Graças à sua história de mistura de culturas e a sua geografia acidentada, a Papua-Nova Guiné conseguiu preservar uma impressionante diversidade linguística, apesar de ter apenas 10 milhões de habitantes.
Não é a China nem a Índia, ambas nações com mais de mil milhões de habitantes, quem lidera a lista de países onde se falam mais línguas. A resposta é bastante mais surpreendente: a Papua-Nova Guiné.
Esta pequena nação do Pacífico conta apenas com 10,5 milhões de pessoas, segundo o Fundo de População das Nações Unidas, pouco mais do que os 10,2 milhões de habitantes em Portugal — mas tem uma diversidade linguística impressionante, com 840 idiomas vivos.
Mas como é que a Papua-Nova Guiné desenvolveu tamanha diversidade linguística num país tão pequeno?
As raízes desta diversidade remontam a há 40 mil anos, com a chegada dos primeiros colonos humanos, que trouxeram as línguas “papuas”. Estas não formam uma única família linguística, mas sim um conjunto de línguas não relacionadas, incluindo algumas isoladas — línguas sem parentes conhecidos.
Mais tarde, há cerca de 3500 anos, chegaram as línguas austronésias provenientes de Taiwan, adicionando outra camada ao panorama linguístico. No século XIX, as influências coloniais introduziram o inglês e o alemão, enriquecendo ainda mais esta diversidade, explica o The Economist.
A geografia acidentada da Papua-Nova Guiné desempenhou um papel crucial na preservação deste mosaico linguístico. Montanhas, florestas densas e pântanos isolam as comunidades, permitindo que as suas línguas prosperem sem interferência externa.
As divisões tribais e o estilo de vida rural da maioria dos habitantes — apenas 13% vivem em áreas urbanas — também ajudaram a manter esta diversidade e a preservar os idiomas antigos. Segundo o linguista William Foley, as línguas podem evoluir e dividir-se naturalmente ao longo de 1000 anos, dando às línguas papuas tempo suficiente para se diversificarem ao longo de milénios.
No meio desta diversidade, o Tok Pisin, uma língua crioula, emergiu como uma força unificadora. Desenvolvido por comerciantes no século XIX, combina influências do inglês, alemão, português e línguas papuas. A simplicidade e expressividade do Tok Pisin tornaram-no a principal língua para muitos papuanos.
A sua adaptabilidade levou à sua utilização nos meios de comunicação, educação e religião. Por exemplo, “pikinini,” que significa “criança,” tem origem no português, enquanto “susok man,” que significa “urbanita,” traduz-se como “homem sapato-meia” em inglês.
Contudo, o crescimento do Tok Pisin representa uma ameaça à diversidade linguística da Papua-Nova Guiné. À medida que mais pessoas adotam o crioulo, as línguas menores correm o risco de extinção. Até agora, uma dúzia de línguas já desapareceu, e a tendência pode acelerar à medida que o Tok Pisin se torna cada vez mais dominante.