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Investigadores portugueses concluem: dormir mal envelhece

whatmegsaid / Flickr

Desafiados a associar o sono ao envelhecimento, uma equipa de investigadores portugueses encontrou uma ligação entre a síndrome de apneia obstrutiva do sono e oito marcadores do processo de envelhecimento celular prematuro.

Uma equipa de investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra encontrou uma ligação entre a síndrome de apneia obstrutiva do sono e oito marcadores do processo de envelhecimento celular prematuro.

Esta perturbação do sono está relacionada com um maior risco de desenvolver várias doenças, entre elas problemas cardíacos, demências e até acidentes vasculares cerebrais. Contudo, o envelhecimento celular prematuro pode ocorrer em pessoas que não sofrem desta patologia e que, simplesmente, dormem mal.

Segundo o Público, a equipa de investigadores procurarou estudos anteriores que tivessem tentado relacionar a apneia do sono com marcadores que já se sabia que estão relacionados com o envelhecimento celular, como problemas nucleares, mitocondriais, alterações epigenéticas do ADN, entre outros.

Cláudia Cavadas, investigadora do CNC, admite ao jornal que encontraram uma “correlação entre a apneia e, pelo menos, oito dos marcadores de envelhecimento”, num artigo de opinião, publicado na Cell em julho de 2017.

Neste artigo, os cientistas defendem que o envelhecimento celular prematuro pode facilitar o desenvolvimento de doenças associadas ao envelhecimento e fazer com que estas apareçam mais cedo. “Foi a primeira vez que se juntou as duas coisas, a apneia do sono ao envelhecimento”, admite Cláudia Cavadas.

No entanto, o maior risco à qualidade do sono “é a falta de respeito que há” por ele em Portugal, alerta o médico Joaquim Moita, presidente da Associação Portuguesa do Sono e outro dos autores do artigo publicado na Cell, considerando que é necessário combater “uma cultura enraizada” na população de dormir pouco e sem regra.

“Em Portugal, ainda não se valoriza o sono como algo essencial para o nosso bem-estar e a nossa saúde”, disse à Lusa Joaquim Moita, que alerta para a prevalência na população portuguesa de doenças como a síndrome de apneia obstrutiva (49% dos homens e 25% das mulheres têm ou virão a ter) e a insónia crónica (10% dos adultos).

“Achamos que trabalhar é mais importante que dormir. Mas depois qual vai ser a rentabilidade no trabalho? O que é que se produziu do ponto de vista físico e intelectual? Se não dorme oito horas, a rentabilidade é mais baixa, e as empresas regem-se cada vez mais pela rentabilidade do que pelo número de horas”, sublinhou o presidente.

Além de alertar para a importância de dormir mais horas, salienta que é necessário não ir atrás de “manias e modas”, que vão surgindo, como “o disparate de levantar cedíssimo e ir logo correr – é caminho andado para um enfarte“.

Normalmente, o ritmo endógeno do humano diz que “às 6h00 está na altura de se preparar para acordar”, produzindo cortisol (hormona associada à atividade e movimento), sendo que perto das 21h00, com a escuridão, começa a ser libertada melatonina (associada ao sono), que atinge o seu pico por volta das 00h00, explicou Francisco Moita.

Face a esse processo, o sol acaba por ser um “marcador do tempo”, que ajuda a fazer a sincronização entre o ambiente e o ritmo interno de cada um. O hábito de estar à frente de computadores, smartphones e televisões à noite acaba por inibir a libertação da melatonina, face à emissão de luz azul pelos aparelhos.

O trabalho por turnos noturnos também pode ter consequências, especialmente se for mais de oito horas por dia e durante mais de duas semanas e horários de trabalho muito flexíveis – situação que se verifica muito entre profissionais liberais – também pode resultar em implicações para a saúde.

“Há uma hora para descansar e uma hora para estar acordado, mas as sociedades modernas não respeitam muito esses nossos relógios e ritmos. É preciso combater essa desregulação”, concluiu o especialista.

ZAP // Lusa

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