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Piloto não está arrependido de ter aterrado na areia

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André Kosters / Lusa

Passou um mês desde que uma avioneta aterrou no areal da praia de São João da Caparica, colhendo duas vidas: a de um homem de 56 anos e de uma menina de oito. Na altura, muitos questionaram se o piloto não poderia ter amarado e poupado aquelas duas pessoas, para além do susto que pregou a muitos outros. O piloto instrutor diz não estar arrependido: “Fiz o que devia ser feito”.

Um mês após o acidente, Carlos Conde de Almeida, o piloto que seguia na avioneta a dar formação ao aluno, quebra o silêncio pela primeira vez, em declarações ao Observador: “Sou piloto desde 1980 e sou instrutor há 30 anos… Aquilo que eu fiz, foi exatamente aquilo que me ensinaram quando eu andava a aprender”.

Olhando para trás, o instrutor não mostra arrependimento face às opções que tomou. Afirma que o que fez foi aquilo que o “obrigaram a fazer nos exames” em que se treinam emergências. “Fiz tudo o que ando a ensinar aos alunos há 30 anos”.

E embora esses ensinamentos se tenham saldado negativamente em duas mortes, o instrutor agarra-se ao argumento de que terá seguido os manuais: “Tudo aquilo que eu fiz foi tudo – tudo, tudo, tudo – o que eu devia ter feito e que está escrito nos livros”.

O piloto com mais de 30 anos de carreira mostra confiança na opção que tomou, desmentindo todos os que falaram numa possível amaragem: “Quando alguém disser que podia ter feito de maneira diferente, já se sabe que é mentira”.

A bordo do aparelho seguia também o aluno Rui Relvas. Estava a ter uma aula de VFR – Visual Flight Rules (Regras de Voo Visual). Fonte da Navegação Aérea de Portugal explica que este tipo de aula se caracteriza por um “conjunto de procedimentos e regras utilizados na operação de aeronaves quando as condições atmosféricas permitem ao piloto controlar visualmente a altitude do aparelho, utilizando diversas referências, como o horizonte e o solo”.

Perante uma falha técnica, referida no relatório preliminar do acidente, elaborado pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves, Carlos Conde de Almeida teve de assumir os comandos do Cessna. Até hoje, está sem saber por que razão o motor do Cessna parou. “Eu quero saber é como é que o motor parou. Isso sim é que é o importante”.

O piloto diz sentir-se injustiçado. Mostra-se convicto de que agiu da maneira mais correta. “Não se esqueçam que eu tive 74 segundos para decidir tudo, e não 90 como foi noticiado por vocês”, referindo-se aos jornalistas.

Tanto o instrutor como o aluno foram ouvidos pelo Ministério Público no dia a seguir ao acidente, na qualidade de arguidos. Ficaram, então, sujeitos à medida de coação de termo de identidade e residência. Entretanto, Conde de Almeida continua a poder pilotar.

ZAP //

25 Comments

    • Caro João ROSA,
      Pode por favor elucidar-nos sobre o seu comentário? Sendo a notícia parcial e tendenciosa, que partido é que toma? E em que aspectos concretos é que se afasta da objectividade e se torna “manipuladora”?

    • O ZAP costuma manipular muita coisa, mas aqui não tem razão. Até lhe digo mais: Eu que sou grande crítico do ZAP e “imprensa” em geral, tenho de admitir que esta notícia é, excepcionalmente imparcial. Relata apenas os factos e declarações, (partindo do principio que essas declarações são verdadeiras) ou seja, aquilo que o ZAP e a “imprensa” deveria fazer SEMPRE!!!

      Exemplo daquilo que falo encontra aqui:

      https://zap.aeiou.pt/governo-admite-colocar-bombeiros-na-prevencao-incendios-172340

    • Isto é vergonhoso. Matou duas pessoas para salvar a pele, por sorte não matou mais. Cabe-nos a todos julgar um pernicioso acto social, fazer um julgamento moral nesta questão é uma questão de civismo. Como é que se pode defender o brutal assassinio de duas pessoas que não tnham nada a ver com as passeatas de um avião de turismo?

  1. Este é dos tais que não tem respeito pela vida de ninguém, se fosse numa passadeira de peões diria a mesma coisa, quase que quem está em cima da passadeira é que é o culpado e aqui no seu sentido baixo reles, quando sua excelência queria aterrar não devia estar ninguém na praia, do género morreram temos pena.
    Que grande “instrutor”, deviam era caçar o brevet deste “instrutor” que naquele momento egoistamente pensou em si, porque que é que não amarou a avioneta na rebentação?
    E antes deste “show de morte”, este “instrutor” não fez o checkup ao avião porque? Se o fez á registos desse checkup, ou então foi feito checkcup à portuguesa curta, olha-se e como não está nada fora do sítio, está OK para voar, mas para aquelas 2 pessoas que infelizmente morreram por se calhar não ter sido feito o checkup total.
    Coitados de quem levar com os formandos deste “instrutor”. Aposto que isto vai ficar assim nem vai ser acusado de homicidio involuntario, apesar de ter havido 2 mortes, vai ser arquivado. Quem aposta?

    • Conversa fiada, de quem não percebe nada do assunto, nem daquilo que é preciso para ter os aviões certificados para voar. Está desculpado.

      • Oh muito obrigado pela sua desculpa. Realmente não sou piloto nem tenho brevet mas posso ter a minha opinião ou tenho que pedir licença aos gurus da aviação?
        Portanto na minha conversa fiada a morte daquelas duas pessoas não é importante?
        Pelos vistos no seu conceito não é importante, é importante o piloto ter-se salvo e o avião também, não é Sr. Oliveira o resto é conversa fiada. Mortes o que é isso?

      • Opiniões, cada um tem direito à sua. Infelizmente provocou mortes, porque se não houvesse mortes no acidente (poderia ser bem possivel também) decerto o Piloto seria um heroi… mas ok, percebi.

      • Oh muito obrigado por me ter desculpado da minha ignorância e conversa fiada sobre o valor da vida das pessoas.
        O Sr. Oliveira é piloto?
        A morte das duas pessoas na praia é culpa de quem, Sr. Oliveira?
        Diga-me o Sr. e sem conversa fiada
        Quem certificou que o avião estava bom para voar?
        Diga-me quem o devia ter feito e pelos vistos não o fez, diga-me e sem conversa fiada.
        Já leu os outros comentários? ou também são todos conversa fiada.

  2. Pois, de facto foi um acidente, mas havendo um acidente e a ter de haver vítimas (infelizmente), onde elas deveriam estar? A meu ver, no avião, nunca na areia…
    Não me parece eticamente aceitável matar alguém para salvar a própria vida. Ainda que essa seja uma decisão eventualmente difícil de tomar por quem está em risco, espero que a análise do caso já não seja tão difícil de fazer pelo tribunal.
    Já agora, duvido que seja dos manuais aterrar numa praia (ou outro local equivalente) pejada de gente, como duvido que seja dos manuais diminuir a probabilidade de consequências graves nos pilotos à custa do aumento da probabilidade de consequências graves em pessoas que nada têm a ver com o assunto.

    • Ok, gostaria de ver o cavalheiro nessa situação e a fazer aquilo que propõe. Não somente é responsável pela sua vida, como pela vida do instruendo, para começar. Em seguida existia a possibilidade de não matar ninguém na praia, ao passo que um avião de trem permanente capota de certeza assim que tocar na água, e é como um acidente de carro a duzentos mas sem airbags e vão ambos à vida. Escolheria isso? Estou mesmo a ver que sim. Blablabla.

  3. O homem diz que aprendeu a fazer assim. Ou andou 37 anos (ou mais) enganado ou o “manual” está absolutamente errado e deve ser imediatamente corrigido. nôa é de todo aceitável que se pense em proteger primeiro quem anda a “passear” (no avião) em deterimento dos outros. É como diz o (ou a) Pois: “Não me parece eticamente aceitável matar alguém para salvar a própria vida.” Não, não é aceitável! Mas apeaar de tudo compreendo o piloto e a sua maneira de ver o incidente. Em vez de não conseguir dormir porque matou duas pessoas (porque foi isso que ele fez, fazendo dele um assassino) prefere passar as “culpas” ao manual de procedimento (onde não acredito que conste “mata quantos forem precisos para sobrevivas”). Assim dorme mais descansado (e em liberdade!). Porque não prendem o “manual” então?

    • Concordo em absoluto. O valor da vida seja em que circunstancia for deve ser prioritária e não desvalorizada como aqui já foi afirmado pelos “gurus” da aviação civil e que obedecem ao tal “manual”.

  4. O que está feito está feito, infelizmente um trágico acidente intencional. Caro Carlos Conde de Almeida deve saber melhor que ninguem o que fazer nestas situações, a sua honra já voou agora falta o sua alma e corpo, e deixar todos os cidadãos dormir mais descansados.

  5. Não é meu costume atacar ninguém, mas, neste caso, não me posso conter.
    Tanto “sabão opinante”, entenda-se por sabão aquele que sabe muito. As regras e manuais de instrução devem servir para limpar o cu, na opinião destes “sabões”. Estava-mos bem entregues se a justiça dependesse desta gente, passava a ser prática comum o linchamento sumário ao belo sabor da opinião destes “EXPERTS”, sendo que a seguir haveria outros, com opinião diferente, que linchariam os primeiros. Seria uma república anárquica das bananas. Estes sabões deveriam meter a mão na consciência, caso a tenham, e manterem a “matraca calada”.

    • Arre…..!!!! Porque não fecha a “matraca” e “LÊ” o que os comentários (alguns) dizem? Aqui ninguém diz que não deve haver manuais, sua b…! Aqui diz-se que, sendo verdade o que o piloto diz sobre o manual, este está absolutamente errado! Pelo menos no respeita aos danos causados a outros (que não os passageiros e piloto da avioneta). É óbvio que deve haver manuais de procedimento! Claro que sim! E treinos, o mais realísticos possiveis, de situações limites. O que aqui é dito (e claramente não leu…) é o “apoio” no manual para uma situação que não tem justificação/apoio. A probabilidade de morrerem os dois (tripulantes) seria muito alta se tivessem amarado… É possivel. Mas alguém os obrigou a particar uma actividade com esse risco (e muitos outros)? Não! Por isso deveriam pensar primeiro nos outros (uma “porrada” de gente na praia ) e, só depois nele (s). para mim (e deveria ser para muita gente) é como conduzir um carro: Um carro não é apenas um meio de transporte. É também uma arma de, pelo menos, uma tonelada. Uma arma que se desloca a velocidades superiores aos de um ser humano, aumentando assim o seu próprio “peso”. Muita gente não tem noção disso (como se vê na enorme falta de respeito nas estradas portuguesas). Há muita gente que afirma “o carro despistou-se!” Não foi o carro mas sim o condutor (a). Se ele (o carro) não estivesse a ser conduzido, este nunca se teria “despistado”. Um carro não é uma pistola, mas mata como uma (ou pior). os seus utilizadores deveriam ter a verdadeira noção daquilo que têm nas mãos. O mesmo sucede com os aviões e barcos (e outros transportes). É necessário uma enorme responsabilidade para assumir o controlo de uma máquina que pode (sse mal usada) matar pessoas (ou outros seres vivos). Infelizmente vê-se muito por aí quem nem sequer tem essa sensibilidade. Mas o pior até nem são esses (embora provoquem mais acidentes)! São aqueles que sabem o que têm nas mãos e decidem ignorar as consequências… Quem sabe? Apoiar-se num manual escrito por alguém muito egoista…

      Isto não é uma questão de EXPERTS! É uma questão de senso comum! Meta você “a mão na consciência, caso a” tenha!

      Já agora diz-se “sabichão” e não “sabão” (que “é um produto tensoativo usado em conjunto com água para lavar e limpar.” – https://pt.wikipedia.org/wiki/Sab%C3%A3o)

      • Já estou a ver que se fosse você aos comandos, sabendo que se podia safar sem matar ou ferir alguém, não arriscava, aterrava na agua, onde tinha a certeza que morria com o seu instruendo, mas pelo menos, morria de consciência tranquila. LOL

      • Caríssimo(a), b…! é você porque eu não ofendi ninguém. Mais b…! ainda quando tem a pretensão de ter capacidades para emendar um manual de procedimentos elaborado por gente séria e conhecedora da actividade. O que “alguns” comentários dizem, aos quais não lhes coube a carapuça dos meus comentários, não invalidam a maioria dos “sabões” (é uma ironia, sei bem que se escreve sabichões, por isso está entre aspas) comenta de forma agressiva e que mostra a clara vontade de fazer justiça por mãos próprias linchando uma das partes sem contemplações. Por fim, quem não leu bem os meus comentários foi você, sua b…!
        PS (não é o partido político): concordo com alguns comentários seus em relação aos veículos automóveis serem uma arma e à inconsciência de muitos condutores. Infelizmente, neste caso, não existe um manual de procedimentos, para além do Código da Estrada, e este raramente é respeitado e fiscalizado para além da aplicação de multas pelas autoridades, um encher de cofres, provavelmente devido aos “sabões” que consideram a sua opinião pessoal acima das regras instituídas, mas isto é outro assunto.
        Nota (não é dinheiro): Quando refiro “sabões” quero dizer “aquelas pessoas que se julgam conhecedoras de assuntos dos quais desconhecem na totalidade”, apenas por lhes parecer que o que pensam é o que deveria ser aplicado como regras, desrespeitando o trabalho comportamental instituído por gente séria.

      • Caríssimo(a) b…!, ou você tem carências de compreensão ou tem distorção de interpretação, ou não lê devidamente o que está escrito. De qualquer modo parece-me que se sente um “deus omnipotente” que tudo sabe e se sente detentor da verdade absoluta. A isso eu chamo arrogância, entre outras coisas. Parece-me bem que você é que ainda não entendeu, não entendeu que nem sempre está certo, nem sempre sabe tudo e nem entendeu que vive em sociedade e os seus concidadãos também têm opiniões e alguns conhecimentos e que devem ser respeitados.

  6. Ora veja o que escreveu e meta para dentro! “Já estou a ver que se fosse você aos comandos, sabendo que se podia safar sem matar ou ferir alguém, não arriscava” Então se eu soubesse que não ia ferir ninguém aterrava na água? Mas que parvoíce! Substituiu as suas células cinzentas por alforrecas? Isso nada tem a ver com esta situação. Ela não sabia se ia matar alguém! No meu ponto de vista, ele nem quis saber! Mas o que é certo é que havia grande probabilidade de matar alguém. E foi o que aconteceu. Não perca o meu tempo (e dos outros comentadores (as)) com disparates absolutamente descabidos.
    Cá está uma enorme oportunidade perdida para estar calado!

    • … mas que anormal… se se despistar de carro na auto estrada, tem fortes possibilidades de morrer, mas pode apenas ficar ferido ou até nem sofrer nada… LOL

      • A Sério? Anormal? “se se despistar de carro na auto estrada, tem fortes possibilidades de morrer, mas pode apenas ficar ferido ou até nem sofrer nada… ” Esta “frase” não faz qualquer sentido! E o anormal sou eu…
        Mas vou ser simpático para si e reformular a sua “afirmação”.
        Se me despistar na estrada e tiver de escolher entre ir contra várias pessoas e a valeta, escolha a valeta. Porquê? Se não sabe a resposta é porque é parte do problema. É porque “Não vale apena…”

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