O jornalista Mario del Ballo afirma que Adolf Hitler, no verão de 1942, em plena II Guerra Mundial, projetou raptar o papa Pio XII. Mario del Ballo apresenta esta tese na obra de investigação “Quando Hitler quis raptar o papa. Os segredos revelados do Arquivo Secreto do Vaticano”, publicada pelas Edições Paulinas.
“De facto, ao que parece, Adolf Hitler tinha projetado invadir o pequeno Estado [do Vaticano] e até prender e deportar o pontífice [Pio XII]”, afirma Ballo.
Todavia, como afirma o autor, o projeto foi suspenso “quando já faltava muito pouco para o executar”. A ideia de Hitler era “uma conjura antipapal, um plano como o que tinha acontecido há mais de um século, com Napoleão contra Pio V e Pio VI”, escreve o autor.
Adolf Hitler dirigia os destinos de uma Alemanha em expansão bélica, que já ocupara a Áustria, a Checoslováquia e outros países como a França, a Bélgica e a Holanda. O motivo da “irritação” do líder nazi com o pontífice terá sido a publicação da encíclica “Mit brennender Sorge” (“Com profunda preocupação“), na qual se denuncia “a repressão da liberdade religiosa, [e] o culto idolátrico da raça”.
“Dissemos vigorosamente que nós, os católicos, não podemos banir os sábios ensinamentos do Antigo Testamento”, afirmou Pio XII, citado por Ballo. “‘Espiritualmente, somos todos semitas‘, dirá o papa alguns meses depois”, remata o autor.
“Mit brennender Sorge” foi publicada em março de 1937, e é uma das raras encíclicas publicadas em alemão, tendo sido impressa secretamente na Alemanha e lida em todos os templos católicos, o que motivou perseguições a vários religiosos e seguidores da Igreja de Roma.
“Tenho de agir pela paz, mesmo correndo um risco como este [a conjura contra Hitler] para eliminar a loucura nazi”, escreveu Pio XII, citado por Ballo. O papa reagiu também de forma “fria” e com relutância à capitulação dos bispos austríacos, que três dias depois da entrada pacífica de Hitler na Áustria, assinaram uma declaração de apoio ao que se apresentou como “a integração austríaca no Reich germânico”.
O cardeal-arcebispo de Viena, Teodoro Innitzer, líder da Igreja austríaca, acrescentou à sua assinatura uma saudação nazi, tendo sido de imediato chamado ao Vaticano, e motivou uma forte repreensão e repulsa de Pio XII que o acusou de “ingénuo”, e questionou se nunca lera “uma página” da obra “Mein Kampf”, na qual Hitler expõe a sua doutrina nacional-socialista.
Antes de cingir a tiara papal, tinha sido núncio apostólico em Munique e em Berlim, precisamente no período da I Grande Guerra (1914-1918), altura em que Adolf Hitler, austríaco, recusado pelo Exército do seu país, se alistou no alemão e ganhou fama de “invulnerável”, depois de se ter esquivado a vários ataques do inimigo, tendo até sido condecorado com a Cruz de Ferro.
Com a subida a chancelar do ex-soldado do 16.º Regimento de Infantaria da reserva do reino da Baviera (Alemanha), “o papa cria que Hitler estava possesso pelo demónio; por isso fazia exorcismos à distância na sua capela, como contavam o sobrinho Carlo Pacelli e outras testemunhas; um episódio foi verificado pelo jesuíta Peter Gumpel, relator da causa de beatificação” de Pio XII.
/Lusa