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Peixes com o “coração partido” tornam-se mais pessimistas

gkonst1975 / Flickr

Amatitlania nigrofasciata

Os peixes da espécie Amatitlania nigrofasciata tornam-se mais pessimistas se forem separados dos parceiros que escolheram.

Uma equipa de cientistas da Universidade de Borgonha, em França, fez vários testes em peixes Amatitlania nigrofasciata, uma espécie de peixes monógamos, naturais da América Central. O objetivo dos investigadores era avaliar o humor dos animais e o apego emocional.

No início da experiência, a equipa permitiu que 33 peixes fêmeas escolhessem um companheiro masculino e, de seguida, monitorizaram o comportamento das fêmeas assim que foram separadas do parceiro que tinham anteriormente elegido.

Os cientistas treinaram os peixes para reconhecer e abrir duas caixas, distinguíveis pela sua cor: uma caixa “positiva”, que tinha uma recompensa em comida, e uma caixa “negativa, completamente vazia. A meio da experiência, os investigadores presentearam os peixes com uma terceira caixa “ambígua”.

A equipa observou que as reações das fêmeas eram diferentes dependendo se tinham sido, ou não, separadas do seu parceiro. Assim, as fêmeas que estavam com seu parceiro eram mais rápidas a investigar a terceira caixa, enquanto que as que tinham sido separadas do parceiro, viam afetada a sua capacidade de resposta à tarefa.

Um dos autores do artigo científico, François-Xavier Dechaume-Moncharmont, disse que esta tarefa é uma avaliação do estado emocional, “do otimismo e do pessimismo” dos animais.

A conclusão foi que as fêmeas a quem foi negada a opção de ficar com o parceiro que escolheram tornaram-se mais “pessimistas”, ou seja, adotaram uma visão mais negativa quando confrontadas com um obstáculo.

“Se estiver com uma disposição otimista, verá o copo meio cheio. Caso esteja pessimista, vai vê-lo meio vazio. É exatamente o mesmo para os peixes. Nós oferecemos-lhes uma caixa ambígua, e a sua reação a isso corresponde ao seu estado emocional”, explicou Dechaume-Moncharmont, citado pela Visão.

Além disso, os cientistas observaram que as fêmeas que estavam com o par eleito “investiram mais na reprodução“, isto é, desovaram mais cedo e passaram mais tempo a cuidar dos ovos.

“Muitos psicólogos decidiram que apenas os humanos podem sentir alguma emoção pelo seu parceiro, mas com este estudo, mostrámos que isso não está correto. Isso vai questionar profundamente o valor adaptativo de tal comportamento”, adiantou o investigador e ecologista comportamental.

Muitas pessoas consideram o amor como uma poluição para as nossas decisões; quando se está apaixonado, pode comportar-se de forma um pouco estranha. Mas talvez essa resposta emocional tenha algum valor adaptativo. Se evoluiu de forma independente em muitas espécies, isso poderia provar que talvez tenha algum valor adaptativo”, concluiu. O artigo científico foi publicado na Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences.

ZAP //

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