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Os 10 países onde as pessoas vivem mais – e o que podemos aprender com eles

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Patrick / Flickr

Lucile Randon era a pessoa mais velha do mundo quando morreu em janeiro, aos 118 anos. Conhecida como Irmã André, a freira francesa testemunhou duas guerras mundiais, a chegada do homem à Lua e a era digital.

O caso da Irmã André continua a ser uma exceção, dado que a expectativa média de vida é de 73,4 anos. No entanto, a cada dia que passa as pessoas estão a viver mais, e a longevidade média deve ultrapassar os 77 anos até meados deste século, segundo projeções da Organização das Nações Unidas (ONU).

À medida que a esperança média de vida aumenta, a taxa de natalidade diminui, o que nos torna uma população cada vez mais envelhecida. O mundo já tem mais pessoas acima dos 65 anos do que pessoas abaixo dos cinco anos, embora a situação varie muito entre os países.

Enquanto no Mónaco a esperança média de vida é de 87 anos, na República do Chade, na África Central, é de apenas 53. Depois do Mónaco, aparecem no ‘ranking’ Hong Kong e Macau, enquanto o quarto lugar é ocupado pelo Japão.

Na lista seguem-se Liechtenstein, Suíça, Singapura, Itália, Coreia do Sul e Espanha, de acordo com o relatório Perspetivas da População Mundial da ONU.

Com exceção dos períodos de pandemias e as guerras mundiais, a esperança média de vida aumentou de forma constante a nível global nos últimos 200 anos, a partir do desenvolvimento de vacinas e antibióticos, medicamentos, saneamento, alimentação e melhores condições de vida.

Embora a genética seja um dos fatores mais determinantes, uma maior longevidade costuma também estar associada às condições de vida do local onde a pessoa nasceu e às suas decisões como indivíduo.

Não se trata apenas de ter acesso a um sistema de saúde e a uma alimentação melhor, mas também do que os especialistas chamam de “decisões inteligentes” para ter uma dieta equilibrada, dormir o suficiente, controlar os níveis de stress e praticar exercício físico.

Os países que fazem parte do ‘ranking’ com maior expetativa de vida têm algo em comum: um alto nível de rendimentos. Mas há algo mais que os une: o tamanho.

Patrick Gerland, diretor do departamento de estimativas e projeções populacionais das Nações Unidas, advertiu que na lista há países como Mónaco ou Liechtenstein que, por serem tão pequenos, não representam uma população tão diversificada como a de outras nações.

“Parecem países excecionais, mas na verdade são uma espécie de população artificial. Não é uma combinação aleatória de pessoas como noutras partes do mundo”, indicou.

“O que eles compartilham é um alto padrão de vida, acesso a bons serviços de saúde e educação, mas não é uma seleção aleatória”, disse Patrick Gerland em conversa com a BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

As diferenças podem ser observadas entre os países e também dentro de um mesmo país. Onde há mais desigualdade, aumenta a diferença de expetativa de vida entre os grupos sociais. “Muitos dos países escandinavos, por exemplo, são sociedades mais igualitárias e com uma maior expetativa de vida”, acrescentou o responsável.

As chamadas “zonas azuis” são populações muito pequenas, nas quais as pessoas vivem muito mais do que o resto. Há algumas décadas, o demógrafo Michel Poulain e o gerontólogo Gianni Pes dedicaram-se a pesquisar em que lugares do mundo os mais idosos viviam.

Os especialistas traçaram círculos num mapa, sublinhando as vilas ou cidades em que as pessoas chegavam aos 100 anos. Foi assim que perceberam que uma das partes do mapa tingidas de azul era a região de Barbagia, na ilha italiana da Sardenha, e acabaram designando-a de “zona azul”.

Desde então, a nomenclatura tem sido associada a locais em que os habitantes desfrutam de uma longevidade extraordinária, em boas condições de vida.

Com base neste estudo, o jornalista Dan Buettner montou uma equipa de especialistas para proucrar outras comunidades em que se reproduzia o mesmo fenómeno.

Como resultado, descobriram que, além da Sardenha, havia outras quatro zonas azuis: a ilha de Okinawa, no Japão; a península de Nicoya, na Costa Rica; a ilha de Icaria, na Grécia; e a comunidade adventista de Loma Linda, na Califórnia.

Não há dúvida de que uma genética privilegiada é essencial para viver mais, preservando a maior parte das faculdades físicas e mentais. Mas o grupo de cientistas – médicos, antropólogos, demógrafos, nutricionistas e epidemiologistas – perguntava-se que outros aspetos influenciavam as zonas azuis.

Em 2008, Buettner publicou o livro As Zonas Azuis, e a partir desse momento dedicou-se a desenvolver esse conceito. No entanto, nem todos estão de acordo com as considerações do autor, pois entendem que muitas das suas afirmações são baseadas em observações, e não em estudos científicos de longo alcance.

O que têm em comum as zonas azuis?

Buettner e sua equipa encontraram alguns padrões comuns nas comunidades estudadas que, teoricamente, poderiam explicar por que essas populações apresentam uma longevidade maior e uma melhor qualidade de vida.

O primeiro desses padrões é o propósito na vida: um ikigai, palavra japonesa usada para se referir às “razões de ser” ou, mais precisamente, às razões pelas quais nos levantamos da cama todas as manhãs.

O segundo ponto é que cultivam os laços familiares e o terceiro passa pela redução do stress, interrompendo o ritmo normal da rotina para dar lugar a outras atividades que fazem parte dos hábitos sociais comuns – como tirar a sesta, rezar ou participar da cerimónia do chá.

Além disso, comem sem atingir a saciedade; adotam uma dieta balanceada, que inclui muitos legumes, verduras e frutas; consomem álcool moderadamente; praticam exercício físico regular; possuem um forte senso de comunidade e participam de círculos sociais que promovem comportamentos saudáveis; e fazem parte de grupos que cultivam a fé ou a religião.

Tudo isso dentro de um contexto que inclui, entre outras coisas, um clima amistoso, natureza prolífica, comida saudável e saborosa, vida em comunidade e longe dos grandes centros urbanos.

Embora para fazer parte de uma zona azul seja necessário ter nascido nela e ser um membro ativo dessa comunidade, é possível que alguns desses padrões recorrentes possam ser úteis para quem está interessado em viver mais e melhor.

Além das restrições económicas e do seu mapa genético, alguns dos pontos-chaves a que se dá menos atenção, segundo os especialistas, é a maneira de se relacionar com outras pessoas e encontrar um propósito na vida.

Esse, embora possa parecer simples, é um dos grandes desafios para quem está interessado em ter uma qualidade de vida melhor, por mais tempo.

Especialistas como Luigi Ferrucci, diretor científico do Instituto Nacional do Envelhecimento, nos Estados Unidos, afirmam que idosos saudáveis ​​tendem a ser aqueles que são fisicamente ativos, passam tempo ao ar livre e têm fortes conexões com amigos e familiares.

Algumas pesquisas sugerem que a genética é responsável por cerca de 25% da longevidade, enquanto o restante está relacionado a fatores como local de residência, alimentação, exercício físico e rede de apoio.

No entanto, o peso da lotaria genética em uma vida mais longa e saudável ainda é motivo de debate na comunidade científica.

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