Perante uma vitória minoritária da direita, “era bom o PS estar aberto a negociar”, diz Rio. Candidatura de Rangel foi uma “surpresa”

ppdpsd / Flickr

O presidente do PSD, Rui Rio

Líder dos sociais democratas considera que está em vantagem nas diretas do PSD e apela aos partidos que priorizem o interesse nacional, dando condições de governabilidade à força política que consiga maior votação nas legislativas de janeiro.

Rui Rio é da opinião que, caso o PSD ganhe as eleições legislativas de 30 de janeiro, seria “positivo” que o PS estivesse a negociar, ainda que tal não implique a formação de um bloco central. Para o líder laranja, a Assembleia da República tem a obrigação de “dar um passo no sentido do interesse nacional e dar governabilidade a quem ganhar as eleições”, um raciocínio que é válido para o PSD, mas também para os outros, esclarece Rio, para quem Portugal não pode “andar em eleições de seis em seis meses“.

Em entrevista ao jornal Público, o líder dos sociais-democratas reconheceu que o aparelho partidário do PSD está, no que respeita às diretas, do lado de Paulo Rangel — cuja candidatura o surpreendeu — de forma esmagadora. Mesmo assim, considera que está em vantagem para vencer as eleições, já que a apoiá-lo estão os portugueses comuns, os que “votam de forma totalmente livre, ou seja, pela sua cabeça”. “Os próprios militantes percebem que esses apoios [a Paulo Rangel por parte de figuras do partido] têm a ver exclusivamente com as listas de deputados e não propriamente com a convicção do resultado do dia 30 de janeiro”, apontou.

Rio acusou ainda alguns nomes de peso do PSD de apoiarem Rangel em troca de lugares nas referidas lista. No seu caso, o antigo autarca do Porto garante que ainda não endereçou nenhum convite com esta finalidade — à semelhança do que tem vindo a fazer ao longo da sua carreira —, com as propostas a acontecerem só depois das eleições internas. “Os que me estão a apoiar porque querem ser deputados, verdadeiramente não me estão a apoiar, ou não estão a apoiar o meu adversário, estão a apoiar-se a eles próprios“, esclareceu.

No que respeita a possíveis coligações com o CDS, Rio começa por evocar “o disparate” que é a atual situação do PSD, já que perante a possibilidade de Paulo Rangel vencer as eleições qualquer acordo que faça atualmente pode vir a ser desfeito pelo seu adversário interno. “E os partidos que estão de boa-fé neste casamento? Ficam de repente no meio da praça? Até por isto, o que estamos a fazer não faz sentido.” Mesmo assim, Rio Rio afastou a hipótese de incluir nas listas de deputados nomes do CDS que abandonaram recentemente o partido, já que as negociações deverão ocorrer com a estrutura oficial dos centristas.

Sobre o Chega, partido com o qual o PSD tem estado envolvido em polémicas face à crise política que se vive nos Açores (e que teve início nas palavras de Rio), o líder dos sociais-democratas opta por não aprofundar na resposta, defendendo que se trata de uma questão de âmbito regional, preferindo esperar para ver qual o resultado. Rui Rio explicou ainda que não teve uma intervenção direita no acordo que foi feito entre os dois partidos de forma a viabilizar o Governo Regional dos Açores.

“Fui informado pelo presidente do PSD-Açores e fui dando a minha opinião. Depois, solidariamente, porque estou de acordo, concordei. Se não tivesse concordado, tinha feito na mesma“, vincou.

Ainda assim, Rui Rio não se inibiu de fazer leituras da atual situação que se vive nos Açores à luz do que pode ser o resultado das eleições legislativas, “Isto demonstra algo que é muito útil para 30 de janeiro. É que, se o resultado por muito fragmentado, vamos caminhar para uma ingovernabilidade, ainda que não seja imediata. Ter muitos partidos com um, dois, três deputados, só dificulta estas situações. Aquilo que está a acontecer dará para eu dizer com facilidade: é melhor votar no PSD porque é um voto muito mais útil.”

Sobre o cenário de ingovernabilidade que pode resultar das eleições legislativas de janeiro, Rio admite que este é real, mas lembrou que todas as dissoluções da Assembleia da República até à atualidade “produziram um resultado mais estável do que aquele que havia antes”.

“Os presidentes da República acabaram por sair bem naquilo que pretendiam. Podemos concordar ou discordar. Nesta situação, e pelo xadrez político que existe hoje, em que as maiorias absolutas são mais difíceis e os acordos parlamentares não estão fáceis, podemos ter pela primeira vez uma dissolução em que no dia seguinte não há uma governabilidade óbvia e rápida.”

Se chegar a primeiro-ministro — e Rio acredita estar em melhor posição do que Rangel para atingir esse objetivo —, esclarece que não vai desfazer tudo o que o PS fez — “já ando nesta vida há uns anitos e se há coisa que detesto é ver quem sucede destruir o que o outro fez” —, apesar de admitir que o chamado “imposto Mortágua” deve ser alterado e que as contribuições extraordinárias devem ser revistas caso a caso.

“Eu tenho um objetivo que é a redução da carga fiscal. […] Tenho o programa de 2019 e um conselho estratégico a funcionar. Agora tenho de ver, na redução da carga fiscal, até onde posso ir. Isso depende do quadro económico que nós adotarmos. Esse quadro é que me vai permitir ver a folga que tenho. […]Procurarei, na medida em que o crescimento económico o permita, que o défice se reduza no equilíbrio e para lá dele, com um pequeno superavit, porque é absolutamente imprescindível baixar a dívida pública.”

No que respeita a salários, Rui Rio tem defendido publicamente a necessidade de aumentar o salário médio, já que, no seu entender, se tal acontecer, o salário mínimo virá por arrasto. “Quando imponho o salário mínimo do ponto de vista administrativo — e tenho de o fazer, não discordo disso — mas quando o faço para lá do que a economia aguenta, estou a encostar o salário mínimo ao salário médio, logo, estou a nivelar tudo por baixo. ”

Para lá chegar, o líder dos sociais-democratas pretende apostar na capitalização das empresas, no investimento, sobretudo as que produzem bens transacionáveis. Desta forma, aponta, as empresas terão melhor produtividade e competitividade e, assim, pagarão melhores salários e a classe média sairá reforçada.

Na entrevista, Rui Rio abordou ainda a questão da TAP, a qual considera uma oportunidade perdida e um dos principais erros do atual Governo, que reverteu o processo de privatização em curso. A pandemia não é um argumento válido para Rio, que considera que com a privatização esse não seria um problema, na mesma escala, para o país. Caso vença as eleições, Rio diz que analisará a questão “com cuidado”, já que o país ficou dependente, face às constantes injeções de capital, das decisões de Bruxelas. “Isto é uma herança pesada, complicada”, admitiu.

Questionado se faria sentido, num cenário de governabilidade, a intervenção do Presidente da República, nomeadamente através da formação de um Governo de salvação nacional, Rio não afasta a possibilidade — tal como nunca afastou em situações distintas e com outros chefes de Estado. Mesmo assim, ressalva, essa opção só deverá surgir “numa situação muito limite“, a qual Rui Rio não acredita que chegará.

Finalmente, convidado a fazer um balanço do desempenho de António Costa como primeiro-ministro, Rui Rio afirmou que foi mau, destacando a falta de capacidade reformista de Costa. “Obviamente que fez coisas boas e más. Podia criticá-lo no capítulo da economia e tinha muitas críticas a fazer. Mas não é isso que ponho em primeiro lugar. Eu acho que ele não foi um bom primeiro-ministro porque ele não tem qualquer espírito reformista. Um primeiro-ministro que não está aberto a reformas e que tem medo de interesses instalados é sempre mau”, atirou.

ZAP //

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