Há uma suposição generalizada de que os homens são, naturalmente, mais orientados do que as mulheres. Contudo, pode não ser totalmente verdade.
Um novo estudo publicado na Royal Society Open Science diz que há boas razões para duvidar que qualquer diferença aparente entre as capacidades de orientação dos homens e das mulheres se deva à seleção natural.
Isto significa que, se existem diferenças, então nada tem que ver com o facto de os homens terem evoluído para serem melhores.
De acordo com o IFL Science, o estudo centrou-se na cognição espacial, onde centenas de estudos e algumas meta-análises acumularam resultados que se resumem a: os homens superam as mulheres de forma estatisticamente significativa em múltiplas tarefas espaciais e em diferentes graus.
Trata-se de uma ideia bastante popular e muito enraizada principalmente no pensamento Ocidental, de acordo com os autores do estudo.
“A tendência para explicar as diferenças entre os sexos como produtos da seleção natural é especialmente comum na psicologia evolutiva, onde existe uma preocupação de longa data com as diferenças cognitivas entre os sexos”.
Por sua vez, a explicação padrão — conhecida como a hipótese da adaptação específica do sexo — explica este facto comparando-o com outras espécies, especialmente aquelas em que os machos têm maiores áreas de habitação do que as fêmeas.
Nestes casos, presume-se que os machos são mais selecionados do que as fêmeas no que se refere às suas capacidades de orientação.
Para testar esta hipótese, os cientistas norte-americanos de várias organizações examinaram as diferenças na orientação em 21 espécies diferentes, incluindo seres humanos, e compararam os tamanhos das suas áreas de residência.
Assim, alguns animais examinados incluíam lontras asiáticas de garras pequenas, rãs venenosas, ratos da Califórnia, chimpanzés, ratos, cavalos, pandas gigantes e várias espécies de ratazanas.
Os resultados revelaram muito poucas provas das diferenças entre os sexos no tamanho da área da residência que se correlacionassem com a capacidade de orientação de cada espécie.
“Ao longo do último meio século, foram investidos recursos significativos para testar a hipótese da adaptação específica do sexo como explicação para as diferenças sexuais nas capacidades de orientação”, escreveram os autores.
“Numa meta-análise anterior, descobrimos que as provas eram fracas e, neste artigo com um conjunto de dados alargado, encontramos novamente poucas provas que apoiem a hipótese de adaptação específica do sexo”, acrescentam.
As diferenças de sexo no comportamento ou no desempenho podem resultar de fatores biológicos ou culturais, nenhum dos quais resulta necessariamente da evolução em todos os casos.
Por exemplo, a plasticidade do cérebro significa que é particularmente bom a reestruturar-se — um fator frequentemente ignorado.
Por sua vez, os psicólogos consideram uma característica inata, se for culturalmente universal, mas isso não se aplica às competências espaciais.
“Provas recentes em populações de subsistência sugerem fortemente que a diferença de sexo na navegação espacial em humanos não é universal cultural”, explicam os autores. “Pelo contrário, desaparece em culturas em que os homens e as mulheres têm um comportamento de alcance semelhante”.
“Acreditamos que a investigação futura sobre as diferenças entre os sexos na navegação humana deve centrar-se no papel da socialização e da cultura, e não em fatores genéticos evolutivos”, concluem.