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Estudo genético revela onde surgiu a planta da cannabis

O novo estudo aponta o noroeste da China como o local de origem da planta da cannabis, há cerca de 12 mil anos.

Há muito que se questiona onde se originou a planta da cannabis e uma nova investigação encontrou a resposta.

O estudo foi publicado a 16 de Julho na Science Advances e é o maior de sempre na análise de genomas de plantas de cannabis, tendo acrescentado 82 aos 28 que já tinham sido sequenciados.

A equipa composta por investigadores na Suíça e na China compilou 110 genomas completos, cobrindo um espectro de diferentes plantas selvagens, variedades domesticadas e híbridos modernos entre cânhamos e formas psicoactivas da planta. As amostras foram depois separadas em quatro grupos diferentes.

Os quatro grupos diferem nos genes que controlam a produção de dois tipos de ácidos canabinóides: CBDA, que produz o químido CBD e é comum na variedade cânhamo, e THCA, que produz o químico mais psicoactivo, THC.

Esta diferença genética originou efeitos distintos na cultivação de cada tipo de planta, com o cânhamo a favorecer a produção do CBDA e com o THCA a ser predominante na variedade usada como psicoactiva.

Concluiu-se que o mais provável é a cannabis ter sido primeiramente domesticada no período Neolítico, há cerca de 12 mil anos, numa região do noroeste da China próxima das fronteiras com o Cazaquistão e o Quirguistão, e tendo daí sido espalhada em diferentes variedades por todo o mundo.

“A nossa análise corrobora os registos arqueobotânicos, arqueológicos e históricos e dá uma imagem detalhada da domesticação da cannabis e das suas consequências na composição genética da espécie”, lê-se no estudo.

Depois da sua domesticação no período Neolítico, a planta espalhou-se lentamente pela Europa e pelo Médio Oriente na Idade do Bronze. De acordo com o estudo, o primeiro registo de cannabis sativa apareceu há 3 mil anos na Índia, quando a espécie foi provavelmente trazida da China.

Foi já no século XIII que a planta chegou a África, espalhando-se para a América Latina no século XVI e para a América no Norte no início do século XX.

Visto estar agora espalhada por todo o mundo, a origem geográfica da cannabis suscitou intenso debate na comunidade científica. As primeiras hipóteses apontavam para a Ásia Ocidental, a Ásia Central ou o Norte da China.

“As pessoas achavam que a região era mais próxima do centro da Ásia, principalmente porque existem muitas plantas selvagens de cannabis ao longo das estradas lá. Mas estes dados observacionais basicamente contradizem o que nós concluímos desta análise genómica”, revela Luca Fumagalli, geneticista da Universidade de Lausana e um dos autores do estudo, ao Live Science.

As espécies chinesas modernas que têm sido alteradas através da agricultura e as plantas selvagens são agora os descendentes modernos mais próximos do cânhamo e da marijuana, afirma o estudo. Já os antepassados da cannabis sativa, que expressa genes que codificam para a produção de CBDA, devem provavelmente estar extintos.

Mesmo sendo a cannabis há muito usada como uma fonte importante de fibras para a produção têxtil e também para fins medicinais e recreativos, os investigadores realçam que as restrições legais têm dificultado o estudo da história da sua domesticação.

Este estudo ajuda a desvendar o mistério sobre onde e quando é que variedades de cannabis com níveis mais altos de compostos psicoactivos foram reconhecidas pelos humanos e começadas a ser usadas para consumo recreativo.

AP, ZAP //

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