Um novo estudo mostra que os astronautas que passam longas temporadas no Espaço têm mais probabilidade de vir a ter danos cerebrais.
Em comunicado, a equipa de cientistas responsável pela investigação explicou ter seguido cinco astronautas russos, do sexo masculino, que trabalharam na Estação Espacial Internacional (EEI).
Primeiro, os investigadores recolheram amostras de sangue dos cosmonautas 20 dias antes da sua partida para a EEI. Em média, estiveram lá 169 dias, ou seja, cerca de cinco meses e meio. Depois de regressarem à Terra, foram recolhidas novas amostras do seu sangue em três ocasiões: um dia, uma semana e cerca de três semanas depois.
A equipa analisou cinco biomarcadores para danos cerebrais: neurofilamento de cadeia leve (NFL), proteína glial fibrilar ácida (GFAP), total tau (T-tau) e duas proteínas beta amilóides.
No caso de três destes biomarcadores – NFL, GFAP e a proteína beta amilóide Aβ40 –, as concentrações foram significativamente elevadas depois da aventura no Espaço. O pico não ocorreu simultaneamente depois de terem voltado, mas sim ao longo do tempo.
A noção de que as mudanças em questão podem ter influência na função cerebral é substanciada por alterações também vistas em imagens de ressonância magnética do cérebro depois de viagens espaciais.
“Esta é a primeira vez que uma prova concreta de danos nas células cerebrais foi documentada em exames de sangue após voos espaciais”, disse, na mesma nota, Henrik Zetterberg, professor de Neurociência da Universidade de Gotemburgo e um dos autores do estudo publicado, a 11 de outubro, na revista científica JAMA Neurology.
“Isto não só deve ser explorado mais a fundo, como também deve ser evitado para que as viagens espaciais se tornem mais comuns no futuro”, alertou ainda o investigador.
“Para lá chegar, devemos ajudar-nos uns aos outros para descobrir por que razão este dano surge. É por falta de peso, mudanças no fluido cerebral ou fatores stressantes associados ao lançamento e ao regresso? Na Terra, podem ser feitos muitos estudos experimentais em humanos”, destacou.
“Se formos capazes de descobrir o que causa o dano, os biomarcadores que desenvolvemos podem ajudar-nos a descobrir a melhor forma de remediar este problema”, concluiu Zetterberg.