Um grande estudo internacional chegou à conclusão que o acto de matar é um comportamento natural para os chimpanzés, causado pela competição entre si e não pela interferência humana como se pensava.
Além dos seres humanos, os chimpanzés são os únicos primatas a atacar mortalmente outros membros de sua espécie, mas os primatologistas discordavam sobre as razões deste comportamento.
Uma das hipóteses seria que tal que acontecesse por influência do homem, ao destruir o seu habitat ou pelo facto de os alimentar, acto que aumentaria a sua agressividade.
Mas a nova investigação, publicada na revista Nature, sugere outro motivo.
Selecção natural
Nunca um estudo tinha reunido tantos dados sobre a letalidade dos incidentes entre chimpanzés.
Mais de 30 cientistas analisaram dados recolhidos após a observação de 18 grupos, num total somado de 496 anos de trabalho.
Foram registados 152 assassinatos, 58 dos quais testemunhados pelos investigadores. Os restantes foram contabilizados com base na análise de corpos ou das circunstâncias relativas à morte ou desaparecimento de um chimpanzé.
Ao comparar as taxas em diferentes locais, os cientistas descobriram que o nível de interferência humana – se tinham sido alimentados ou o seu habitat restringido – tinha pouco impacto sobre o número de assassinatos.
Em vez disso, eram as características básicas de cada comunidade que faziam a diferença: o número de machos de um grupo e a densidade populacional de uma área.
Os chimpanzés viviam em colónias bem definidas, com grupos de machos patrulhando as fronteiras de seu território. É nestes locais que os conflitos costumam ocorrer, especialmente se a patrulha encontrar um macaco de uma comunidade vizinha.
Esses parâmetros permitiram relacionar o grau de violência à selecção natural: matar concorrentes aumenta as hipóteses de um macho ter acesso a recursos, como comida e território, e isso ocorre com mais frequência quando há uma competição maior entre grupos vizinhos.
Evolução
Joan Silk, da Universidade Estadual do Arizona, nos Estados Unidos, diz no artigo publicado na Nature que estes resultados “devem enterrar definitivamente a ideia da influência humana”. A violência dos chimpanzés na natureza é “não é resultado da interferência humana“.
Silk afirma que a nossa percepção destes animais, nossos primos na escala evolucionária, pode ser distorcida pelo facto de querermos acreditar que só estão presentes na origem da espécie humana comportamentos agradáveis e pacíficos, não os comportamentos desagradáveis e violentos.
“Esta descoberta não significa que os humanos estão destinados à guerra só porque os chimpanzés matam os vizinhos”, diz Silk à BBC.
John Mitani, um ecologista comportamental da Universidade de Michigan e um dos autores do estudo, concorda.
“As taxas de assassinatos variam muito de um grupo para outro. Mesmo entre eles, os assassinatos não são algo inevitável”.
“E claro, nós somos humanos, podemos moldar o nosso comportamento de formas que os chimpanzés não conseguem”, conclui Mitani.
ZAP / BBC
“E claro, nós somos humanos, podemos moldar o nosso comportamento de formas que os chimpanzés não conseguem” Será?