Marty Kedian, um norte-americano que sofria de uma forma rara de cancro da laringe, recebeu em fevereiro o primeiro transplante total de laringe bem sucedido. A laringe desempenha um papel crucial na respiração, deglutição e fala.
Graças ao procedimento de transplante inovador, a voz de Kedian está a regressar gradualmente. Kedian já recuperou quase 60% da sua função vocal.
“A cirurgia e o progresso do doente excederam as nossas expectativas. Trata-se de um enorme feito no lançamento do que acreditamos ser o futuro do transplante de laringe”, afirmou o Dr. David Lott, do Departamento de Otorrinolaringologia da Mayo Clinic, no estado do Arizona.
Este transplante bem sucedido oferece uma nova esperança aos pacientes que enfrentam dificuldades para falar, engolir ou respirar devido a problemas na laringe. A American Cancer Society prevê que, em 2024, haverá cerca de 12.650 novos casos de cancro da laringe nos EUA.
Durante quase duas décadas, Lott e a sua equipa dedicaram-se à investigação do transplante da laringe. O procedimento é altamente complexo, envolvendo a substituição da caixa vocal e das estruturas circundantes. Até à data, apenas foram feitas algumas cirurgias deste tipo em todo o mundo. O transplante de Kedian é o terceiro transplante total de laringe alguma vez feito nos EUA e o primeiro num doente com cancro ativo no país.
A equipa cirúrgica começou por remover o cancro da laringe de Kedian, especificamente o condrossarcoma. Após a remoção do cancro, iniciou-se a operação de transplante, conta o Interesting Engineering.
Uma equipa multidisciplinar conduziu a cirurgia de 21 horas, transplantando com êxito a laringe, a faringe, a traqueia superior, o esófago superior, as glândulas tiroide e paratiroide, bem como os vasos sanguíneos e nervos vitais de Kedian. O caso foi documentado na revista médica Mayo Clinic Proceedings.
“Até agora, os transplantes de laringe têm sido realizados de forma pontual”, afirmou Lott. “Este ensaio clínico permite-nos realizar uma verdadeira investigação científica com o objetivo de investigar exaustivamente a segurança e a eficácia do transplante da laringe como uma opção de confiança para os pacientes”.
Kedian perdeu a voz e a capacidade de engolir normalmente, acabando por necessitar de uma traqueostomia (um orifício no pescoço) para respirar, o que afetou significativamente a sua qualidade de vida.
“Eu estava vivo, mas não estava a viver”, recorda Kedian. “Adoro falar com as pessoas onde quer que vá, mas não conseguia. Sentia-me estranho e não queria sair para lado nenhum”.
Quatro meses após a cirurgia, os resultados mudaram a vida de Kedian. Ele agora pode falar novamente com o seu sotaque original de Boston e pode engolir e respirar de forma independente. Os médicos planeiam retirar o tubo de traqueostomia quando ele voltar a respirar normalmente.