Uma análise de vocalizações de elefantes da savana africana sugere que estas criaturas majestosas inventam nomes uns para os outros — o que os torna os únicos animais, para além dos humanos, que o fazem.
Estudos recentes revelaram nas últimas semanas aspetos fascinantes da vida dos elefantes.
Em fevereiro, um estudo inédito publicado no Journal of Threatened Taxa, mostrou que os elefantes choram e enterram os seus mortos.
E em maio, um estudo publicado na revista Communications Biology revelou que estas criaturas majestosas utilizam uma combinação de sons, gestos e, possivelmente, aromas para cumprimentar os seus amigos.
Agora, um novo estudo, publicado esta segunda feira na Nature Ecology & Evolution mostra que os elefantes africanos inventam nomes uns para os outros.
De acordo com os autores do estudo, conduzido por investigadores da Universidade do Colorado, nos EUA, os elefantes poderão ser os únicos animais, para além dos humanos, a inventar nomes arbitrários uns para os outros, de acordo com uma análise de gravações efetuada com recurso a machine learning.
A análise revelou que alguns chamamentos dos elefantes da savana africana (Loxodonta africana) parecem conter componentes semelhantes a nomes específicos de determinados indivíduos.
Além disso, os indivíduos conhecem os seus nomes, respondendo mais fortemente do que os outros quando as chamadas que lhes são dirigidas são reproduzidas num altifalante.
“Já tinha reparado, há alguns anos, que quando um elefante dava um sinal de contacto, num grupo de elefantes, via um indivíduo levantar a cabeça, ouvir e responder”, diz Joyce Poole, co-autora do estudo e investigadora da ElephantVoices, uma pequena organização que estuda os elefantes e procura protegê-los.
“E os outros pareciam simplesmente ignorar o elefante. Por isso, perguntei-me se as chamadas estariam a ser dirigidas a um indivíduo específico”, explica Poole, citada pela New Scientist.
Mais de 600 gravações feitas por Poole e outros foram agora analisadas por Michael Pardo da Universidade do Estado do Colorado e seus colegas. As gravações incluíam roncos de contacto, feitos quando o destinatário está fora de vista, e roncos de saudação, feitos quando um elefante se aproxima de outro.
Os investigadores sabiam quais os indivíduos que estavam a chamar e a responder em cada caso. Num quarto dos casos, o software criado pela equipa foi capaz de prever qual o indivíduo a quem se dirigia, um resultado significativamente melhor do que o acaso.
Em seguida, os investigadores reproduziram alguns dos ruídos para pares de elefantes, incluindo o indivíduo “nomeado”, e descobriram que o elefante nomeado respondia mais fortemente: aproximava-se mais rapidamente do orador, fazia chamadas em resposta mais rapidamente e também fazia mais chamadas do que o outro indivíduo não nomeado.
Estudos anteriores mostraram que os golfinhos e várias espécies de aves chamam indivíduos específicos imitando o som emitido pelo animal que estão a chamar. No entanto, a equipa não encontrou provas de que os elefantes se imitassem uns aos outros.
Por outras palavras, parecem estar a utilizar sons arbitrários como nomes, tal como fazem os humanos, diz Poole.
O que a análise não revelou é se diferentes elefantes partilham o mesmo nome para um indivíduo específico. É possível que cada elefante tenha o seu próprio conjunto de nomes para os outros.
“Connosco, temos nomes formais, mas indivíduos diferentes podem referir-se à mesma pessoa com alcunhas diferentes”, diz Poole. “Portanto, pode ser algo desse género. Acho que ainda não sabemos“.
“A ideia de que os elefantes podem usar vocalizações específicas individuais para atrair indivíduos específicos é nova, excitante e abre a porta a uma compreensão muito mais matizada das vidas sociais ricas que estes animais têm”, considera Daniel Blumstein, investigador da Universidade da Califórnia, Los Angeles, que não esteve envolvido no estudo.
Poole considera que o seu estudo é apenas o início para compreender a comunicação dos elefantes. “Há camadas de complexidade na comunicação dos elefantes que vão levar algum tempo a desvendar, por isso penso que vamos ter muitas mais descobertas interessantes nos próximos anos”, diz.
“Por exemplo, a investigadora suspeita que os elefantes também podem vocalizar nomes de lugares. Quando dão os seus roncos de ‘vamos‘, em que indicam a direção que querem seguir aos outros indivíduos do grupo, podem estar a dizer exatamente para onde querem ir“, diz Poole.