Nem Van Gogh, nem Isabel I e nem sequer… humano. O primeiro ruivo conhecido coaxava e viveu há 10 milhões de anos.
A primeira evidência molecular de feomelanina, pigmento responsável pela coloração ruiva, foi encontrada em sapos ruivos com 10 milhões de anos, fazendo destes animais os primeiros ruivos do mundo.
A feomelanina é um dos dois principais tipos de melanina — a par da eumelanina — e é responsável pela coloração amarela a vermelha em cabelos, pele e penas de várias espécies.
Este tipo de coloração é observado em diversas espécies animais, desde mamíferos como o esquilo-vermelho e a raposa até a algumas aves como o cardeal, mas nunca tinha sido visto em fósseis tão antigos como estes agora descobertos.
A presença de feomelanina não oferece a mesma proteção contra raios ultravioleta que a eumelanina, tornando estes animais potencialmente mais suscetíveis a danos causados pelo sol.
A inovadora descoberta, publicada na revista científica Nature Communications, está a ser encarada como estimulante em vários sentidos, uma vez que não só redefine parte da nossa compreensão da evolução dos perfis da cor, como abre novas portas ao estudo dos animais antigos e o papel da sua coloração.
De acordo com a cientista Tiffany Slater — que a par de Maria McNamara lidera o estudo da Universidade College Cork (UCC), na Irlanda — a descoberta oferece ainda um inovador método para detetar diferentes tipos de pigmentos de melanina numa multitude de criaturas fossilizadas, diz em comunicado.
“Isto permitirá criar uma imagem mais precisa da cor dos animais antigos e responder a questões importantes sobre a evolução das cores nos animais”, afirmou.
A coloração ruiva em animais é frequentemente resultado de uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Em alguns casos, a cor vermelha pode ter um papel em rituais de acasalamento ou em sinais de alerta contra predadores. Além disso, a coloração pode variar sazonalmente em algumas espécies, dependendo de fatores como dieta e exposição à luz solar.
Anteriormente, a viabilidade de obter detalhes moleculares a partir de fósseis era questionável, devido à sua exposição aos elementos rigorosos da natureza durante milhões de anos. No entanto, esta descoberta prova o contrário.
Embora os fósseis sofram alterações químicas devido ao calor e à pressão, retêm sempre vestígios de biomoléculas originais.
“As nossas experiências de fossilização foram fundamentais para entender a química dos fósseis”, observou McNamara, sublinhando que existe um potencial inexplorado para investigar a evolução bioquímica dos animais, graças ao registo fóssil.
Curiosamente, a feomelanina é atualmente tóxica para os animais, facto que vem alimentar o mistério em relação à nova descoberta.
“Os cientistas ainda não sabem como – ou porque é que – a feomelanina evoluiu, uma vez que é tóxica para os animais, mas o registo fóssil poderá desbloquear esse mistério”, concluiu Slater.
A análise dos sapos fossilizados mostrou que, apesar de estarem sujeitas a milhões de anos de calor e pressão, ainda é possível discernir detalhes moleculares, oferecendo uma oportunidade inestimável não só para compreender a evolução da cor em animais antigos, mas também para explorar as mudanças bioquímicas mais amplas que ocorreram ao longo de milhões de anos.