Quando crianças que acabaram de aprender a andar são questionadas sobre o que preferem, entre duas opções, normalmente escolhem a última, dizem investigadores.
De acordo com um estudo, apesar das suas preferências pessoais, as crianças tendem a escolher a última opção que lhes é apresentada. Por exemplo, quando questionadas sobre se preferem bolo ou brócolos, oito em cada dez crianças escolheram brócolos.
“Os adultos são capazes de distinguir entre escolhas e muitas vezes são mais propensos a escolher a primeira. A isto chama-se viés de primazia”, disse a autora do estudo, Emily Sumner. No entanto, com as crianças, particularmente as com menos de três anos, apresentam um viés de recência, que corresponde à tendência a escolher uma das últimas opções de resposta, uma vez que é mais fácil de lembrar.
Para chegar a esta conclusão, a equipa de investigadores fez 20 perguntas a 24 crianças, com idades entre os 21 e os 27 meses. As questões tinham duas escolhas possíveis, que foram depois repetidas na ordem contrária, para aferir se se tratava de opção pessoal ou se a decisão era influenciada pela ordem.
As crianças optaram pela segunda opção em 85,2% das perguntas. Quando não respondiam verbalmente, os investigadores tinham autocolantes com as respostas, em que as crianças apenas precisavam de apontar.
Nesses casos, segundo o Futurity, a segunda opção só foi escolhida 51,6% das vezes. “Quando uma criança aponta, ela pode ver as opções e escolher a sua preferência real“, realçou Sumner.
“Quando elas não têm referências visuais e apenas ouvem ‘ou’, as crianças podem manter a opção mencionada mais recentemente dependendo do loop fonológico. As crianças entendem como o discurso soa, mas não necessariamente o que as palavras significam. Então, ao falar, elas estão apenas a repetir a opção mencionada mais recentemente“, explicou a cientista da Universidade da Califórnia.
Os resultados do estudo foram publicados, este mês, na revista científica PLOS ONE.
Os investigadores fizeram ainda uma experiência para verificar se o número de sílabas das palavras acentuava o viés de recência das crianças. Para isso, pediram que escolhessem nomes para personagens de desenhos animados de entre duas opções sem sentido, como por exemplo, Stog ou Meeb, e Hootamawhirl ou Haykidosi.
Os cientistas notaram que, conforme aumentava o número de sílabas, mais acentuado era o viés de recência, levando as crianças a escolherem mais frequentemente a última opção.
“O nosso estudo demonstra a importância de trocar a ordem das opções quando perguntamos às crianças sobre as suas preferências, porque elas nem sempre sabem o que estão a dizer”, notou Sumner.