Os humanos sobreviveram a uma catástrofe climática global há 8200 anos

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Wikimedia Commons

Lago Baikal congelado, no Inverno

Humanos tiveram de se adaptar rapidamente em várias partes do mundo. Evento serve de aviso para os dias de hoje.

O último período glaciar terminou há cerca de 11.700 anos, mas há cerca de 8.200 anos, os humanos viram-se forçados a enfrentar uma queda dramática nas temperaturas globais que ficou conhecido para a história como o evento de arrefecimento 8200 ap (antes do presente, marcação de tempo utilizada na arqueologia, paleontologia e geologia).

Nessa altura, as temperaturas desceram até 6°C em poucas décadas, e os seres humanos tiveram de se adaptar rapidamente às novas condições ambientais. Algumas comunidades migraram, enquanto outras permaneceram no local e alteraram as suas estratégias de subsistência. Mas como mostra um estudo publicado recentemente na Quaternary Environments and Humans, as sociedades responderam de forma diferente.

A equipa liderada por Rick Schulting da Universidade de Oxford examinou quase 300 vestígios datados por radiocarbono e registos ambientais do noroeste da Europa ao sul da Sibéria, com base em dados ambientais e arqueológicos regionais. Usou dados de pólen e carvão vegetal de sedimentos lacustres que ajudaram a reconstruir com alta precisão os climas e as mudanças na vegetação do passado.

A equipa descobriu todo um leque de estratégias de adaptação. No fiorde de Oslo, na Noruega, por exemplo, os assentamentos aumentaram, indicando que as comunidades costeiras provavelmente dependiam de recursos marinhos estáveis, como peixes, focas e mariscos; no Lago Baikal, na Sibéria, a abundância aquática semelhante significava que havia sinais mínimos de perturbação entre as populações locais.

Na região a região do Lago Onega, no noroeste da Rússia, registou-se um aumento na utilização de cemitérios. Não por terem ocorrido mortes em massa, mas como reflexo da crescente aglomeração social em torno de fontes de alimento fiáveis, como peixe e alces.

No oeste da Escócia, as populações parecem ter abandonado as zonas costeiras, possivelmente em busca de refúgio no interior, longe do clima marítimo mais rigoroso.

Tudo isto serve de aviso para os dias de hoje. “Da mesma forma que há 8200 anos, os seres humanos de hoje também terão de encontrar maneiras de se adaptar à crise resultante”, diz à New Scientist Mikael Manninen, da Universidade de Helsínquia, na Finlândia.

“Sabemos, pelas mudanças climáticas modernas, que os impactos ambientais variam drasticamente de uma região para outra”, diz Philippe Crombé, da Universidade de Ghent, na Bélgica. “Este estudo deixa claro que o mesmo era verdade no passado.”

“As pessoas não se importam se está 1 ou 2 graus mais quente ou mais frio, até que isso afete os padrões de precipitação, as migrações dos animais, os tipos de plantas disponíveis”, enumera Rick Schulting, de Oxford.

“Se fores um caçador-coletor podes simplesmente ir embora quando o ambiente se torna hostil de repente, mas isso é muito mais difícil e fazer quando se tem estradas, cidades e cadeias de abastecimento. Esse tipo de mobilidade é um luxo que já não temos”, explica o investigador.

ZAP //

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