Pires de Lima desmente Pedro Nuno: “Há limites para a ignorância”

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Miguel A. Lopes/LUSA

O antigo ministro da Economia, António Pires de Lima

Antigo ministro da Economia continua convencido de que o negócio da TAP com a Airbus foi feito a preços de mercado.

O antigo ministro da Economia António Pires de Lima disse hoje continuar convencidíssimo de que o negócio com a Airbus que permitiu capitalizar a TAP na privatização de 2015 foi feito a preços de mercado e beneficiou a companhia.

“Continuo convencidíssimo de que o negócio que se fez foi feito a preços de mercado, a TAP não foi prejudicada e bem pelo contrário. Através destes fundos Airbus foi capitalizada em 226 milhões de euros e, com isso, conseguiu iniciar um projeto de desenvolvimento e crescimento que durou até 2019”, afirmou, na comissão parlamentar de inquérito à TAP, o antigo ministro do governo PSD/CDS-PP que concretizou a privatização da companhia aérea, em 2015, e depois parcialmente revertida pelo Governo PS (apoiado no parlamento por BE, PCP e PEV).

Em causa estão os chamados fundos Airbus, que resultaram de um negócio do ex-acionista privado da TAP David Neeleman com a fabricante de aviões, que envolveu a troca de uma encomenda de 12 aviões A350 por 53 de uma nova gama e uma “contribuição” superior a 200 milhões de euros da fabricante ao empresário, que os usou para capitalizar a TAP, conforme previsto no acordo de privatização.

“Se amanhã se viesse a comprovar que os aviões foram comprados acima do preço de mercado e portanto foi a TAP que financiou a Airbus, que por sua vez financiou o senhor Neeleman, estamos perante uma capitalização que não foi capitalização nenhuma. Se fomos todos enganados temos de tirar consequências”, avisou.

No ano passado, uma auditoria pedida pela TAP apontou indícios de que o negócio tenha lesado a companhia aérea, por estar alegadamente a pagar um valor superior pelos aviões comparativamente aos concorrentes, motivando a abertura de um inquérito pelo Ministério Público, cujas conclusões ainda não são conhecidas.

António Pires de Lima argumentou hoje que o plano estratégico apresentado pela Atlantic Gateway, de David Neeleman e Humberto Pedrosa, que envolvia a compra de 53 aviões, “criava muito valor e riqueza para a TAP”.

“Beneficiaram desde logo os portugueses, porque a empresa cresceu 65% em quatro anos, […] mas também não vamos ser ingénuos, beneficiaram também os fornecedores e a Airbus é o principal fornecedor da TAP”, referiu Pires de Lima.

Questionado pelo deputado do PSD Paulo Rios de Oliveira se o negócio com a Airbus teria sido possível sem David Neeleman, o antigo ministro disse que não.

“Não estou a dizer que fosse o desejável, mas para mim não é muito surpreendente que o senhor David Neeleman, como empresário hábil, negociador que é, tenha procurado financiar num fornecedor que foi muito beneficiado com a mudança do plano estratégico [da companhia aérea] uma parte substancial das obrigações de capitalização que tinha assumido”, afirmou.

O antigo governante apontou que a Airbus “viu beneficiada a encomenda, a seu favor, talvez em 3.000 ou 4.000 milhões de euros”, beneficiando de forma significativa a faturação e, consequentemente, os resultados financeiros.

“Os aviões modernizaram a empresa e, no final, os 215 milhões de euros saíram da Airbus, passaram a ser do senhor David Neeleman, depois da Atlantic Gateway e entraram na TAP. Ainda lá estão”, concluiu Pires de Lima.

A “ignorância” de Pedro Nuno

Pedro Nuno Santos tinha dito que, com a privatização da TAP e os acordos de estabilidade económico-financeiro e as cartas de conforto aos bancos conhecidas, a privatização da TAP configurava um modelo do tipo “lucros para os privados, prejuízos para o Estado“.

“A venda que foi feita da TAP à Atlantic Gateway significava que o negócio, se corresse bem, as mais-valias eram do privado, se corresse mal, o Estado pagava. Para o bem, a empresa era do privado; e para o mal, a empresa era do Estado”, analisou o ex-ministro das Infraestruturas, na terça-feira.

“Isso não é verdade”, assegura Pires de Lima – que tinha estado calado sobre o assunto mas desta vez falou porque ficou “perplexo” com o que ouviu.

“Repito: não é verdade e estou a procurar ser simpático na qualificação que faço. Na política, para distrair as plateias, não vale tudo e a ignorância tem limites“, avisou.

“Digam o que disserem os que chegaram depois ao governo, não há melhor forma de avaliação da privatização da TAP do que os resultados conseguidos pela empresa e o seu impacto na economia portuguesa entre 2015 e 2019“, acrescentou Pires de Lima, resumindo: “O algodão não engana“.

E o primeiro-ministro António Costa também foi um alvo na sua conversa com os deputados: “A retórica dos políticos com responsabilidade governamental tem variado ao sabor dos voluntarismos e ideologias, mas há um denominador comum a que nenhum, mais tarde ou mais cedo, tem escapado: não acreditam na viabilidade da TAP com capital 100% nacional e não integrada num grupo internacional do setor que lhe assegure sinergias, boa e independente gestão e acesso a capital para o seu desenvolvimento”.

ZAP // Lusa

5 Comments

  1. É preciso esclarecer muito bem tudo isto para que os negócios da TAP deixem de parecer estranhos, muito estranhos…

  2. Ele é Tap’s…. ele é Galambas….. ele é aviões, aeroportos, submarinos….. Tudo uma grande confusão/ vigarices, nem eles( os Drs. POLÍTICOS) entendem o que fazem, quanto mais o simples contribuinte.
    Srs……. já chega de tanta incompetência e burrice!!….

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