Os cientistas têm ido “a Marte na Terra” (e nós também podemos fazê-lo)

A Ilha de Devon, a maior ilha desabitada do planeta, é usada como cobaia para testar as condições de habitabilidade em Marte, desde o início do século. E é possível ir até lá através de uma simples pesquisa no Google Street View.

A Ilha de Devon situa-se no Ártico, ao largo da Gronelândia, junto à famosa Passagem do Noroeste, em Nunavut, no Canadá.

Apesar das inúmeras tentativas de colonização, as condições meteorológicas extremas fazem deste deserto polar a maior ilha desabitada do planeta.

Como escreve a National Geographic, há séculos que as pessoas fracassam nas suas tentativas de viver nesta ilha do Ártico.

A Expedição Perdida de Franklin é um dos casos mais famosos de tentativa de colonização, quando, em 1845, 129 homens do HMS Erebus e HMS Terror partiram para cartografar a mítica Passagem do Noroeste em nome da Grã-Bretanha. Desapareceram todos.

Depois, em 1924, três oficiais da Real Polícia Montada do Canadá (RPMC) – e 52 Inuit deslocados à força – foram enviados para tentar colonizar a região.

“A ideia era marcarem presença – não estavam necessariamente a policiar. Era mais uma questão de ter botas no terreno, para impedir os outros países de reivindicarem o Ártico”, explicou à National Geographic, Kaylee Baxter, arqueóloga da Adventure Canada.

Passados três anos, dois dos três agentes morreram. O terceiro agente e as famílias Inuit não tardaram em abandonar a ilha. A RPMC decidiu encerrar definitivamente o posto em 1951. Mas as sepulturas dos dois agentes ficaram.

Ir a “Marte na Terra”

Nas últimas duas décadas, os cientistas viram nessa ilha única o laboratório ideal para estudar a vida em Marte na Terra. Isto porque Devon, localizada a 1.600 km ao sul do Polo Norte, tem um clima e um solo muito próximos aos que podem ser encontrados no Planeta Vermelho.

O frio extremo, os sistemas de comunicações limitados, a falta de luz solar, a vegetação da ilha são apontados como alguns fatores que permitem aos cientistas simular a exploração de Marte.

As condições supramencionadas não permitem, no entanto, que as investigações ocorram durante todo o ano. Até as expedições mais bem equipadas da NASA são incapazes de suportar os invernos brutais da ilha.

Mas qualquer um de nós, desde 2018, graças ao Google Street View, passou a poder visitar “Marte da Terra” o ano inteiro.

Mas não foi ‘pêra doce’. A equipa do Google Street View precisou de 7 voos e 72 horas para conseguir aterrar na ilha Devon.

A NASA e o Mars Institute também estão a sofrer na pele os desafios da ilha mais inóspita do mundo, mas, no final, acreditam que vai valer a pena.

Numa das últimas expedições, o líder do Mars Institute Pascal Lee disse acreditar “que a primeira pessoa que pousar em Marte dirá: ‘Isto é exatamente como nós treinamos na ilha de Devon’“.

Miguel Esteves, ZAP //

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