Preferem socializar do que descansar. Mas não faz mal, porque têm sempre a tarde no dia a seguir. E também fazem a cama, (quase) como nós.
Os orangotangos selvagens sacrificam horas de sono durante a noite para passarem tempo junto de outros membros da sua espécie.
O comportamento, desvendado em estudo publicado esta quarta-feira na Current Biology, mostra-nos que os primatas dão grande importância à socialização e que os “cochilos” que tiram ao longo do dia — como muitos humanos — ajudam-nos a recuperar da noitada.
A equipa liderada por Caroline Schuppli e Alison Ashbury do Max Planck Institute of Animal Behavior acompanhou 53 orangotangos adultos em Sumatra, na Indonésia, de 2007 a 2023, do amanhecer ao anoitecer, de acordo com o Popular Science. Os hábitos de sono, alimentação, deslocações e interações sociais dos primatas foram registados.
Todas as noites os grandes primatas constroem um ninho de folhas e ramos no topo das árvores, onde ficam em média quase 13 horas — entre cerca das 17h40 e as 6h30 da manhã seguinte. Mas parte deste tempo não é passado a dormir. Estima-se que, no total, durmam menos de 10 horas por noite.
Durante o dia, os orangotangos fazem pequenas sestas que, em média, duram cerca de 10 minutos cada, totalizando aproximadamente 76 minutos diários divididos por vários períodos e ninhos distintos. Tal como nos humanos, estas curtas pausas demonstram ser eficazes na recuperação de energia após noites mal dormidas.
O fator que mais influenciou a duração do sono noturno foi a presença de outros orangotangos a dormir nas proximidades. Por cada parceiro social adicional num raio próximo, os orangotangos reduziram o tempo no ninho em cerca de 14 minutos. E quando o primeiro indivíduo abandonava o ninho pela manhã, os restantes seguiam o exemplo, acordando e iniciando o seu dia mais cedo do que quando dormiam sozinhos.
Socializar pareceu ser mais importante do que descansar, e outros fatores ambientais influenciaram os padrões de sono, como a temperatura e a quantidade de chuva.
As noites frias e os dias quentes reduziram os períodos de descanso, sugerindo que existe uma faixa térmica ótima para dormir, tal como acontece com os humanos. A quantidade de deslocações durante o dia também interferiu: quanto mais os orangotangos se deslocavam, menos tempo sobrava para dormir, geralmente devido a deitar-se mais tarde. Em contrapartida, nos dias de chuva, aumentavam o número e a duração das sestas.
Um aspeto curioso observado pelos cientistas foi a prática dos orangotangos em preparar os seus ninhos antes de dormir, comportamento que se assemelha ao ritual humano de “fazer a cama”. Para as sestas diurnas, os ninhos eram mais simples e rápidos de construir, enquanto os ninhos noturnos eram mais elaborados e confortáveis.