Inês Costa Macedo / Vianaouro

O preço do ouro tem subido nos últimos meses, atingindo níveis recorde, à medida que os investidores procuram apostas mais seguras devido à incerteza nos mercados financeiros. Mas será que este metal precioso é realmente um porto seguro?
O ouro é tradicionalmente visto como um ativo confiável e tangível em tempos de crise ou instabilidade financeira.
Num contexto de incerteza na economia mundial, agravada pela guerra comercial lançada recentemente pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o preço do ouro bateu a semana passada um recorde histórico, ao superar a fasquia dos 3.240 dólares por onça e a negociar já muito perto dos 3.250 dólares.
Só em 2025, foi o 23º record batido pela cotação deste metal precioso, nota o Negócios. E não deve parar por aqui: o UBS reviu recentemente em alta o seu “target” para o preço ao longo de 2025, que coloca agora nos 3.500 dólares.
A galopada do preço do ouro nos últimos anos é estonteante. À hora desta edição, o valor de referência da AORP situa-se em 93,674 € / grama. Numa pesquisa desta cotação realizada pelo ZAP em outubro de 2021, o ouro valia 40,330 €/g —uma valorização de mais de 132%, mais do dobro, em pouco mais de três anos.
Mas será que o ouro é realmente um porto seguro?
A instabilidade económica conduz habitualmente a um aumento no preço do ouro, nota a BBC: quando os mercados financeiros afundam, há frequentemente uma súbita “corrida do ouro“, durante a qual um grande número de compradores procura o metal precioso.
Mas, afinal, quem é que está a comprar este ouro?
“Podem ser governos, investidores individuais ou investidores de retalho”, explica Philip Fliers, historiador económico da Universidade de Belfast, na Irlanda do Norte, à BBC. “As pessoas estão a abandonar em massa os investimentos em ações e a migrar para o ouro — e isso faz realmente com que os preços subam”.
Tradicionalmente, o ouro é o metal preferido quando há incerteza global no mercado financeiro. Em 2020, a pandemia de covid-19 causou uma recessão económica, e os preços do ouro dispararam subitamente.
No entanto, essa incerteza também pode afetar o ouro. Em janeiro de 2020, quando o surto de covid-19 surgiu, o preço do ouro disparou — mas pouco depois, em março do mesmo ano, a cotação do metal precioso começou a cair. “Ser um investimento ‘seguro’ não significa que não tenha riscos“, adverte Fliers.
O ouro ainda tem a reputação de ser um investimento ao qual se recorre em tempos de incerteza económica, não só por causa do seu valor, mas também pelo facto de que, ao longo da história e em diferentes culturas, ter sido altamente valorizado e, portanto, facilmente negociável.
Da máscara mortuária de ouro de Tutankhamon, no Egito Antigo, até ao trono de ouro dos Ashanti, no Gana, e aos tronos de ouro do Templo Padmanabhaswamy, na Índia, o metal tem tido historicamente uma importância religiosa e simbólica.
Não é de surpreender que muitas pessoas vejam o ouro como uma forma confiável de guardar a sua riqueza. O valor dos objetos e joias de ouro mantidos em casa geralmente não é afetado pelas mudanças nos mercados financeiros globais.
Mas qualquer investimento pode pode ser vulnerável às ações de grandes agentes financeiros. “Suspeito que muito dos recentes aumentos nos preços do ouro está a ser impulsionado pelos bancos centrais dos governos, que estão a comprar ouro”, diz Fliers.
Os bancos centrais compram habitualmente ouro em grandes quantidades para reforçar as suas reservas — uma forma de se afastarem dos investimentos em mercados financeiros em tempos de incerteza.
Isso significa que investir em ouro pode ser perigoso.
“É uma estratégia arriscada especular sobre o aumento do preço do ouro porque, assim que os mercados se acalmarem e os governos caírem em si, as pessoas vão abandonar o ouro novamente”, explica o historiador. “Eu diria que coisas como investir em ouro devem ser feitas a longo prazo“.
Como vimos acima, entre 2021 e 2025 o preço do ouro mais do que duplicou — e o prazo não foi assim tão longo.