Os extraterrestres podem já saber que nós existimos

Reprodução/NASA, ESA, CSA, and J. Lee (NOIRLab), A. Pagan (STScI)

Se houvesse provas concretas de vida extraterreste, será que os extraterrestes saberiam da nossa existência? Esta é uma questão que os cientistas estiveram a debater durante os últimos anos.

Apesar de décadas a escutar sinais de rádio reveladores e a procurar sinais de que outros mundos possam ser vagamente habitáveis, até agora as hipóteses têm sido escassas.

Embora os astrónomos tenham identificado alguns candidatos possíveis para a existência de vida noutras partes do Universo — juntamente com um ou outro sinal misterioso — ainda não há provas concretas de vida extraterrestre.

Mas e se existisse? E se eles estivessem a olhar para trás, a tentar encontrar-nos? Saberiam que existe vida na Terra?

Segundo a BBC, esta é uma questão que os cientistas tiveram
nos últimos anos, à medida que continuamos a transmitir inadvertidamente
a nossa presença para a galáxia.

“Se nos virmos ao espelho no Espaço, o que é que eles veem de nós?”, questiona Jacqueline Faherty, astrofísica do Museu Americano de História Natural, nos EUA.

“Estamos a olhar. Isso significa que outros mundos também podem estar a olhar”.

Até à data foram encontradas mais de 5.000 planetas a orbitar outras estrelas da nossa galáxia, os chamados exoplanetas. Mas estas observações ainda estão a dar os primeiros passos – é provável que existam biliões de mundos espalhados pela Via Láctea.

Em alguns destes mundos, começamos a procurar assinaturas químicas nas suas atmosferas que possam indicar atividade biológica e até tecnoassinaturas que possam ser emitidas por formas de vida inteligentes — sinais de rádio enviados propositada ou acidentalmente na nossa direção.

Em 2021, Faherty descobriu que existiam cerca de 2000 estrelas num raio de 300 anos-luz da Terra que poderiam potencialmente ser capazes de ver um trânsito deste tipo. “É uma boa quantidade de mundos”, diz.

O melhor indicador de vida na Terra, a partir de tais observações, poderá ser o oxigénio, o azoto e o vapor de água, de acordo com Paul Rimmer, astroquímico da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, o que “seria uma indicação de oceano líquido estável”.

O dióxido de azoto pode também fornecer algumas pistas sobre o facto de o nosso planeta ter sido habitado por uma forma de vida inteligente. O gás é “basicamente um subproduto da combustão”, diz Hector Socas-Navarro, um astrofísico do Instituto de Astrofísica das Ilhas Canárias, em Espanha.

“Por isso, podem deduzir que estamos a queimar coisas aqui”.

Os clorofluorocarbonetos provenientes de aerossóis, refrigerantes e outras fontes podem também ser um sinal de atividade industrial no nosso planeta.

“Temos quase a certeza de que só podem ser produzidos pela tecnologia”, diz Macy Huston, astrónomo da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos EUA.

No entanto, uma das tecnoassinaturas mais reveladoras da Terra poderá não ser os nossos poluentes atmosféricos ou sinais de rádio, mas sim as luzes da nossa cidade.

Em 2021, Beatty calculou que o sódio emitido por essas luzes poderia ser detetável na atmosfera de um planeta. “Tem características espectrais muito nítidas. Nunca conseguiria isso através de um processo natural”.

É provável que a Terra, na sua forma atual, não seja suficientemente urbanizada para ser detetável dessa forma, pelo menos dentro dos parâmetros dos nossos próprios telescópios.

Menos de 1% da superfície da Terra está coberta por cidades. Se o desenvolvimento continuar ao ritmo atual, 2150 a urbanização poderá ter aumentado 10 vezes os seus níveis atuais e poderemos então brilhar como um farol de telescópios modernos, diz Beatty.

Mas as civilizações extraterrestres com telescópios mais avançados poderão já ser capazes de nos detetar. “É perfeitamente possível que haja astrónomos extraterrestes que tenham construído um telescópio espacial de 100 metros e que nos possam estar a ver neste momento”, afirma.

Mesmo que os astrónomos extraterrestres tivessem um telescópio mais pequeno, que só conseguisse ver o ponto ténue do nosso planeta, talvez conseguissem descobrir que ele é habitado.

Conhecendo a inclinação e a rotação da Terra, a luz emitida pelo nosso planeta poderia ser usada para fazer um mapa rudimentar da nossa superfície, mostrando a terra, os oceanos e até as linhas costeiras, de acordo com Jonathan Jiang, astrofísico do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, nos EUA.

“Desde que se consiga ver um ponto de luz, é possível analisá-lo”, diz Jiang, que utilizou uma nave espacial no nosso Sistema Solar em 2018 para demonstrar a técnica na Terra.

Na realidade, os cientistas estão mais ansiosos por dar a conhecer a nossa presença e, ocasionalmente, até enviam mensagens intencionais para o Universo, como um famoso sinal de rádio de alta potência contendo um simples quadro sobre a humanidade enviado pelo — agora extinto — radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico, em 1974.

“À medida que a humanidade continua a alterar o nosso planeta, presumindo que não acabamos com a nossa própria existência primeiro através da guerra e de outros meios, é provável que a Terra se torne cada vez mais visível“.

Socas-Navarro diz que os astrónomos extraterrestres poderão mesmo um dia detetar a nuvem de satélites que orbita o nosso planeta. Teríamos de ter “mil milhões de vezes mais do que temos agora, o que parece muito”, afirma.

“Mas passamos de um carro para mais de mil milhões de carros em poucas décadas”

Para já, os sinais da nossa existência são mais modestos, mas ainda assim detetáveis. “Eles não precisam de milagres”, diz Seth Shostak, astrónomo sénior do Instituto Seti (Search for Extraterrestrial Intelligence), nos EUA. “Só precisam da tecnologia que nós temos, mas numa escala maior”.

A verdadeira pergunta que devemos fazer é: alguém está a olhar para nós para reparar?

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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