Identificada a origem de Black Beauty, o famoso meteorito marciano que chegou à Terra

NASA

Uma equipa de investigadores afirma ter identificado o local exato — em Marte — onde nasceu o famoso Black Beauty, um meteorito preto e brilhante que nasceu no Planeta Vermelho.

O Black Beauty, também chamada NWA 7034, está entre os meteoritos marcianos mais estudados.

Os seus fragmentos foram descobertos pela primeira vez no norte de África. No entanto, até agora, os cientistas não sabiam nada sobre a sua origem.

De acordo com a Interesting Engineering, agora, utilizando machine learning, uma equipa de investigadores da Universidade de Curtin, na Austrália, afirmou ter identificado o local exato (em Marte) onde nasceu o meteorito Black Beauty.

Os investigadores acreditam que as suas descobertas podem desempenhar um papel crucial na compreensão da origem de Marte, porque o meteorito foi formado numa região que também contém a rocha mais antiga do planeta vermelho.

O estudo foi publicado este mês na revista Nature.

Acredita-se que Marte teve a sua origem há cerca de 4,53 mil milhões de anos, e surpreendentemente, um dos fragmentos do Black Beauty tem 4,48 mil milhões de anos de idade. Portanto, o local da sua origem pode desvendar importantes detalhes sobre o ambiente, a geografia, e a paisagem do início de Marte.

O peso total desta “Beleza Negra” é de 320g. Segundo os investigadores, para chegar à Terra, o meteorito precisava de ter uma velocidade de fuga de 5km/s — e a velocidade de fuga de Marte é precisamente de cerca de 5km/s.

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Detalhe do meteorito marciano Black Beauty

A colisão que tinha proporcionado ao Black Beauty esta velocidade de ejeção nesse momento teria causado uma cratera de três quilómetros de diâmetro.

Os investigadores estimam que existem 90 milhões de crateras em Marte, e das mais de 80.000 crateras têm dimensões semelhantes (3 km de diâmetro). No entanto, encontrar uma cratera (de onde teve origem a Beleza Negra) de tantas foi um grande desafio. Para resolver este puzzle aparentemente impossível, os investigadores da Curtin encontraram e listaram várias características.

Por exemplo, como todos os meteoritos marcianos deixaram o seu planeta natal há não mais de 20 milhões de anos, apenas as jovens crateras com idade igual ou inferior à mesma eram candidatas ao lar da Beleza Negra.

A maioria das crateras de três quilómetros não se enquadravam neste critério, pelo que foram automaticamente descartadas. As jovens crateras foram identificadas através de imagens térmicas pela presença de raios visíveis à sua volta.

Segundo Anthony Lagain, investigador da Universidade de Cutlin, e autor principal do estudo, para saber se uma cratera é jovem ou não, pode-se olhar para os raios visíveis em volta usando imagens térmicas por infravermelhos.

Estes raios são formados devido à explosão do impacto e tendem a desaparecer muito rapidamente da superfície devido à erosão e ao pó. Se ainda hoje são visíveis, isto indica que a cratera é jovem”.

De acordo com os investigadores, várias pequenas crateras ter-se-iam formado a partir dos detritos da colisão de alto impacto que ocorreu na altura da ejeção da Beleza Negra. No entanto, mesmo depois de considerar características diferentes e de utilizar imagens térmicas, havia ainda numerosas crateras possíveis.

Para identificar a cratera exata, os cientistas usaram algoritmos criados pelo poderoso supercomputador Pawsey. Os algoritmos selecionaram 19 crateras marcianas que poderiam ser consideradas como o lar da Beleza Negra.

Os investigadores compararam então as propriedades das crateras com as dos fragmentos de meteoritos na Terra encontraram rapidamente a correspondência perfeita.

A origem de Black Beauty é Karratha, uma jovem cratera marciana localizada na região Terra Cimmeria-Sirenum do Planeta Vermelha, situada junto a uma antiga cratera, Khujirt. Curiosamente, nenhuma das crateras tinha qualquer nome antes deste estudo.

A União Astronómica Internacional (IAU) deu às crateras o nome das cidades de Khujirt (na Mongólia) e Karratha (Austrália), respetivamente, de acordo com as sugestões do Dr. Lagain e da sua equipa.

Nenhuma outra amostra de meteorito na Terra contém mais do que um tipo de rocha marciana. Assim, teríamos de esperar pelo menos oito anos para trazer mais amostras de rocha e solo marciano à Terra, uma vez que a primeira Missão de Retorno de Amostra de Marte proposta deverá estar concluída até 2030.

Até lá, a Beleza Negra é o espécime perfeito e único disponível para compreender a complexa geologia do Planeta Vermelho.

“Saber a localização da origem destas amostras únicas é essencial para obter o contexto geológico da sua formação. Se não se souber de onde vêm estas rochas, não se pode substituir os resultados da análise em micro-escala das rochas num contexto mais amplo e obter uma visão global da evolução de Marte”, explica Lagain.

Inês Costa Macedo, ZAP //

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