Pacífico Sul aquece. China e EUA mostram os dentes (e tecem alianças)

ZAP // Space Perspectiv; Pixabay

O pacto de segurança entre China e Ilhas Salomão, em 2022, despertou a atenção para a crescente influência de Pequim no Pacífico Sul, e Estados Unidos e Austrália temem agora a abertura de uma base militar chinesa no território.

A preocupação norte-americana em conter a influência chinesa foi demonstrada na visita ao Pacífico Sul, no final de julho, dos secretários de Estado, Antony Blinken, e da Defesa, Lloyd Austin.

Os órgãos oficiais do Partido Comunista Chinês (PCC) reagiram nos últimos dias a esta visita com violência, acusando os norte-americanos de tentar “estimular a competição entre blocos” e de “passar uma vergonha” ao fazê-lo.

No Tonga, Blinken alertou para o “comportamento problemático” de Pequim, numa referência à militarização do Mar do Sul da China e alegadas práticas de coerção económica.

Austin, que se tornou o primeiro secretário norte-americano da Defesa a visitar a Papua Nova Guiné, país vizinho das Ilhas Salomão, comprometeu-se a apoiar a expansão e modernização das Forças Armadas da nação insular, bem como a estabelecer maior “interoperabilidade” entre as forças do país e o Exército norte-americano.

Em editorial, o Global Times, jornal oficial do PCC, afirmou que Blinken e Austin “levaram um balde de água fria” e “passaram vergonha”, nas suas tentativas de “semear divisões” na região.

“É difícil para alguém que não está disposto a ouvir e respeitar os outros ser bem acolhido”, afirmou o jornal. “O sinal recebido pelos EUA tem sido bastante forte: o mundo não quer cair na divisão e confronto, e deseja mais paz e cooperação”.

Para o Global Times, os países insulares da região veem Pequim como um “parceiro confiável”, enquanto Washington quer usá-los para “minar a influência da China”.

“Os EUA querem dizer a estes países que o par de sapatos que estão a usar não lhes serve e que devem antes usar o par oferecido por Washington. Ora, se os sapatos servem ou não, só quem os usa é que sabe”, argumentou.

Para o jornal oficial em língua inglesa China Daily, “as intenções dos EUA no Pacífico Sul são verdadeiramente problemáticas”.

“Há preocupações crescentes de que Washington se está a preparar para um cenário de guerra”, através da “expansão da sua influência estratégica” e do “estimular da competição entre blocos” no Indo-Pacífico, alertou o jornal, em editorial.

No conjunto, as doze nações insulares do Pacífico Sul povoam imensas extensões dos oceanos Índico e Pacífico e detêm vastas zonas marítimas.

À celebração de um pacto de segurança entre a China e as Ilhas Salomão, no ano passado, Washington reagiu com a inauguração de uma embaixada no país, que fica a cerca de 2.000 quilómetros a nordeste da Austrália, e organizou uma cimeira com os líderes da região.

Os EUA também revitalizaram o Diálogo de Segurança Quadrilateral, ou Quad, a parceria entre EUA, Austrália, Japão e Índia, criada em 2007, para impulsionar a cooperação regional após o ‘tsunami’ que em 2004 devastou partes da região.

O objetivo da parceria é agora defender um Indo-Pacífico “aberto, livre e inclusivo”, uma referência implícita às incursões da China naquelas águas, cujo controlo foi fundamental, durante a Segunda Guerra Mundial, para manter linhas de abastecimento logístico e projetar força militar.

A possibilidade de a China estabelecer uma base militar no Pacífico Sul é particularmente preocupante para a Austrália, já que transformaria a forma como Camberra vê as suas configurações de Defesa e segurança nacional, ancoradas na aliança com os EUA.

No entanto, décadas de “negligência” sobre as preocupações destes Estados insulares abriram espaço para a China reforçar a sua posição como parceiro diplomático e importante fonte de financiamento, escreveu Darshana M. Baruah, que lidera a Iniciativa para o Oceano Índico, no grupo de reflexão Carnegie Endowment for International Peace.

“Para estes países, as maiores ameaças à sua segurança são as alterações climáticas, a pesca ilegal, a pirataria, poluição por plástico ou derramamentos de petróleo”, frisou Baruah.

“Enquanto o mundo está a reorientar a sua atenção para as ilhas, por razões geoestratégicas, é necessário entender as perspectivas e vozes destes países, após anos de negligência e inércia”, defendeu.

“Sem essa perspectiva, as maiores nações do Ocidente vão continuar a perder os detalhes no terreno, resultando em estruturas de cooperação ineficazes e desconectadas”.

// Lusa

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