Muito óleo de bebé, famosos com medo e tráfico sexual. O que se passava nas “freak offs” do rapper Diddy?

Richard Burdett / wikimedia Commons

O rapper Sean "Diddy" Combs.

O rapper Sean “Diddy” Combs.

O rapper e produtor musical Sean “Diddy” Combs está detido por suspeitas de tráfico sexual, violação, abuso sexual e assédio. Mas as ondas de choque deste caso podem atingir outras celebridades próximas de Diddy que eram presença assídua nas suas festas loucas.

Combs foi detido na passada segunda-feira, num hotel em Nova Iorque, no âmbito de uma investigação federal após vários processos civis que foram apresentados contra ele por crimes de violação e abuso sexual.

As autoridades já tinham feito buscas às suas residências em Los Angeles e em Miami, onde terão encontrado “mais de mil garrafas de lubrificante e de óleo de bebé“, segundo os media norte-americanos.

Agora, Diddy enfrenta acusações criminais por tráfico sexual, trabalho forçado, rapto, extorsão, incêndio, suborno e obstrução à justiça. É suspeito de, em conluio com funcionários seus, ter ameaçado, abusado e coagido mulheres e homens para “satisfazer os seus desejos sexuais”.

Alegadamente, o rapper obrigava pessoas a participarem em actos sexuais com profissionais do sexo em festas a que chamava de “freak offs” (algo como “aberrações” na tradução para português).

Nestas festas, “eram elaboradas performances sexuais que Combs organizava, dirigia e, muitas vezes, gravava”, aponta a acusação do Ministério Público de Nova Iorque.

Para convencer as pessoas a participar, recorria à “violência e intimidação“, fazendo uso do seu “poder sobre as vítimas”, alega-se ainda no processo.

As festas do rapper também teriam drogas à discrição e bebidas adulteradas.

O rapper que já foi conhecido por Puff Daddy e P. Diddy nega as acusações.

Enquanto está detido, merece vigilância especial por se temer que possa cometer suicídio como aconteceu no caso de Jeffrey Epstein que se matou na prisão, após ter sido acusado de tráfico sexual de menores.

As relações de Usher e Justin Bieber com Diddy

Há rumores da presença de menores nas festas de Diddy e vêm à baila as relações próximas que o rapper manteve com os cantores Usher e Justin Bieber quando eram adolescentes.

Quando Usher lançou o seu primeiro álbum, Diddy tinha a sua guarda legal. O cantor tinha 15 anos quando foi viver na mansão do rapper em Nova Iorque.

Usher, por seu turno, foi mentor de Justin Bieber e em 2009, entregou o cantor canadiano que, na altura, tinha 15 anos, aos cuidados de Diddy durante uns dias.

Nem Usher, nem Bieber se pronunciaram sobre a detenção de Diddy – o que também é estranho, considerando a preponderância que o rapper teve na alavancagem das respectivas carreiras.

Entretanto, há um vídeo antigo em que Diddy e Bieber aparecem que se espalhou pelas redes sociais. As imagens aparentemente inocentes ganham uma nova cor à luz das suspeitas em torno do rapper que aparece a oferecer a um Bieber de 15 anos um carro de luxo.

Há ainda outro vídeo de 2020 em que Justin Bieber aparece a chorar numa entrevista, ao falar sobre o desejo de proteger a cantora Billie Eilish dos perigos do mundo da música.

Foi difícil para mim ser tão novo e estar nesta indústria sem saber a quem recorrer, com toda a gente a dizer que me amava e depois a virar-me as costas no segundo seguinte”, aponta Bieber em declarações que, agora, estão a ser interpretadas como tendo relação com Diddy.

Não quero que ela [Eilish] passe por nada do que eu passei. Não desejo isso a ninguém”, desabafou ainda Bieber na mesma entrevista.

Celebridades que foram às festas de Diddy “morrem de medo”

Combs tinha relações com várias celebridades destacadas de Hollywood e do mundo da música, muitas das quais participaram nas suas festas.

Estão a ressurgir nas redes sociais várias fotografias que mostram figuras famosas nos eventos promovidos por Diddy, incluindo as cantoras Jennifer Lopez e Mariah Carey, os actores Leonardo DiCaprio, Ashton Kutcher, Demi Moore, Matthew Broderick, Sarah Jessica Parker e Russell Brand, as socialites Paris Hilton e Kim Kardashian.

Trump, Kamala, Beyoncé e Jay-Z

Até Donald Trump, candidato republicano a presidente dos EUA, terá estado nas loucas festas de Diddy que também aparece em imagens públicas ao lado de uma jovem Kamala Harris, a candidata democrata à Casa Branca.

O poderoso casal Beyoncé e Jay-Z fazem parte do círculo de amigos de Diddy há vários anos e também estão surgem no meio do escândalo.

Jay-Z e Diddy têm colaborações na música e nos negócios, e também trabalharam com R. Kelly que foi condenado a 30 anos de prisão por tráfico sexual, pornografia infantil e extorsão em 2023.

Na Internet, correm as teorias da conspiração de que Jay-Z vai “cair” com Diddy porque saberia dos esquemas do rapper e pode ter participado em alguns dos actos criminosos.

Mas, para já, nenhuma destas celebridades está acusada de nada, tanto quanto se sabe.

Em todo o caso, há uma preocupação evidente no ar que se sente pelo silêncio das celebridades mais próximas do rapper e que reflecte que “morrem de medo” de que as suas carreiras sejam abaladas “por causa dos laços com Diddy”, como refere ao jornal The Mirror Eric Schiffer, CEO da Reputation Management Consultants, uma empresa especializada em gestão de reputação.

Ao mesmo tempo, também temem que se “contrariarem” Diddy, “as coisas poderão acabar em desastre“, acrescenta Schiffer.

É que há rumores de que Diddy terá nas suas mãos vídeos das suas festas que podem comprometer figuras conhecidas.

Também se diz que o rapper pode andar a vender alguns dos vídeos na deep web por valores exorbitantes, uma vez que estará a precisar de dinheiro face à sucessão de processos que tem enfrentado.

Jennifer Lopez em “alerta máximo”

Uma das celebridades em “alerta máximo” será Jennifer Lopez, como nota o The Mirror. A cantora namorou com Diddy entre 1991 e 2000 e especula-se que o rapper pode ter vídeos sexuais de ambos.

Quando eram namorados, Jennifer Lopez e Combs estiveram envolvidos num tiroteio em Nova York, em 1999, num clube nocturno onde se encontravam.

Foram ambos detidos, mas a cantora foi logo libertada. Diddy acabou por ser acusado de porte ilegal de arma e de suborno, mas acabou absolvido.

Traficada, violada e espancada durante 10 anos

Já foram apresentadas 11 queixas contra Diddy por crimes de abuso sexual e violação. A mais recente foi de Thalia Graves que, nesta semana, acusou o rapper de a drogar, de lhe amarrar os pulsos e de a ter violado no seu estúdio de gravação em 2001.

Thalia alega que o guarda-costas de Diddy, Joseph Sherman, também a violou na mesma altura, e que terão filmado as violações para depois mostrar a amigos. Também acusa Combs de ter vendido os vídeos como pornografia.

Os processos civis contra o rapper começaram em 2023, quando a cantora e bailarina Cassie Ventura, ex-namorada de Diddy, o denunciou, alegando que foi traficada, violada e espancada por Combs em várias ocasiões ao longo de 10 anos.

Cassie assinou pela editora de Combs em 2005, quando tinha apenas 19 anos e ele 37.

Na sua queixa, a cantora alega que Diddy a obrigou a participar numa das suas “Freak Offs”, onde garante que foi forçada a actos sexuais com profissionais do sexo masculinos.

Neste ano, a CNN divulgou imagens de câmaras de vídeo-vigilância de um hotel em Los Angeles, registadas em 2016, que mostram Diddy a agredir Cassie no corredor e a arrastá-la pelos cabelos.

Em 2019, outra ex-namorada de Combs, Gina Huynh, acusou-o de violência “mental, emocional e física” durante os cinco anos que durou a relação.

Também estão a surgir teorias da conspiração quanto à morte de outra ex-companheira de Diddy, Kim Porter, a mãe de três filhos do rapper que morreu em 2018, aos 47 anos, devido a uma pneumonia.

No início deste mês, antes da detenção de Diddy, foi publicado um livro de memórias intitulado “As palavras perdidas de Kim”, onde se descreve Diddy como “um monstro terrível”. Mas os filhos de Kim e Diddy já vieram garantir que estas supostas memórias são falsas.

Produtor acusa Diddy de o apalpar repetidamente

Em Fevereiro de 2024, o produtor Rodney “Lil Rod” Jones avançou com um processo civil contra o rapper por assédio sexual, garantindo que foi “sujeito a avanços indesejados por parte de associados de Diddy sob a sua direção”, e obrigado a manter relações com profissionais do sexo que Combs terá contratado.

Na queixa, Lil Rod diz que Combs organizava regularmente “festas de tráfico sexual” com mulheres menores de idade e drogas ilegais.

Também acusa os executivos das editoras discográficas de fazerem vista grossa ao que lá acontecia porque alega que Diddy lhes permitia ter acesso a figuras importantes como o Príncipe Harry, entre outras.

Importa notar que o Príncipe Harry não está acusado de nenhum delito neste caso, nem se sabe se alguma vez participou numa das festas de Diddy.

Lil Rod e Diddy colaboraram no “The Love Album” do rapper e, durante esse período, chegaram a viver juntos.

O produtor acusa Combs de lhe apalpar repetidamente o “ânus e as virilhas” sem o seu consentimento. Também diz que o tentou preparar para “aceitar uma relação homossexual” mostrando-lhe vídeos de sexo.

Além disso, diz que Diddy andava nu pela casa e que o obrigava a observá-lo a tomar banho, exibindo frequentemente armas como táctica de intimidação.

A defesa de Diddy acusa Jones de ser “mentiroso” e de estar “desavergonhadamente à procura de um pagamento imerecido” com alegações que são “pura ficção e simplesmente não aconteceram”.

Mas Jones assegura que tem provas em vídeo e áudio sobre Combs e elementos da sua equipa “envolvidos em actividades ilegais graves”.

Recluso diz que Diddy o agrediu sexualmente

Há ainda um recluso, Derrick Lee Cardello-Smith, de 51 anos, que alega que Combs o drogou e agrediu sexualmente numa festa há 30 anos, como conta o jornal Metro Times de Detroit.

Cardello-Smith já teve uma vitória em tribunal, recebendo uma sentença à revelia de 100 milhões de dólares depois de Diddy não ter comparecido a uma audiência virtual.

Combs deve começar a pagar 10 milhões de dólares por mês a partir do próximo dia 1 de Outubro.

O recluso, condenado por agressão sexual e rapto, assegura que conheceu Diddy num restaurante onde trabalhava em 1997, numa noite em que fumaram erva e beberam álcool. Alega ainda que acabaram a fazer sexo com um grupo de mulheres.

Mas também refere que Combs lhe serviu uma bebida adulterada que o deixou inconsciente. Quando acordou, diz que Combs estava a fazer sexo com uma mulher e que lhe disse: “Também te fiz isto”.

Cardello-Smith revela ainda que Diddy lhe ofereceu 2,3 milhões de dólares para desistir do processo, o que não aceitou.

“Um predador em série”

Um antigo traficante de droga testemunhou ao The New York Post que esteve numa festa de Diddy para fornecer cocaína e que viu “coisas estranhas a acontecer”.

“Tipos famosos a f******-se”, sublinhou, notando que viu dois rappers que ninguém imaginaria que poderiam ter uma relação envolvidos em actos íntimos.

O traficante diz ainda que muitas das pessoas presentes estavam sob o efeito de drogas, incluindo ketamina, um poderoso anestésico habitualmente usado em cavalos.

No seguimento das primeiras suspeitas contra Diddy, a revista Rolling Stone fez uma investigação que publicou com o título “Mau rapaz para sempre: a história de violência de Sean Combs”, onde cita dezenas de antigos amigos, funcionários e artistas da sua editora, a Bad Boy, que o acusam de ser uma figura “abusiva e ameaçadora”.

Diddy também é descrito pelas referidas fontes como “um predador em série” que usou a fama, a fortuna e a reputação para esconder “um temperamento volátil” e “submeter” as pessoas em seu redor à sua vontade.

Susana Valente, ZAP //

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