As orelhas dos humanos começaram por ser guelras

Uma nova pesquisa indica que a cartilagem elástica que compõe as nossas orelhas partilha a linhagem com as guelras de antigos peixes.

Um estudo inovador realizado por investigadores da USC Stem Cell e publicado na Nature revelou uma ligação fascinante entre as orelhas exteriores dos mamíferos e as guelras antigas. A pesquisa aponta como a cartilagem elástica das nossas orelhas exteriores partilha uma linhagem com a cartilagem das guelras de antigas criaturas marinhas.

A investigação foi liderada pelo Professor Gage Crump da Keck School of Medicine da USC. “Quando iniciámos o projeto, a origem evolutiva da orelha externo era uma completa caixa negra”, explicou Crump.

Inspirados pelo ensaio de Stephen Jay Gould “An Earful of Jaw”, que remontava os ossos do ouvido médio às mandíbulas dos peixes, a equipa de Crump explorou a possibilidade de as orelhas dos mamíferos também terem evoluído a partir de uma estrutura ancestral dos peixes, refere o IFLScience.

O estudo centrou-se no tecido único que compõe as orelhas dos mamíferos: a cartilagem elástica. Encontrada tanto nas orelhas como nas guelras, a cartilagem elástica não fossiliza, tornando escassas as provas diretas. Para investigar mais, os investigadores viraram-se para os potenciadores de genes – sequências de ADN que regulam a atividade dos genes e são altamente específicas dos tecidos.

Utilizando uma nova abordagem, o autor Mathi Thiruppathy introduziu potenciadores do ouvido externo humano nos genomas do peixe-zebra. De forma notável, os potenciadores tornaram-se ativos nas guelras do peixe-zebra.

A equipa inverteu então o processo, incorporando os potenciadores das guelras do peixe-zebra em ratinhos, onde encontraram atividade nos ouvidos externos. Experiências semelhantes em girinos e anoles verdes mostraram resultados consistentes, ligando as guelras antigas à evolução das orelhas dos mamíferos.

Uma exploração mais aprofundada revelou que as origens da cartilagem elástica remontam a há cerca de 450 milhões de anos. A equipa identificou um potenciador nos caranguejos-ferradura – entre as espécies mais antigas da Terra – e testou a sua atividade no peixe-zebra, descobrindo que também estava ligado às guelras. Esta descoberta faz com que a linha de tempo evolutiva da cartilagem elástica seja muito mais profunda do que se pensava anteriormente.

“Este trabalho fornece um novo capítulo para a evolução do ouvido dos mamíferos”, observou Crump. Enquanto o ouvido médio teve origem nos ossos da mandíbula dos peixes, o ouvido externo surgiu das guelras cartilaginosas. O estudo não só revela uma notável jornada evolutiva, mas também introduz um novo método para estudar adaptações estruturais entre espécies.

ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.