Um grupo de peritos internacionais concluiu que a morte de Pablo Neruda, pouco depois do golpe de Estado realizado por Augusto Pinochet em 1973, não ficou a dever-se a um cancro, como consta na sua certidão de óbito.
O prémio Nobel da literatura Pablo Neruda morreu numa clínica de Santiago, aos 69 anos, alegadamente por causa de um cancro na próstata, mas a família de Neruda não acredita na explicação oficial, que consta da sua certidão de óbito.
Segundo concluiu agora um grupo de peritos internacionais mandatado pela Justiça chilena, a única certeza que há é que a causa apontada na certidão não é correcta. Garantidamente, Pablo Neruda não morreu de cancro.
Após cinco dias de análises, o painel de especialistas convocado pela justiça chilena excluiu com unanimidade a existência de um quadro de “caquexia cancerosa”, em consequência do cancro de próstata de que o poeta sofria.
A caquexia é um estado de desnutrição que atinge pacientes em estado terminal, que se manifesta pela perda de peso, atrofia muscular e extrema fraqueza devido a uma doença prolongada como cancro, tuberculose ou anemia. A versão oficial apontou a existência desta síndrome como causa da morte de Neruda.
Os investigadores, originários de países como o Canadá, a Dinamarca, os EUA, a Espanha e o Chile, não foram capazes, no entanto, de determinar a verdadeira causa da morte do poeta, que continua por resolver.
Os peritos descobriram, no cadáver de Neruda, a presença de uma bactéria não relacionada com o cancro, que vai agora ser estudada em laboratórios canadianos e dinamarqueses, e poderá explicar melhor o mistério da morte do poeta.
“É necessário tentar situar, do ponto de vista da genómica microbiana, o papel desta bactéria na morte do poeta, e saber se é uma bactéria modificada em laboratório e usada como arma biológica ou outro tipo de bactéria”, disse em conferência de imprensa o médico Aurelio Luna Maldonado, porta-voz do grupo de peritos.
Para a família de Pablo Neruda, este terá sido vítima de envenenamento, realizado por agentes do regime de Augusto Pinochet, que dirigiu com mão de ferro a República do Chile entre 1973 e 1990. A hipótese foi no entanto excluída em 2013 por uma análise forense.
Apesar das dúvidas geradas por sua morte repentina, foi necessário esperar quatro décadas para que a versão do assassinato ganhasse força.
Em 2011, um antigo motorista de Neruda, Manuel Araya, que foi também seu assistente pessoal, defendeu que a morte do autor estaria ligada a uma estranha injecção que teria recebido antes de partir para o México, país onde tencionava instalar-se para desenvolver actividades de oposição ao general Pinochet.
Outras declarações alimentaram a versão do assassinato. Pessoas próximas ao poeta afirmaram que o opositor chileno estava bem antes de receber a suposta injecção no hospital em Santiago.
Em 2014, uma equipa de investigadores espanhóis disse ter encontrado a presença de bactérias que poderiam estar relacionadas com o assassinato levado a cabo por agentes da ditadura militar chilena.