A plataforma que se popularizou com a pornografia vai banir a sua publicação a partir de Outubro, numa tentativa de atrair mais investidores.
Já desde 2016 que existe, mas foi durante a pandemia que explodiu de popularidade. O Only Fans é uma empresa londrina que dá a oportunidade a criadores de cobrar uma subscrição mensal aos “fãs” ou um pagamento por cada conteúdo específico, ficando a empresa com 20%.
O serviço começou a ser muito usado para trabalho sexual e tornou-se sinónimo de conteúdo pornográfico na mente do público em geral. Mas só até Outubro – porque a plataforma anunciou que vai banir a publicação de conteúdos explícitos. No entanto, a nudez vai continuar a ser permitida, desde que vá de encontro às políticas da empresa.
Em 2018, Leo Radvinsky – um dos rostos mais poderosos da indústria pornográfica e criador do site MyFreeCams, onde modelos cobram para se despirem ou fazerem actos sexuais em frente a uma câmara – tornou-se dono da maioria das acções da aplicação.
O Only Fans viu um grande boom de popularidade durante a pandemia, graças a trabalhadoras sexuais que começaram a usar a plataforma. A empresa tem mais de 2 milhões de criadores e 130 milhões de utilizadores, teve receitas de 375 milhões de dólares em 2020 e espera que o valor chegue aos 1.2 mil milhões em 2021, segundo o Axios.
Várias celebridades também já se juntaram ao site, como os rappers Cardi B e Tyga, a socialite americana Blac Chyna, a ex-estrela da Disney Bella Thorne ou a cantora brasileira Anitta.
Radvinsky tem procurado quem se quer juntar a ele no quadro de accionistas – mas apesar do sexo vender, não é um factor atractivo para os investidores. A empresa nunca fala de pornografia na apresentação a potenciais investidores, o que, segundo o Axios, muitos consideram ser “dissimulado”, e está a ter dificuldades nessa busca.
Alguns fundos de capitais de risco estão proibidos de investir em conteúdos adultos e há quem tenha medo que haja menores a criar contas, apesar de a empresa garantir que tem essa situação controlada. Outros não se importam com a pornografia, mas receiam que a reputação da plataforma não seja atractiva para parceiros para marcas.
Tendo em conta a hesitação dos investidores, já há algum tempo que o Only Fans está a tentar fazer um rebranding e mostrar que não tem só sexo. A plataforma tem promovido bandas e músicos, cozinheiros, treinadores de fitness ou yoga nas suas redes sociais e lançou uma nova aplicação gratuita de streaming sem conteúdos adultos.
It’s time to make gains with your new PT ‘Body By Bender’ on OnlyFans! 💪🔥 French bodybuilder Johannes is sharing exclusive fitness content and hosting live streams to help you smash your goals! 🏋️♂️🍲 There’s no excuse, go and get to work at: https://t.co/WhTciFOGYC pic.twitter.com/kuTzcJSoZL
— OnlyFans (@OnlyFans) August 20, 2021
Esta nova proibição é o passo seguinte na tentativa de atrair investidores – e as trabalhadoras do sexo que tornaram a aplicação popular não estão contentes. Uma simples comparação entre o número de likes conseguido por celebridades em comparação com estrelas pornográficas.
A Fortune dá o exemplo da estrela de reality shows Blac Chyna, que conseguiu 15.800 likes com 153 publicações, a cobrar 20 dólares mensais. Já Cardi B, que teve de especificar que não publicaria conteúdos sexuais, conseguiu 10.300 likes com seis publicações, a cinco dólares por mês.
Estes números são practicamente insignificantes quando comparados com os alcançados por actrizes pornográficas. Jessica Drake cobra 10 dólares mensais e tem 88 mil likes, já Angela White chegou aos 637 mil likes e também cobra 10 dólares. Riley Reid alcançou os 1.5 milhões de likes, cobrando uma subscrição de 25 dólares.
“Se o Only Fans seguir em frente com isto, é o suicídio”
Muitas trabalhadoras sexuais têm questionado a rentabilidade futura do site sem o conteúdo que o popularizou, já que os “fãs” podem abandoná-lo e seguir as criadoras para outras plataformas. Chovem críticas à empresa por as ter usado para crescer e tê-las descartado quando já não as querem.
Camila Elle, de 21 anos, diz ao Daily Mail que se sente “traída” pelo Only Fans. “Tornei o Only Fans a minha subsistência e abandonei os meus sonhos de me tornar médica para seguir uma carreira a tempo inteiro no site. As trabalhadoras sexuais criaram o site. Fomos nós que o promovemos. Eles usaram-nos e agora deitam-nos fora“, afirma.
Já a nova-iorquina Ona Artist avisa que o sucesso do site pode ter os dias contados porque as criadoras vão passar a usar outras plataformas. “Se o Only Fans seguir em frente com isto, é o suicídio. As modelos vão sempre encontrar forma de partilhar conteúdos sexuais com os quer ver”, afirma ao mesmo jornal.
Boycott OnlyFans. Let’s kill their platform for them since they’re determined to do it themselves
— jakkï 🏳️⚧️ ⚢ (@jackie__AK) August 19, 2021
Nas redes sociais, multiplicam-se os apelos ao boicote ao Only Fans e promove-se a JustFor.Fans como alternativa, que já aproveitou a oportunidade para criticar a decisão da empresa rival. “A indústria adulta é tristemente usada por empresas que usam o mercado adulto e depois o abandonam quando chegam às massas críticas”, afirmou Dominic Ford, fundador do Just.For.Fans.
“Nós fomos fundados e criados por e para trabalhadoras sexuais e o nosso staff é 100% composto de trabalhadoras sexuais e pessoas que estiveram na indústria pornográfica durante muitos, muitos anos… Isso nunca vai mudar e não temos interesse em sermos mais mainstream“, conclui Ford.
A decisão está a dar que falar, mas será que a tentativa do Only Fans de atrair investidores vai ter sucesso quando o conteúdo que o popularizou e o tornou um negócio rentável já não existir? Só o tempo o dirá.