Partygate. Relatório explosivo culpa Boris e relata agressões entre funcionários e insultos à equipa de limpeza

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Number 10 / Flickr

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson

O relatório de Sue Gray sobre o partygate deixa Boris Johnson mal na fotografia, detalhando agressões entre os funcionários em Downing Street, maus-tratos à equipa de limpeza e de segurança. O primeiro-ministro pediu desculpa, mas voltou a recusar demitir-se.

O muito aguardado relatório de Sue Gray encomendado por Boris Johnson às festas em Downing Street foi finalmente divulgado e depois de a tempestade ter acalmado nos últimos tempos, o Governo está novamente em maus lençóis.

O documento relata festas que se arrastaram até às primeiras horas das manhãs, funcionários bebâdos a vomitar e a envolverem-se em lutas e manchas de vinho tinto nas paredes da sede do Governo britânico. A infâme festa de aniversário de Boris Johnson também é referida, com muito álcool à mistura.

O primeiro-ministro está a agora a enfrentar uma nova onda de pedidos de demissão depois da revelação de mais fotografias que o mostram a beber em duas festas e de Sue Gray o ter culpado pessoalmente pelo incumprimento das normas da pandemia durante estes eventos, após Johnson ter sempre alegado que não via as reuniões como festas e que acreditava que estas não eram de cariz social.

No relatório de 37 páginas, Gray descreve 16 eventos ilegais que tiveram lugar na sede do Governo, desde convívios nos jardins, até à festa de aniversário de Boris e festas de despedida para funcionários que estavam de saída de Downing Street.

Várias fotos são mostradas como provas, incluindo duas onde se pode ver Boris a brindar com uma lata de cerveja e com um copo em duas festas separadas.

Gray culpa pessoalmente Boris Johnson pelo sucedido, escrevendo que “a liderança no centro” da sua administração “tem de ser responsabilizada” pela cultura que permitiu que as festas ocorressem e recordando que “alguns dos funcionários inferiores julgaram que a sua participação” nas festas era permitida “já que lá estavam altos dirigentes”, cita a BBC.

A funcionária sublinha que “não há desculpas para alguns dos comportamentos”, que incluíram o “consumo excessivo de álcool” e emails entre os trabalhadores de  onde estes discutiam estratégias para esconderem as festas dos media. Num dos emails, Martin Reynolds, o mesmo secretário que convocou os funcionários para uma festa e pediu que trouxessem bebidas, afirma que “parece que nos safamos“.

 

A pandemia teve “um impacto sísmico em todos os aspectos da vida no país” e o cumprimento das restrições era fundamental, lembrando os sacrifícios pessoais que todos tiveram de fazer, especialmente daqueles que não puderam “ver os seus entes queridos nos seus últimos momentos ou cuidar de amigos e familiares vulneráveis”.

Sue Gray detalha ainda “múltiplos exemplos de uma falta de respeito e maus-tratos aos funcionários encarregues pela limpeza e pela segurança” em Downing Street, o que considera “inaceitável”.

O público britânico tem “o direito de esperar padrões altos de comportamento” em Downing Street e “claramente o que aconteceu ficou bem aquém disso”. Gray recomenda ainda que seja implementada uma “política robusta e clara sobre o consumo de álcool no local de trabalho”.

Não ficam recomendações sobre acções disciplinares, já que Gray considera que essa decisão não lhe cabe a si, isto depois de os eventos em Downing Street já terem sido alvos de uma investigação criminal que levou à cobrança de 126 multas. Boris Johnson e o Ministro das Finanças, Rishi Sunak, estão entre os visados.

Boris pede desculpa, mas recusa demitir-se

Numa comunicação ao país no final da manhã de quarta-feira, Boris Johnson voltou a pedir desculpa pelo escândalo e afirmou que assume a “total responsabilidade” e que aprendeu uma lição.

O primeiro-ministro confessa-se “chocado” com algumas das revelações no relatório. Boris está a ser também investigado pelo Parlamento por ter alegadamente mentido aos deputados quando disse que todas as regras estavam a ser cumpridas, mas garante que acreditava que isso era verdade quando o disse.

“Estou feliz por dizer que quando vim a esta Câmara e disse com toda a sinceridade que as regras estavam a ser seguidas em todas as circunstâncias, eu acreditava que isso era verdade”, sublinha.

Caso seja considerado culpado, o procedimento comum é a demissão do primeiro-ministro, mas Boris têm-se aguentado pela tempestade. A revelação do relatório levou a que o coro de apelos à saída de Johnson voltasse.

“É uma questão de confiança. O Governo concentrou-se em salvar a sua própria pele. É profundamente vergonhoso“, afirmou Keir Starmer, líder dos Trabalhistas, que acusa o Partido Conservador de criar um padrão de comportamento muito baixo para o seu líder.

As atenção estão agora sobre o Comité 1922, composto por deputados Conservadores que não têm cargos governamentais. Johnson reuniu-se na quarta-feira com os seus membros para tentar evitar uma moção de censura interna que o obrigue a a sair do poder.

São precisas 54 cartas a retirarem a confiança a Boris para que o procedimento avance e a Sky News avança que 16 deputados já pediram a sua saída e que há 24 que já puseram em causa a liderança do primeiro-ministro.

Adriana Peixoto, ZAP //

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