O ex-Ministro da Economia nega ter sido um “agente infiltrado” do BES no Governo e acusa o Minitério Público de machismo por envolver a sua mulher na acusação.
Manuel Pinho foi ouvido esta sexta-feira na segunda sessão do julgamento do processo onde é acusado de dois crimes de corrupção passiva, um de branqueamento de capitais e um de fraude fiscal.
O Ministério Público acredita que o ex-Ministro da Economia fez um “pacto criminoso” para integrar o Governo de Sócrates após sair do BES, usando a sua posição para favorecer o Grupo Espírito Santo. Os procuradores acreditam ainda que foi um “agente infiltrado” do banco no Governo, tendo recebido durante 18 anos 15 mil euros mensais de uma conta offshore do saco azul do GES.
Pinho refuta esta ideia “sem nexo” e afirma que o acordo com o BES para a concessão de uma reforma antecipada — que a acusação diz ser a razão dos pagamentos — datava de abril de 2004, quando ainda era Durão Barroso o primeiro-ministro e muito antes de Pinho ser convidado para ir para o Governo do PS.
Sobre a acusação de que beneficiou de um crédito de 2,6 milhões de euros do BES para a aquisição de um prédio na Rua Saraiva de Carvalho, em Lisboa, Pinho diz que “nunca existiu“. “É fácil, vai-se à base de dados do Banco de Portugal e vê-se se está lá ou não. Não está”, aponta Manuel Pinho, citado pelo Expresso.
O antigo Ministro frisa ainda que ficou sem seguro de saúde e teve de fazer um seguro de vida que lhe custava 500 euros por mês quando saiu do BES, o que comprova que não era um “infiltrado”. “Se fosse simulado regressava ao BES [após sair do Governo] com o contrato que tinha anteriormente”, defende-se.
“Em 2004 o BES entendeu substituir-me nas funções que exercia. Senti-me mal, apoucado. Em fevereiro de 2005 têm lugar as eleições legislativas, e recebo um convite para ir para o Governo. Aceitei. Foi o pior erro da minha vida, porque me trouxe estes problemas todos e perdi uma fortuna colossal”, lamentou.
Esta saída aconteceu depois de Pinho ter conseguido bons resultados no BES Investimento, que alcançou ganhos de 213 milhões de euros em 2003. Questionado sobre por que é que foi afastado quando estava a fazer um bom trabalho, Pinho diz também não compreender. “A merítissima juíza acha estranho, pois então somos dois”, refere.
A acusação refere ainda que Ricardo Salgado tinha prometido manter o emprego da esposa de Pinho no BES Arte. “A acusação acha normal que ela fosse despedida por eu ser Ministro. Esta acusação mistura alhos com bugalhos, porque mistura prémios, a minha reforma e o salário da minha mulher, que não subiu na horizontal, não é uma dondoca que precise do marido para arranjar emprego. É uma atitude machista inconcebível do Ministério Público”, atira.
Pinho admite a existência da Tartaruga Foundation, uma offshore no Panamá, de que era beneficiário, mas garante que não beneficiava de mais nenhuma conta sediada nesse país. “O Ministério Público fala de uma outra sociedade offshore, chamada Masete, criada no Panamá. Queria saber que provas há da existência dessa offshore. Não existe. A Masete não é uma sociedade offshore. Não é uma offshore do Panamá”, aponta.