Os pássaros seguem as tendências da moda tal como os humanos

Em 1939, o autor, médico e cientista Henry Smith Williams publicou um livro chamado “The Secret Life of Birds” (“A Vida Secreta das Aves”, em tradução livre). Publicou mais de 100 livros sobre uma série de tópicos, pelo que este não se destacava necessariamente.

Mas a verdade é que Williams tinha um olhar aguçado e alguns anos antes tinha publicado um artigo sobre aves no qual fazia uma afirmação intrigante.

O cientista colocava bolas de fio colorido no jardim, tendo reparado que os pássaros pegavam em parte do fio e utilizavam-no para decorar os seus ninhos – e a cor mais popular mudava de estação para estação. Alguns dos pássaros pegavam numa cor mais cedo, e essa depois tornava-se na cor da moda para outros pássaros.

Na altura, ninguém ligou a essa hipótese. Mas, em 2009, investigadores da Universidade de Toulouse, na França, notaram que as aves estavam a incorporar o mesmo tipo de planta nos seus ninhos, o que também sugere um sentido de moda.

Um novo estudo, publicado recentemente na Behavioral Ecology and Sociobiology e citado pelo ZME Science, sugere a mesma coisa.

Investigadores liderados por Sally Vistalli recriaram a experiência do fio, mas seguiram as aves mais de perto e observaram cuidadosamente tudo o que fizeram. A suposição foi que, uma vez que as aves colocam tanta ênfase no aspeto dos seus ninhos, faz sentido que sigam as tendências culturais.

“Como um importante determinante do sucesso reprodutivo, a construção de ninhos de aves está sob forte seleção e requer plasticidade comportamental para otimizar as condições em que os filhotes se desenvolvem. A aprendizagem é uma forma de plasticidade que permite a adaptação ao ambiente local”, escreveu a equipa.

As aves foram estudadas num bosque nos arredores do Instituto Max Planck de Biologia Comportamental, na Alemanha. Os investigadores localizaram as aves utilizando um dispensador de fio RFID. Cada dispensador continha dois fios de duas cores: ou laranja e rosa ou azul e roxo.

Todos os dispensadores, no entanto, foram manipulados para dispensar apenas um desses fios no início. Depois, assim que detetaram que um dos ninhos já tinha fio, a outra cor foi também desbloqueada.

A equipa também utilizou um controlo numa área separada, onde um sistema semelhante foi implantado, mas no qual os dispensadores de fio forneceram ambas as cores desde o início. A ideia era ver se havia alguma diferença entre a forma como as aves dos dois grupos se comportavam.

No total, as aves construíram 68 ninhos nessa estação e, entre eles, 26 incluíam lã. Entre estes, 18 foram construídos após ambas as cores terem sido disponibilizadas – 10 incluíam apenas a primeira cor de lã escolhida. Entretanto, na área de controlo, 8 ninhos foram feitos com a lã, e todos continham uma mistura de cores.

Os investigadores observaram que esta é uma diferença significativa e apoiam a ideia de que os pássaros seguem as tendências da moda, copiando o comportamento dos primeiros influenciadores. A equipa suspeita que podem ser as aves mais experientes a definir a tendência, e as outros a segui-las.

De qualquer modo, não é inteiramente claro por que razão as aves parecem praticar este comportamento.

“Os pássaros podem refinar o comportamento de construção de ninhos com experiência pessoal ou utilizar informação social para orientar as suas escolhas. Embora existam provas crescentes de um efeito de aprendizagem baseada na experiência na construção de ninhos e na utilização de informação social na seleção de material de nidificação em laboratório, faltam provas experimentais para a utilização de informação social em aves selvagens”, acrescentaram os investigadores.

ZAP //

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