Os bebés já nascem programados para dançar

Eszter Rozgonyiné Lányi / Universidade de Amesterdão

Um dos bebés que participou nas experiências de Honing

Estudos recentes revelam que os recém-nascidos têm uma capacidade inata de reconhecer um ritmo na música, indicando que a nossa capacidade para a música, ou “musicalidade”, pode estar programada biologicamente.

Em 2009, um estudo publicado na PNAS mostrou que bebés recém-nascidos podiam antecipar uma batida ausente em ritmos de tambor, como evidenciado por um pico distinto na atividade cerebral.

Os resultados do estudo sugerem que a capacidade de apreciar música musical não é apenas cultural, mas tem também raízes biológicas profundas.

No entanto, esta descoberta enfrentou ceticismo, explica Henkjan Honing, investigador da Universidade de Amesterdão e co-autor do estudo, num artigo na MIT Press. Os críticos propuseram explicações alternativas, como a aprendizagem estatística — o processo que os bebés usam para entender a linguagem.

Para analisar esta possibilidade, a equipa de Honing realizou em 2015 um novo estudo, no qual expandiu o âmbito da pesquisa, incluindo adultos e macacos.

Os resultados do estudo, que vai ser publicado na edição de fevereiro da Cognition, reforçou a ideia de que a perceção do ritmo é um mecanismo distinto, separado da aprendizagem estatística.

Curiosamente, explica Honing, quando o mesmo estudo foi conduzido com macacos macaques em 2018, os primatas não mostraram evidências de processamento de ritmo, apenas sensibilidade à regularidade do ritmo, o que sugere que a perceção do ritmo evoluiu especificamente nos humanos, apoiando a hipótese da Evolução Audiomotora Gradual.

Esta hipótese, detalhada num livro publicado por Honing em 2019 com o título “A Orquestra Animal em Evolução”, sugere uma ligação mais forte entre as áreas cerebrais motoras e auditivas nos humanos em comparação com outros primatas.

As implicações destes estudos são significativas: sugerem que a nossa capacidade de perceber e interagir com o ritmo não é apenas cultural, mas também biológica, potencialmente oferecendo uma vantagem evolutiva.

O campo da pesquisa em musicalidade, outrora especulativo, está a ganhar respeitabilidade e maturidade científica, integrando áreas como a psicologia, neurociência, biologia e genética, explica Honing, que lidera o Grupo de Cognição Musical do Instituto para a Lógica, Linguagem e Programação da Universidade de Amesterdão.

Esta abordagem interdisciplinar, diz Honing, permite assim uma exploração mais concreta e cientificamente rigorosa das origens da música — à procura do que faz com que os humanos sejam seres musicais.

ZAP //

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