Um novo medicamento é capaz de prevenir overdoses de fentanil, durante um mês. Além disso espera-se que o novo tratamento – testado já em macacos – consiga bloquear os efeitos prazerosos do opióide.
Um estudo publicado esta terça-feira, na Nature Communications, revelou resultados promissores de um novo medicamento que pode prevenir os sintomas potencialmente fatais de uma dose elevada de fentanil.
O medicamento foi, para já, testado em macacos, mas, caso funcione também em humanos, poderá ser uma ferramenta poderosa para combater a “epidemia de opióides”, como descreve a New Scientist.
Nos Estados Unidos da América (EUA), a crise dos opióides – substâncias, naturais ou sintéticas, que possuem propriedades e efeitos semelhantes aos do ópio – tem feito soar os alarmes.
Mais de um milhão de pessoas morreu de overdose, desde 1999, nos EUA.
Num passado mais recente, o fentanil – narcótico sintético potente – emergiu como um dos grandes problemas desta crise, havendo, pelo menos, duas causas capazes de o explicar: primeiro, os consumidores de drogas usam estimulantes para contrariar os efeitos sedativos do fentanil; segundo, os traficantes estão a adicionar fentanil (que é mais barato) aos estimulantes que vendem, aumentando inadvertidamente o risco de overdose para os consumidores.
Uma quantidade elevada de fentanil no organismo leva à diminuição da respiração, fazendo reduzir os níveis de oxigénio no sangue. Consequentemente, o risco de morte aumenta.
Resultados promissores
Uma equipa de investigadores da Cessation Therapeutics em San Diego, Califórnia (EUA), liderados por Andrew Barrett, desenvolveu um novo medicamento para bloquear os efeitos do fentanil.
Nos testes, a equipa administrou 0,032 miligramas de fentanil por quilograma de peso corporal – uma dose potencialmente letal para humanos – a quatro macacos, todos os dias, durante quatro semanas.
Em seguida, aplicou-se uma única infusão intravenosa do novo medicamento, e repetiram-se os processos de “drogagem” por mais quatro semanas.
O tratamento protegeu os macacos da diminuição brusca da respiração durante quase um mês; e, após o tratamento, os animais precisaram de uma quantidade 15 vezes maior de fentanil, para terem a mesma diminuição na respiração que tinham antes do tratamento.
Os investigadores procuraram também bloquear os efeitos prazerosos do opióide: “Se conseguirmos bloquear a sensação de euforia produzida pelo fentanil, as pessoas vão deixar de usar, à medida que percebem que não está a fazer efeito”, disse Andrew Barrett, citado pela New Scientist.
Não foram observados efeitos colaterais nem adição do medicamento – que se demonstrou eficaz contra outros 15 compostos semelhantes.
Contudo, não funciona contra outros opióides – como heroína ou oxicodona – uma vez que as estruturas dessas moléculas diferem das do fentanil.