O sexto sentido que todos temos é essencial para o bem-estar — e pode ser determinante para a saúde mental

Interoceção é um sentido que muitos desconhecem, mas que consiste na capacidade do corpo humano interpretar os sinais que os seus órgãos lhe transmitem.

Todos aprendemos na escola que os humanos têm cinco sentidos: o tato, a visão, o olfato, o gosto e a audição. No entanto, ouvimos falar ao longo da vida sobre a possibilidade de haver um sexto, associado à intuição. De acordo com a ciência, tal não está longe da verdade, já que é precisamente esta última capacidade que nos ajuda a sentir e a interpretar sinais importantes do nosso corpo, de forma a garantir que ele funciona corretamente. Como? Manifestando fome, sede, calor ou frio — dando “sinais” ao nosso cérebro e alertando-o para a necessidade de fazer algo, como comer, beber, tirar uma camada de roupa e vesti-la.

A interoceção também pode ser importante ao nível da saúde mental, sendo citada em estados de depressão, ansiedade ou distúrbios alimentares. Pode também ajudar a explicar o porquê de muitas destas condições terem sintomas semelhantes, como o sono ou o cansaço.

Apesar de esta ser uma capacidade já identificada e conhecida pela ciência, é ainda um mistério a possibilidade de homens ou mulheres conseguirem identificar com mais facilidade estes sinais interiores. Todos os estudos feitos até à atualidade, tendo por base pessoas cisgênero (que têm em comum o seu género e sexo biológico) tiveram resultados ambíguos. Explorar este tópico é especialmente importante, já que, através das diferenças, será possível melhorar o entendimento da saúde mental e física. Para chegar a dados mais concretos, o site Science Alert combinou dados de 83 estudos que se focaram na interoceção em homens e mulheres, focando-se na percepção do seu coração, pulmões e estomago num conjunto diferenciado de tarefas.

A análise concluiu que, de facto, há diferenças entre homens e mulheres, com elas a serem menos precisas nas tarefas que pressupunham o uso do coração e, de algum modo, os pulmões – isto em comparação com os homens. Estas diferenças também não parecem ser passíveis de serem atribuídas a outros fatores, como o esforço dos participantes durante as tarefas que lhes foram atribuídas, as suas diferenças psicológicos, as diferenças nos seus pesos ou a pressão sanguínea.

A comparação também serviu para encontrar diferenças significativas em tarefas que envolviam os batimentos cardíacos, em outras áreas as discrepâncias são menos visíveis — talvez por existirem poucos estudados a dedicar-se, por exemplo, à percepção dos pulmões ou estomago. Daí que possa ser prematuro dizer qual dos grupos se destaca na percepção deste sintomas.

Ainda assim, os resultados das comparações feitas podem ser úteis para uma melhor compreensão de muitas das condições mentais que parecem ser mais prevalentes nas mulheres do que nos homens a partir de puberdade. Na realidade, muitas teorias já tentaram explicar esta tendência, partindo de fatores como a genética, as hormonas, a personalidade, a exposição ao stress ou às adversidades durante a infância. Com base na interoceção e o seu impacto no bem-estar, será possível, através de mais estudos, também explicar — ainda que parcialmente — o porquê, por exemplo, de mais mulheres sofrerem de ansiedade e depressão do que os homens.

Ainda segundo o Science Alert, tal pode acontecer devido porque as dificuldades com a interoceção podem atingir muitas áreas, nomeadamente funções emocionais, sociais e cognitivas, todas vistas como fatores de risco para muitas doenças mentais. Daí que perceber as diferenças ao nível da perceção entre homens e mulheres possa ajudar muitos problemas de saúde mental, assim como ajudar a identificar os fatores que afetam a interoceção.

ZAP //

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