A matemática pioneira Karen Uhlenbeck, antiga professora da Universidade do Texas, em Austin (Estados Unidos), recebeu o Prémio Abel de 2019, tornando-se a primeira mulher a receber a distinção, uma das mais ilustres na área.
A Academia Norueguesa de Ciências e Letras concedeu esta terça-feira o Prémio Abel a Karen Uhlenbeck, de 76 anos, pelo “trabalho fundamental em análise geométrica e Teoria de Gauge (ou teorias de calibre), que mudou drasticamente o cenário matemático”, disse em comunicado Hans Munthe-Kaas, presidente do Comité Abel.
“As suas teorias revolucionaram a nossa compreensão sobre as superfícies mínimas, como as que são formadas por bolhas de sabão, e sobre problemas mais gerais de minimização em dimensões mais altas”, acrescentou Munthe-Kaas, citado pelo Gizmodo.
Concedido anualmente, o Prémio Abel foi criado em 2002, visando reconhecer “contribuições de extraordinária profundidade e influência para o campo da matemática”. Como não exista prémio Nobel para a matemática, esta distinção – que atribui 6 milhões de coroas norueguesas (cerca de 620 mil euros) – é a mais próxima em termos de prestígio.
Dos 19 laureados até à data, Karen Uhlenbeck é a primeira mulher a ganhar o prémio, que será entregue à mesma no dia 21 de maio, numa cerimónia em Oslo (Noruega), pelas mãos do rei Harald V.
Antiga professora emérita na Universidade do Texas, Karen Uhlenbeck – que mora em Nova Jersey -, é, atualmente, investigadora sénior visitante na Universidade de Princeton (EUA) e associada visitante no Instituto de Estudos Avançados (IAS).
Os seus trabalhos mais influentes foram publicados no final dos anos 70 e início dos anos 80, tendo recebido uma bolsa MacArthur Fellows, no valor de 204 mil dólares (aproximadamente 180 mil euros), em 1983.
A investigadora fez importantes contribuições para uma variedade de ramos matemáticos, sendo conhecida pela sua habilidade com as chamadas equações diferenciais parciais – que ligam quantidades variáveis a taxas de mudança e que suportam muitas leis da física.
No anúncio oficial, o júri destaca o seu contributo em questões como a teoria de gauge (ou teorias de calibre) e sistemas integráveis, assim como o “impacto fundamental” do seu trabalho em termos de análise, geometria e física matemática.
As suas contribuições levaram a melhorias nos modelos usados em física de partículas, teoria das cordas e relatividade geral. A mesma “desenvolveu ferramentas e métodos em análise global, que agora estão na caixa de ferramentas de cada geómetra e analista”. O seu trabalho lançou igualmente “a base para modelos geométricos contemporâneos em matemática e física”, acrescenta o comunicado.
De acordo com o Gizmodo, os seus contributos sobre a modelagem matemática das chamadas superfícies mínimas, como os filmes de sabão, melhoraram significativamente a forma como os matemáticos modelam esses objetos e predizem os modos como as suas superfícies se comportam sob determinadas condições.
“O reconhecimento das conquistas de [Karen] Uhlenbeck deveria ter sido muito maior, pois o seu trabalho levou a alguns dos mais importantes avanços em matemática nos últimos 40 anos”, disse Jim Al-Khalili, bolseiro da Royal Society, referido na nota informativa.
A investigadora foi co-fundadora do Instituto de Matemática Park City (PCMI) do IAS, que visa formar jovens pesquisadores e promover a compreensão mútua dos interesses e desafios da matemática.
Promotora constante da igualdade de género na ciência e na matemática, foi também co-fundadora do programa de Mulheres e Matemática do IAS (WAM), na década de 1990, que pretende “recrutar e capacitar mulheres para liderar” em campos de matemática, independentemente do estágio em que estão nas suas carreiras.
Os vencedores anteriores do Prémio Abel incluem Robert Langlands, pelas suas contribuições na teoria dos números (2018), Andrew Wiles, pela “impressionante prova” do último teorema de Fermat (2016) e John Nash e Louis Nirenberg, pelo trabalho em análise geométrica (2015).