Onde está Qin Gang? Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês já foi substituído

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// P.R. Bénim; Xinhua

O órgão máximo legislativo da China vai reunir-se hoje para decidir sobre “nomeações oficiais”, numa altura em que o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês não é visto em público há um mês — e que terá já sido demitido.

Pequim continua sem esclarecer o paradeiro de Qin Gang, num período de frenética atividade diplomática para o país asiático.

A última vez que o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês surgiu em público foi a 25 de junho, quando esteve reunido com o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Andrey Rudenko.

Esta segunda-feria, a agência de notícias oficial Xinhua indicou que a Comissão Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN) vai também “rever emendas legislativas”.

De acordo com o portal NPC Observer, que acompanha a atividade da APN, o órgão legislativo teve apenas nove reuniões fora da agenda, que é determinada com meses de antecedência, nos últimos dez anos. O encontro de hoje é uma dessas exceções.

Através da rede social Twitter, o NPC Observer destacou o curto prazo com que a reunião foi anunciada: “Com base em informações publicamente disponíveis, pode ser a primeira vez em dez anos que o conclave é convocado na véspera”.

Segundo o Politico, Qin Gang terá sido demitido esta terça-feira, e terá sido substituído no cargo pelo seu antecessor, Wang Yi.

No início deste mês, a porta-voz da diplomacia chinesa Mao Ning justificou a ausência de Qin Gang de um encontro de ministros dos Negócios Estrangeiros da Associação de Nações do Sudeste Asiático, em Jacarta, por “motivos de saúde”.

Questionada novamente sobre o paradeiro do responsável, Mao disse, em conferência de imprensa, na segunda-feira, não ter informações e negou que a ausência tenha tido impacto nas atividades diplomáticas do país.

Qin, de 57 anos, foi nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros em dezembro passado. Anteriormente foi embaixador em Washington e é fluente em inglês.

A nomeação como ministro ocorreu na altura em que Pequim terminou a política de ‘zero covid’, que manteve as fronteiras do país encerradas durante quase três anos.

A reabertura das fronteiras proporcionou uma intensa agenda diplomática, com líderes e altos funcionários de países estrangeiros a visitar a China todas as semanas.

Além de receber dignitários estrangeiros em Pequim, incluindo o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, Qin visitou a Europa, a África e a Ásia Central.

Qin substituiu Wang Yi, atual diretor do Gabinete da Comissão para as Relações Externas do Partido Comunista da China (PCC), com uma agenda internacional marcada pela guerra na Ucrânia ou pela crescente rivalidade entre Pequim e Washington.

Hu Xijin, influente comentador chinês e antigo editor-chefe do Global Times, jornal oficial do PCC, admitiu, num comentário difundido através da rede social Weibo, que “está toda a gente preocupada com um assunto, mas que não pode discuti-lo publicamente”.

“É preciso encontrar um equilíbrio entre manter a situação e respeitar o direito do público de se manter informado”, defendeu.

Na China, o desaparecimento de altos funcionários, celebridades e empresários é comum. Frequentemente, as autoridades anunciam mais tarde que a pessoa desaparecida está a ser investigada ou foi punida.

Entre os casos mais proeminentes dos últimos anos consta o do ex-chefe chinês da Interpol Meng Hongwei, que desapareceu durante uma viagem à China, em 2018. Em 2020, foi condenado a 13 anos e meio de prisão por um tribunal chinês por receber mais de dois milhões de dólares em subornos.

Este foi um dos casos de um grupo crescente de membros do Partido Comunista Chinês apanhados na campanha anticorrupção do Presidente Xi Jinping. Segundo a AFP, críticos do Governo afirmam que esta campanha tem servido também para afastar os inimigos políticos do líder.

Em fevereiro passado, Bao Fan, o fundador de um banco de investimento, também desapareceu. Uma semana depois, a empresa admitiu “ter tido conhecimento” de que Bao estava a cooperar numa investigação.

A tenista chinesa Peng Shuai também deixou de ser vista em público, em 2021, depois de acusar um antigo vice–primeiro-ministro chinês de má conduta sexual.

Numa declaração nas redes sociais, Peng tinha afirmado que teve um caso de durante anos com o ex-vice-primeiro-ministro Zhang Gaoli a quem acusou de a ter abusado sexualmente numa ocasião.

Alguns dias mais tarde, a tenista reapareceu, tendo desmentido estas afirmações, realçando que “nunca acusou ninguém de abuso sexual” e que o sua publicação na rede social Weibo a 2 de Novembro era um “assunto privado” sobre o qual as pessoas têm “mal-entendidos”.

ZAP // Lusa

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1 Comment

  1. Cá para mim este disse ao camarada Rudenko coisas que não devia e agora está a pagar por isso. Se fosse russo, caía duma janela ou tinha uma indisposição fatal…

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