O único país onde o McDonald’s e o Burger King fracassaram. O que aconteceu?

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Ronald McDonald teve dificuldades em instalar-se neste país

Neste país, o McDonald’s e o Burger King subestimaram os rivais locais. Aqui, as duas gigantes cadeias internacionais simplesmente não são fast food.

O contínuo sucesso dos restaurantes fast-food é inegável e deve-se em grande parte — se não na totalidade — às cadeias norte-americanas McDonald’s e Burger King.

Há muito tempo que o McDonald’s deixou de vender uma dieta exclusivamente dedicada a americanos para passar a ser amado pelo mundo inteiro. Os números do ano passado confirmam-no: 40,275 restaurantes da cadeia servem 69 milhões de pessoas por dia, resultando em receitas superiores a 20 mil milhões de euros anuais.

O Burger King vai pelo mesmo caminho. Apesar de ter metade dos restaurantes da concorrência, lucra mais de 1,7 mil milhões por ano com os seus 15,7 milhões de clientes diários.

Os números não mentem e os restaurantes são mesmo um sucesso em mais de 100 países em que mantêm operações — menos um.

No Vietname, o McDonald’s e o Burger King têm apenas 20 e 11 estabelecimentos, respetivamente, e parecem não conseguir competir com a restauração local.

Quando o McDonald’s abriu portas no país asiático, em 2014, há que admitir: a loucura instalou-se. Vietnamitas esperaram horas para provar os clássicos hambúrgueres e o McDonald’s já teria planos para abrir 100 estabelecimentos ao longo de 10 anos, mas rapidamente — e contrariando a tendência de sucesso da empresa em países asiáticos — o entusiasmo murchou.

O mesmo aconteceu à concorrência, o Burger King, que alegadamente planeava abrir 16 restaurantes até 2016. Até hoje, nunca atingiu tal objetivo. Mas o que é que aconteceu?

“Slow food” para invejosos ou falta de frango?

No fundo, a justificação para o bizarro fenómeno aponta para pouco ou nada mais do que sanduíches Bánh mì, adoradas pelos vietnamitas e fácil e rapidamente obtidas em todos os cantos do país.

“Nos EUA, o fast food é popular porque podes tê-lo [a comida] no momento. A comida vietnamita é a mesma coisa. Podes ter a tua tigela de pho ou o teu Bánh mì talvez mais depressa do que no McDonald’s“, diz à CNBC, em 2018, o co-fundador da empresa de media digital vietnamita Vietcetera, Hao Tran, ao explicar como isso “derrota a proposta de valor” das cadeias norte-americanas no Vietname.

Do dinheiro gasto pelos vietnamitas em comida, 78% ia, em 2018, para os vendedores locais, segundo a Comissão Europeia. Só 1% ia para cadeias de fast food números que se devem em boa parte à abundante presença de quiosques de alimentação locais, que se sobrepoem ao número de restaurantes de fast food.

No último trimestre de 2022, haviam 550 mil estabelecimentos de comida e bebida no país. Esmagadores 430 mil eram restaurantes tradicionais; apenas 82 mil eram cadeias de fast food, segundo a Associação de Cultura de Cozinha Vietnamita.

Até a KFC, primeira cadeia a abrir portas em território vietnamita, registou grandes dificuldades a instalar-se. A marca estabelecida para abrir 10 restaurantes nacionais só foi atingida sete anos depois da abertura da primeira loja.

A solução do gigante produtor do famoso frango frito de Kentucky foi simples e eficaz: mudar o menu para o tornar mais apelativo, numa já lotada indústria alimentar vietnamita. Em abril de 2022, a empresa já tinha, de acordo com a Statista, 153 lojas — a segunda cadeia de restauração com mais estabelecimentos no país.

Mas não terá sido apenas a introdução de novos produtos a atrair o difícil cliente vietnamita. Os preços praticados contam muito e, a metade do preço, uma refeição comprada nos vendedores locais alimentará o dobro das pessoas, segundo o Numbeo.

O fator partilha também se mostra relevante para os especialistas. Enquanto a comida tradicional, essencialmente o frango, é feita para ser partilhada entre as famílias, a dieta predominante em hambúrgueres que os vietnamitas encontram no McDonald’s e Burger King é “individualista” — e parece não ser do agrado dos locais.

Tomás Guimarães, ZAP //

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