Genocídio no Ruanda originou muitos desfechos dramáticos, mas também foi o ponto de partida para esta história de perdão e amor.
Foram cerca de três meses que arruinaram um país. Em 1994 o Ruanda foi afectado por um verdadeiro genocídio.
Massacres contra a minoria Tutsi, organizada e concretizada pela maioria Hutu, começaram por causa do que aconteceu no dia 6 de Abril de 1994: o presidente do país, Juvénal Habyarimana – que era Hutu – foi assassinado (avião abatido).
Morreram quase um milhão de pessoas. Um período que arruinou um país, que originou muitos desfechos dramáticos e que deixou “feridas” que ainda não foram saradas, quase 30 anos depois.
No entanto, a BBC falou com alguém que demonstra o outro lado desta fase muito negativa no Centro de África.
Chama-se Bernadette Mukakabera e ficou viúva precisamente em 1994, durante o genocídio de Ruanda. Inserido na comunidade Tutsi, o seu marido Kabera Vedaste foi assassinado.
Já em tribunal, durante uma audiência oito anos depois (2004), Gratien Nyaminani – o assassino de Kabera e que tinha sido preso pouco depois do fim do conflito – contou à viúva como matou o seu marido. E pediu perdão.
Bernadette decidiu perdoá-lo. De imediato.
Tratou-se sobretudo de um gesto que mereceria aplausos e reconhecimento; mas tratou-se também da libertação do assassino que, em vez de ser condenado a prisão durante 19 anos, cumpriu serviço comunitário durante dois anos.
Entretanto, começou a criar-se uma relação entre…as duas famílias. A família do assassino e a família do assassinado.
Alfred tinha 14 anos quando o seu pai foi assassinado; Yankurije tinha nove anos quando o seu pai matou Kabera.
Yankurije ainda era uma criança mas quis ajudar a viúva nas tarefas domésticas e a tratar da fazenda: “Ela não tinha mais ninguém para ajudá-la, já que o meu pai era o responsável pela morte do marido dela”.
E aí surgiu o amor.
Alfred apaixonou-se por Yankurije, mais tarde. Ou seja, o filho de Kabera apaixonou-se pela filha do assassino de Kabera.
Bernadette, a viúva, aceitou logo a relação; gostava muito da jovem Yankurije. “Eu sentia que ela poderia ser a melhor nora para mim porque ela entendia-me melhor do que ninguém. Eu convenci o meu filho a casar-se com ela”.
Gratien, o assassino, não gostou muito de saber da proposta de casamento. Hesitava, sobretudo, por causa da ligação eminente à família que ele tinha destruído. Mas acabou por aceitar.
14 anos depois do genocídio, em 2008, Alfred e Yankurije casaram-se mesmo.
Este é um dos exemplos do trabalho da igreja católica no Ruanda, que tem estado focada em juntar as comunidades locais. Há mesmo um momento, público, em que o criminoso pede perdão e está junto à vítima, perante toda a comunidade. É uma espécie de reconciliação final.
Entretanto, o assassino Gratien também morreu. Mas Bernadette insiste: “Os nossos filhos não tiveram nada a ver com o que aconteceu. Eles simplesmente se apaixonaram e nada deveria impedir as pessoas de se amarem”.