O pior pesadelo de Trump ameaça tornar-se mesmo realidade

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Uma recente sondagem dá uma vantagem de 23 pontos a Ron DeSantis num possível confronto com Donald Trump pela nomeação Republicana em 2024.

Os resultados aquém do esperado para os Republicanos nas intercalares e a recente derrota na segunda volta pelo último lugar no Senado na Geórgia fizeram mesmo mossa na popularidade de Donald Trump — e a vitória que parecia garantida na corrida pela nomeação Republicana em 2024 pode, afinal, não ser assim tão garantida quanto isso.

De acordo com uma nova sondagem da Universidade de Suffolk para o USA Today, que mediu as intenções de voto para vários potenciais candidatos nas primárias, Trump foi destronado do topo das preferências do eleitorado Republicano.

O número de Republicanos que queriam que Trump se recandidatasse tem vindo a cair. Se em Julho 60% apoiavam a intenção de Trump, em Outubro o número caiu para 56%. Agora, apenas 47% defendem a sua recandidatura, um valor comparável com os 45% que se opõem.

A visão favorável de Trump entre os seus partidários também está em queda. Em Outubro, 75% dos inquiridos tinha uma opinião positiva sobre o ex-Presidente. Em Dezembro, o número caiu para 64%. A taxa de Republicanos com uma opinião desfavorável sobre Trump também subiu de 18% para 23%.

Entre os inquiridos que apoiam as políticas e a ideologia de Donald Trump, apenas 31% quer que seja o próprio Trump a representá-las no boletim de voto. Já 61% prefere que o nomeado Republicano seja outro.

E esse “outro” não é um qualquer. Ron DeSantis, o Governador da Flórida que recentemente foi reeleito com uma margem de quase 20 pontos, é o grande favorito, conquistando 56% das intenções de voto. Já Donald Trump fica-se pelos 33%.

DeSantis também é bastante mais consensual do que Trump. 65% dos Republicanos registados ou dos independentes que tendem a votar nos Republicanos querem que o Governador da Flórida se candidate à Casa Branca em 2024. Apenas 24% desejam que ele não o faça.

Há ainda mais más notícias para Trump nos confrontos com Joe Biden. Numa hipotética repetição do duelo de 2020, Biden venceria com 47% dos votos, contra 40% para Trump.

Apesar de Biden derrotar Trump, perderia contra DeSantis — o Democrata conseguiria 43% dos votos enquanto que o Republicano obteria 47%. As aparentes melhores probabilidades de DeSantis na eleição geral contra Biden são mais um duro golpe para Trump.

Nem tudo são más notícias, já que a maioria das sondagens contabilizadas pelo agregador FiveThirtyEight ainda dão a vantagem ao ex-Presidente. Mesmo assim, estes resultados podem ser os primeiros indícios de uma tendência de desgaste e cansaço dos eleitores com Trump.

“Querem Trumpismo sem Trump”

Para David Paleologos, director do Centro de Investigações Políticas da Universidade de Suffolk, os “Republicanos e independentes conservadores querem cada vez mais Trumpismo sem Trump”.

No entanto, Paleologos frisa que o sucesso de DeSantis pode depender de um duelo com Trump, já que outros potenciais candidatos — nomes como Mike Pence ou Liz Cheney são possibilidades — podem dividir o voto anti-Trump.

“Se juntarmos outros candidatos presidenciais Republicanos que dividam o voto anti-Trump, podemos ter uma receita para uma repetição dos caucus e das primárias de 2016, quando Trump durou mais do que o resto do campo dividido”, explica.

Os resultados das sondagens são, de qualquer das formas, um sinal de alarme para Trump. Com os maus resultados dos candidatos trumpistas nas intercalares, vários dos seus críticos internos no partido Republicano começaram a sair da toca e a culpá-lo pela derrota no Senado, argumentando que as apostas de Trump em candidatos extremistas e que defendem teorias da conspiração custaram a vitória ao partido.

Juntando-se a isto os seus sucessivos escândalos e problemas com a justiça — desde a investigação ao seu envolvimento no ataque ao Capitólio e nas tentativas de reverter os resultados das eleições de 2020, passando pela recente condenação da Trump Organization por fraude fiscal e pelas buscas inéditas do FBI à sua casa devido à sua conduta negligente com documentos sensíveis — nasce assim cocktail tóxico que ameaça ser fatal para as esperanças de Trump de voltar à Casa Branca.

Pode DeSantis arrumar com Trump?

Um ex-delfim de Trump, Ron DeSantis foi eleito pela primeira vez para o cargo de Governadora da Flórida em 2018 graças, muito em parte, ao voto de confiança que recebeu do então chefe de Estado.

Desde então, DeSantis cortou o cordão umbilical com Trump e afirmou-se como uma figura notável a nível nacional durante a pandemia. A sua decisão de ser o primeiro estado dos EUA a desconfinar totalmente e acabar com o uso obrigatório de máscara foi polémica e altamente contestada pela comunidade médica, mas parece ter ganho o selo de aprovação do eleitorado.

Embora seja uma figura controversa em todo o país, na Flórida, DeSantis conseguiu conquistar um eleitorado amplo, conseguindo até mesmo o voto de 58% dos eleitores hispânicos, em comparação com os 44% que conquistou em 2018. Normalmente, os latinos estão alinhados com o partido Democrata, apesar de a grande comunidade cubana na Flórida ser tipicamente mais conservadora.

Ao contrário de Trump, DeSantis não anunciou que se vai candidatar à Casa Branca em 2024 — provavelmente porque isso pode desagradar à população da Flórida que acabou de o reeleger para um mandato de quatro anos — mas tem-se encontrado regularmente com grandes doadores.

Apesar de ser um nome inegavelmente em ascensão no partido — tanto que Trump já está irritado com a sua popularidade e lhe deu a alcunha “Ron DeSanctimonious” — há ainda algumas reservas sobre se DeSantis tem o que é preciso para chutar com Trump para canto.

Uma das maiores preocupações é o seu carisma, ou melhor dizendo, a falta dele. DeSantis é mais introvertido, não é o melhor orador e não é comum vê-lo a participar em alguns cllichés das campanhas políticas, como dar beijinhos a bebés ou tirar selfies com os eleitores. Quando o assunto é carisma, Trump vence-lhe claramente, não tivesse ele criado todo um culto de personalidade dentro dos Republicanos.

A esperança de DeSantis é que o seu currículo ajude a compensar pelos seus defeitos. Formado nas prestigiadas Universidades de Yale e Harvard, o Governador é serviu na marinha durante a guerra no Iraque e já passou pelo Congresso.

Para além da sua posição polémica na pandemia, DeSantis já mostrou muitos outros tiques trumpistas com a sua obsessão com as guerras culturais. A educação sexual são um bicho-papão para DeSantis, que proibiu as escolas de ensinar sobre orientação sexual ou identidade de género até ao terceiro ano ou de uma forma “não apropriada à idade ou apropriada ao desenvolvimento dos estudantes”.

Na imigração, DeSantis foi um dos principais envolvidos nos transportes sem avisos de migrantes para cidades governadas pelos Democratas, que eram depois deixados sem qualquer ajuda.

Várias organizações de direitos humanos e opositores Democratas criticaram a política, acusando DeSantis e o governador do Texas, Greg Abbott, de instrumentalizar os migrantes para fins políticos e até de participarem em “tráfico humano”.

DeSantis é também um firme opositor ao direito ao aborto. A sua ideologia econservadora foi resumida pelo próprio no discurso de vitória, onde afirmou que a Flórida é o estado “onde o woke morre“: “Abraçámos a Liberdade, mantivemos a lei e ordem, protegemos os direitos dos pais, respeitámos os nossos contribuintes e rejeitámos a ideologia ‘woke’”, declarou.

O Governador está assim a afirmar-se como a figura perfeita para os Republicanos que querem um Trump 2.0, mas mais jovem e com muito menos bagagem. Resta-nos esperar para ver isto chega para que o aprendiz vença o mestre.

Adriana Peixoto, ZAP //

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