Parlamento catalão perdoa 1000 pessoas acusadas de bruxaria, 400 anos depois

Apesar da Inquisição espanhola ser mais benevolente com as acusações de feitiçaria, a região da Catalunha foi uma excepção. O parlamento perdoou agora quase 1000 pessoas condenadas por bruxaria.

Veio com algum atraso, mas o importante é que veio. O parlamento catalão aprovou uma resolução que perdoa oficialmente até 1000 pessoas — maioritariamente mulheres — condenadas pelo crime de feitiçaria há quatro séculos.

A Catalunha junta-se assim à Escócia, Suíça e Noruega, que também já perdoaram oficialmente as mulheres que condenaram por bruxaria ao longo da sua história. Este movimento surgiu depois de mais de 100 historiadores europeus terem assinado um manifesto chamado “Elas não eram bruxas, eram mulheres“, nota o The Guardian.

A resolução aprovada na Catalunha foi apoiada pelos partidos de esquerda e pelos nacionalistas no parlamento e segue-se a uma campanha na revista de História local Sapiens.

O presidente catalão, Pere Aragonès, comentou a história do fenómeno de perseguição às feiticeiras num documentário da TV3 chamado “Bruxas, a grande mentira”, descrevendo-o como “femicídio institucionalizado“.

Estima-se que entre 1580 e 1630, cerca de 50 mil pessoas foram condenadas à morte por feitiçaria na Europa, sendo que 80% eram mulheres. A Inquisição em Espanha foi particularmente forte, forçando judeus e muçulmanos a converterem-se ao Cristianismo, mas era mais céptica nas acusações de feitiçaria.

A região da Catalunha, no entanto, contrariou esta tendência, tendo a caça às bruxas persistindo até ao século XVIII. De acordo com Pau Castell, professor da História na Universidade de Barcelona, esta prevalência explica-se porque os senhores feudais tiveram poder absoluto sobre as áreas rurais e a confissão era considerada prova suficiente para a condenação.

As bruxas eram frequentemente culpadas por mortes inesperadas de crianças, desastres naturais e colheitas fracas. Ao contrário do resto da Europa, onde as bruxas eram queimadas, a Catalunha executava-as através do enforcamento. Algumas vilas até tinham caçadores próprios, como Joan Cazabrujas, cujas acusações levaram à condenação de 33 mulheres.

A Inquisição descobriu depois que a maioria das mulheres acusadas por Cazabrujas eram inocentes, tendo queimado o caçador vivo como castigo. O julgamento mais conhecido em Espanha foi na vila de Zugarramurdi, em Navarra, onde se alegou que homens, mulheres e até padres se reuniam numa cave para praticarem feitiçaria.

No total, 7000 pessoas foram investigadas. No final, 11 foram condenadas, sendo que cinco já tinham morrido na prisão e as restante seis — quatro mulheres e dois homens — foram queimadas vivas.

Quatro parques infantis na vila catalã de Palau-solità i Plegamans já receberam nomes de bruxas condenadas e há planos para que mais ruas e praças da região homenageiem outras vítimas da perseguição.

Adriana Peixoto, ZAP //

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