O plano passa por bombear água do mar para a neve que cobre o gelo, o que a transforma em gelo. Os ensaios de campo tiveram sucesso, mas há quem duvide da fiabilidade da ideia.
A startup britânica Real Ice realizou com êxito ensaios no terreno no Ártico canadiano, com o objetivo de engrossar artificialmente o gelo marinho da região, que está a desaparecer rapidamente e é crucial para a vida selvagem.
Como o gelo marinho do Ártico continua a diminuir devido às alterações climáticas, muitos cientistas preveem que a região poderá ficar sem gelo durante o verão na década de 2030, mesmo com reduções imediatas e significativas das emissões.
A abordagem inovadora da Real Ice, baseada num conceito proposto pela primeira vez por Steven Desch, da Universidade do Estado do Arizona, em 2016, consiste em perfurar o manto de gelo e bombear água do mar para a neve que cobre o gelo.
A água enche as bolsas de ar na neve, congelando e transformando a neve em gelo sólido, o que aumenta a condutividade térmica da camada de gelo, levando a uma maior formação de gelo por baixo.
Os ensaios de campo, efetuados em parceria com o Centro de Reparação Climática da Universidade de Cambridge, revelaram resultados promissores.
Entre janeiro e maio, um furo piloto conseguiu engrossar a plataforma de gelo em 50 centímetros, tendo sido observados mais 25 centímetros de crescimento natural de gelo por baixo da camada de gelo, explica a New Scientist.
A Real Ice planeia aumentar significativamente a escala do projeto, com o desenvolvimento de drones subaquáticos capazes de criar furos e bombear água do mar em grandes áreas do Ártico.
A empresa prevê a utilização de 500 000 drones para cobrir um milhão de quilómetros quadrados de gelo marinho, com um custo estimado de 6 mil milhões de dólares por ano.
O financiamento poderia vir dos governos através das Nações Unidas ou através da venda de “créditos de refrigeração” às empresas, um conceito semelhante ao dos créditos de carbono.
No entanto, o projeto não está isento de críticas. Esquemas de geoengenharia como este são frequentemente controversos, com preocupações sobre potenciais consequências indesejadas e o risco de desviar a atenção da necessidade urgente de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa.
Julienne Stroeve, da University College London, manifestou o seu ceticismo. “Não acho que alguma destas ideias seja viável, especialmente numa escala que fizesse diferença”, defende.
A investigadora realça as necessidades energéticas de uma operação em tão grande escala e os potenciais impactos negativos na vida selvagem do Ártico, como os ursos polares, que usam a neve para fazer cavernas para as proteger as crias.
Apesar destas preocupações, a Real Ice está a avançar, planeando uma experiência em maior escala em novembro para aperfeiçoar e otimizar a metodologia de espessamento do gelo.