O uso de pequenos robôs pode trazer benefícios como a redução da carga de trabalho, o uso mais localizado de pesticidas e herbicidas ou a remoção a laser de ervas daninhas. Mas a robótica pode também ter efeitos nefastos na agricultura.
Já não são coisa de ficção científica – os robôs agrícolas chegaram, e vieram para ficar. De acordo com o estudo do economista agrícola Thomas Daum, publicado na revista Science & Society em Julho, há dois cenários que nos esperam, ou uma utopia ou uma distopia.
O cenário mais positivo é digno de um filme da Disney e resume-se à harmonia entre a natureza e um grupo de pequenos robôs inteligentes, que juntos tratam de criar culturas diversas. Segundo a Schitech Daily, Daum descreve esta utopia como um mosaico de campos verdes e ricos, correntes e flora e fauna selvagens, com frotas de pequenos robôs alimentados com energias sustentáveis a circular pelos campos.
“É como o jardim do Éden. Pequenos robôs podem ajudar a conservar a biodiversidade e a combater as alterações climáticas de formas que não eram possíveis até agora”, afirma o autor do estudo, que é também um investigador na área do desenvolvimento de estratégias agrícolas na Universidade de Hoheinheim, na Alemanha.
Esta utopia tem uma carga de trabalho demasiado exigente para a agricultura tradicional, mas é possível com robôs que trabalham 24 horas por dia. O ambiente também sairia a ganhar, como mais diversidade de plantas e como um solo mais rico em nutrientes.
Os robôs permitiriam também usar micro-sprays para espalhar pesticidas de forma estratégica e a remoção de ervas daninhas a laser, o que beneficia as populações de insectos e as bactérias do solo, assim como garante uma maior qualidade da água.
Os rendimentos das colheitas orgânicas também seriam maiores, visto que são actualmente muito mais pequenos do que os das colheitas tradicionais, e seria reduzida a pegada ambiental da agricultura.
A robótica agrícola também pode ser prejudicial
No entanto, esta evolução tecnológica também pode ter um lado negro. Neste cenário, robôs grandes e tecnologicamente em bruto arrasariam a paisagem natural e poucas monoculturas dominariam os campos.
Grandes vedações isolariam as pessoas, as quintas e a vida selvagem entre si e os químicos e pesticidas poderiam ser usados ainda mais com o afastamento dos humanos das culturas. Apesar do maior controlo, este cenário teria um impacto nefasto no ambiente.
Daum não acredita que o futuro seja ou preto ou branco e o mais provável é que a realidade seja um híbrido das duas opções. No entanto, o autor espera que criar esta comparação entre a utopia e a distopia seja a faísca necessária para acender o debate.
“A utopia e a distopia são ambas possíveis de uma perspectiva tecnológica. Mas sem as protecções certas nas políticas, podemos acabar sem querer na distopia se não discutirmos isto agora”, refere Thomas Daum.
Os impactos não se restringem ao ambiente, já que a saúde e a carteira dos consumidores também vão ser afectados. “Na utopia, não produzimos só cereais – também temos muitas frutas e vegetais cujos preços cairiam -, por isso uma alimentação mais saudável seria mais barata”, explica o investigador.
Os pequenos robôs no cenário utópico de Daum também seriam mais acessíveis para agricultores de pequena escala do que as grandes máquinas usadas na versão mais negra, que só grandes produtores conseguiriam comprar e suportar os custos.
Nos locais onde já há muitas quintas mais pequenas, a tentativa de chegar à utopia traria benefícios claros em partes da Europa, Ásia e África. Já no caso dos Estados Unidos, Rússia ou Brasil, a agricultura é dominada pelos latifúndios e grandes produtores, pelo que nos robôs pequenos seriam pouco úteis e eficientes a nível económico.
“Apesar de ser verdade que as pré-condições para robôs pequenos são mais desafiadores nestas áreas, até com robôs grandes – ou com uma mistura entre pequenos e grandes – podemos dar passos a caminho da utopia com prácticas como o cultivo intercalar, criar sebes ou a agrossilvicultura, e afastar-mo-nos das quintas grandes para terrenos mais pequenos geridos por grandes produtores”, comenta Daum.
Alguns dos aspectos do futuro desejado pelo investigador já são uma realidade, como a remoção de ervas daninhas com lasers. Mas faltam os fundos para se estudar com profundidade o potencial que a inteligência artificial tem para ser usado na agricultora.
Mudanças políticas e incentivos como subsídios podem ser a alavanca que falta para que se explore mais o uso de robôs na agricultura. “Na União Europeia, por exemplo, os agricultores recebem dinheiro quando fazem alguns serviços para a paisagem, como ter muitas árvores ou rios nas suas quintas”, conclui o autor do estudo.