com o seu estilo de vida pode dar-nos guias sobre como viver no futuro.

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