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PGR investiga viagem de autarcas à Microsoft (com direito a programa lúdico em Seattle)

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A Procuradoria-Geral da República (PGR) está a “recolher elementos” sobre alegadas viagens de dezenas de autarcas à sede da Microsoft, nos EUA, desde 2011, a convite da empresa, que tem vindo a vender serviços aos municípios.

Instada a comentar a notícia publicada pelo jornal i na edição desta terça-feira, fonte oficial da PGR admitiu à agência Lusa que a Procuradoria se encontra a “recolher elementos sobre a matéria”.

Num trabalho a que deu o titulo de “Viagens. O polvo laranja da Microsoft”, o jornal i noticiou que a gigante da informática “tem vindo a convidar autarcas para viajar até à sede da multinacional em Seattle, com apoio nas despesas”, tendo “Mauro Xavier e Pedro Duarte, quadros da Microsoft e do PSD”, sido “responsáveis por endereçar os convites”.

Segundo o Observador, o programa em Seattle dividia-se em lazer e trabalho, e a estadia paga pela Microsoft a cada um do autarcas ascende a 750 euros. O programa incluiu um tour pela cidade, uma visita ao maior museu aeronáutico do mundo e um período para compras num dos outlets desta cidade do estado de Washington, na costa Oeste dos EUA.

A tudo isto juntou-se ainda, revela o Observador, uma estadia de três noites no Hotel W, hotel de quatro estrelas no centro da cidade, o Hotel W, com todas as refeições pagas, num custo total de cerca de 900 dólares – cerca de 750 euros – pagos pela Microsoft.

O custo dos voos dos autarcas 3 presidentes de câmara e um vice presidente, terão sido pagos pelas autarquias.

Instado a comentar a notícia, o presidente do PSD, Passos Coelho, considerou necessário haver um “esclarecimento cabal” sobre estas viagens polémicas alegadamente pagas por multinacionais e a penalização de quem não cumpre a lei.

Confrontado com a indicação de que os autarcas visados na notícia serem maioritariamente social-democratas, Passos Coelho afirmou não ter “nenhuma ideia” sobre isso.

“É verdade que há grandes empresas, nomeadamente multinacionais, que têm essa abordagem de natureza comercial”, acrescentou o presidente do PSD em declarações em Aguiar da Beira.

Segundo Passos Coelho, deve haver investigação do Ministério Público, “para que todos possam ter noção do que deve ser feito e do que não deve ser feito”, e deve ser penalizado “quem não cumpriu as regras que estão prescritas na lei”.

“O resto é um debate que eu acho que é importante um dia fazer-se em Portugal sobre a forma como muitas vezes estas empresas atuam”, disse.

DIAP de Lisboa investiga viagens pagas pela Oracle

O Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa vai investigar o caso das viagens pagas pela multinacional tecnológica norte-americana Oracle a altos quadros do Estado Português.

“A Procuradoria-Geral da República procedeu à recolha de elementos e decidiu enviá-los ao DIAP de Lisboa com vista a investigação“, revelou o gabinete de imprensa da PGR, em resposta à agência Lusa.

Em agosto, numa altura em que o Ministério Público abriu uma investigação relacionada com o pagamento pela NOS a dirigentes do Ministério da Saúde de viagens e estada na China, a PGR indicou estar a recolher elementos sobre as viagens pagas pela Oracle.

A PGR adiantou, nessa altura, que estava a “recolher elementos” sobre as notícias surgidas nas últimas horas do pagamento a quadros do Estado de viagens e estada nos EUA pela empresa tecnológica norte-americana Oracle.

Além das viagens pagas pela Oracle e pela NOS, a PGR está ainda a investigar viagens ao campeonato europeu de futebol de França, em 2016, pagas pela Galp e que levaram à demissão de três secretários de Estado do atual Governo, entretanto constituídos arguidos.

ZAP // Lusa

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9 Comments

  1. Não vejo aqui qualquer diferença entre isto e o pagamento de viagens e ofertas feitas a médicos pelos laboratórios ! Isto elimina qualquer noção de isenção na altura de aquisição de produtos e serviços.

  2. Penso que está a confundir as coisas. No caso dos laboratórios, as referidas viagens e ofertas referem-se a formação (Congressos e outras reuniões científicas) e não a lazer. Existe uma plataforma onde os laboratórios registam as despesas com a formação de médicos (discriminadamente) e em que os médicos confirmam os valores. [email protected]

    • a noticia que saiu hoje de mais um rombo/roubo de 300.000.000€ no SNS corrobora tudo o que escreves e comprova a seriedade e honestidade de tão distintas personas, é esta a formação cientifica?

  3. A democracia já morreu há algumas décadas – desde que os políticos assumiram a sua subserviência ao capital – mas ainda andam aí muitos demagogos a vendê-la como se fosse uma pomada milagrosa, que se pode aplicar no dia de eleições, sem saberem que essa receita se chama corrupção.

  4. aqui o que tem que ficar claro.. ( para isso e que se investiga) é se foram as autarquias ou os contribuintes indiretamente a pagar essas viagens e se foram qual a razao para serem debitadas ao estado essas despesas
    ninguem questiona as viagens interminaveis que certos presidentes da republica fizeram a volta do mundo .. uns para andar de tartaruga na seysheles, outros por ir..ir ir ao sabor da ideia fixa de viajar a conta do orçamento….e ninguem reclama os milhoes e milhoes gastos nesta representaçao nacional……. mas claro que o cidadao nao tem que pagar mordomias a ninguem a nao ser despesas de estado( mas que injustiça) acho que deveria haver uma verba a partir da qual os presidentes e outros elementos do estado em viagens de representaçao deveriam pagar do seu bolso era o minimo que um pais pobre deveria fazer para honrrar o seu povo. ja era altura de alguem no parlamento legislar sobre o abuso de viagens pagas por todos so para os mesmos.

    • O problema não é o preço das viagens. O problema é que o estado (ministérios, autarquias, empresas públicas) paga largos milhões por licenças de software Microsoft, Oracle, SAP, IBM, VMware e por aí fora. E ninguém aponta o óbvio: há software livre e gratuito para 95% dos casos de uso e só se gastam rios de dinheiro em software por corrupção. É bem conhecido pelo mundo fora que esses gigantes do software e serviços de informação não vendem pela qualidade mas sim pelas “contrapartidas” para quem aprova as compras.

      • nao tinha pensado nessa prespetiva.. mas tambem ha razao para se averiguar todas essas voltas…. era bom que todas as empresas de serviços e todas as empresas em geral privadas ou publicas podessem ser passiveis de ser investigadas com base em denuncias e suspeitas de conduta impropria. seria um salto qualitativo na nossa democracia.

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