Os planetas vão deixar de ter que orbitar o Sol (e ser esféricos)

NASA/JPL

O nosso Sistema Solar tem oito planetas, como se pode ver nesta ilustração. A imagem toma algumas liberdades, uma vez que os planetas estão representados muito mais próximos uns dos outros do que realmente estão. Da mesma forma, os tamanhos relativos dos corpos são incorretos.

Cientistas planetários estão a propor uma nova definição de planeta para substituir a que muitos investigadores consideram centrada no Sol e desatualizada.

A definição atual de “planeta”, estabelecida em 2006 pela União Astronómica Internacional, ou UAI, a organização que nomeia oficialmente os objetos astronómicos, especifica que, para se qualificar como planeta, um corpo celeste tem de orbitar o Sol dentro do nosso Sistema Solar.

Mas os cientistas sabem que os corpos celestes que orbitam estrelas para lá do nosso Sistema Solar são bastante comuns, e um artigo científico a publicar em breve na revista The Planetary Science Journal propõe uma nova definição de planeta — que inclua o facto de não estar limitado ao nosso Sistema Solar.

A proposta também fornece critérios quantitativos para clarificar ainda mais a definição de planeta.

Jean-Luc Margot, autor principal do artigo científico e professor de Ciências da Terra, Planetárias e do Espaço e também de Física e Astronomia na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles), apresentará a nova proposta na Assembleia Geral da UAI em agosto.

De acordo com a definição atual, um planeta é um corpo celeste que:

  • orbita o Sol
  • é suficientemente massivo para que a gravidade o tenha forçado a assumir uma forma esférica
  • tenha “limpo” outros objetos próximos da sua órbita em torno do Sol

“A definição atual menciona especificamente a órbita do nosso Sol. Atualmente, sabemos da existência de milhares de planetas, mas a definição da UAI aplica-se apenas aos que se encontram no nosso Sistema Solar”, disse Margot.

“Propomos uma nova definição que pode ser aplicada a corpos celestes que orbitam qualquer estrela, remanescente estelar ou anã castanha”, acrescenta.

Os autores argumentam que, se por um lado o requisito de orbitar o nosso Sol é demasiado específico, por outro lado outros critérios da definição da UAI são demasiado vagos.

Por exemplo, diz-se que um planeta “limpou a sua órbita” sem se dizer o que isso significa. A nova definição proposta contém critérios quantificáveis que podem ser aplicados para definir planetas dentro e fora do nosso Sistema Solar.

Na nova definição, um planeta é um corpo celeste que:

  • orbita uma ou mais estrelas, anãs castanhas ou remanescentes estelares;
  • tem uma massa superior a 1023 kg;
  • tem menos que 13 massas de Júpiter (2,5 X 1028 kg).

Margot e os coautores Brett Gladman, da Universidade da Colúmbia Britânica, e Tony Yang, um estudante do ensino secundário em Temecula, no estado norte-americano da Califórnia, aplicaram um algoritmo matemático às propriedades dos objetos do nosso Sistema Solar para ver que objetos se agrupavam.

A análise revelou grupos de qualidades distintas partilhadas pelos planetas do nosso Sistema Solar que podem ser utilizadas como ponto de partida para criar uma taxonomia para os planetas em geral.

Por exemplo, se um objeto tem gravidade suficiente para limpar a vizinhança, quer acumulando quer expulsando objetos mais pequenos, diz-se que é dinamicamente dominante.

“Todos os planetas do nosso Sistema Solar são dinamicamente dominantes, mas outros objetos — incluindo planetas anões como Plutão e asteroides — não o são”, disse Margot. “Por isso, esta propriedade pode ser incluída na definição de planeta”.

O requisito de dominância dinâmica fornece um limite inferior para a massa. Mas os potenciais planetas também podem ser demasiado grandes para se enquadrarem na nova definição.

Alguns gigantes gasosos, por exemplo, são tão grandes que ocorre aí a fusão termonuclear do deutério, o objeto torna-se um objeto subestelar chamado anã castanha e, portanto, não é um planeta. Este limite de massa foi determinado em 13 ou mais Júpiteres.

O requisito atual de ser esférico, por outro lado, é mais problemático. Os planetas distantes raramente podem ser observados com detalhe suficiente para determinar, com exatidão, a sua forma.

Os autores argumentam que o requisito da forma é tão difícil de implementar que é efetivamente inútil para fins de definição, apesar dos planetas serem geralmente redondos.

“Ter definições ancoradas numa quantidade mais facilmente mensurável — a massa — elimina as discussões sobre se um objeto específico cumpre ou não o critério”, disse Gladman. “Esta é uma fraqueza da definição atual“.

A boa notícia é que, no Sistema Solar, os corpos celestes com mais de 1021 kg parecem ser redondos. Assim, espera-se que todos os corpos que satisfaçam o limite inferior de massa proposto de 1023 kg sejam esféricos.

Embora qualquer alteração oficial à definição de planeta da UAI esteja provavelmente a alguns anos de distância, Margot e os seus colegas esperam que o seu trabalho inicie uma conversa que resulte numa definição melhorada.

// CCVAlg

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